Stone Temple Pilots e Bush fazem público reviver o pós-grunge no Rio

A nostalgia anos 90 tomou conta em dose dupla do Km de Vantagens Hall no Rio de Janeiro na noite de sexta-feira (15/02). No palco da casa na Barra da Tijuca, duas das bandas habitués das FMs rock daquela década (na verdade até hoje): o Stone Temple Pilots e o Bush. Dois exemplares do “Eddie Vedder Institute”, afinal, ambos os vocais, sobretudo o do segundo, guardam semelhanças com o do vocalista do Pearl Jam. Eram os primeiros filhotes do rock de Seattle, o chamado pós-grunge que reverberaria até a virada do milênio.

Na plateia, um público formado majoritariamente por “jovens coroas”, na faixa dos 35 aos 44 anos, ou seja, a turma que curtiu as atrações da noite quando eram novidades na cena musical. As duas bandas vêm de reuniões após rupturas, trocas de integrantes e lançaram álbuns de inéditas recentemente: o Bush, “Black and White Rainbows”, de 2017 e o Stone Temple Pilots um disco que leva apenas o nome da banda, de 2018.

Intitulada Revolution Tour -ou Revolución, como adaptaram na América Latina – a turnê conjunta no hemisfério norte ainda contava com o The Cult. Por aqui, o Republica – banda de São Paulo que faz um hard rock com fortes influências dos headliners, uma escolha óbvia – aqueceu os motores para as quase três horas de rock que viriam a seguir.

Sem o vocalista icônico, STP propõe viagem no tempo

Stone Temple Pilots e Bush fazem público reviver o pós-grunge no Rio – Ambrosia
O Stone Temple Pilots voltou desfalcado ao Brasil oito anos depois da última vinda. Por mais que saibamos que os irmãos Robert e Dean DeLeo são os donos da bola, é impossível dissociar o STP da figura icônica de Scott Weiland, que fora expulso da banda em 2013 e faleceu em 2015 por overdose. A ordem é tocar o barco como se nada tivesse mudado. É aí que entra o vocalista Jeff Gutt, cujo trabalho é justamente manter a impressão de que está tudo em seu devido lugar. Ele foi escolhido para substituir Chester Bennington (do Linking Park, com quem gravaram um EP em 2013) para o renascimento do conjunto em 2017.

Musicalmente nada mudou. A banda entrou no palco ao som de “Speed of Life”, de David Bowie, e já detonou o petardo “Wicked World”, com uma plateia completamente a seu favor. Apesar de serem a primeira atração, a maioria na casa parecia estar ali para vê-los, embora alguns atrasados tenham chegado ali pela quarta música, provavelmente presos àquela crença de que “o show vai atrasar”, coisa que não tem acontecido em apresentações de bandas internacionais.

Jogando para a plateia, o repertório se concentrou na fase áurea da banda, os três primeiros discos – Core (1992), Purple (1994) e Tiny Music…Songs From The Vacation Gift Shop (1996). Até porque, os últimos trabalhos não são memoráveis, como é o caso dos parceiros de turnê. Após sacudirem o público com a dançante “Big Bang Baby”, Robert DeLeo agradeceu, disse que é bom voltar ao Brasil, ressaltando a nossa paixão por música. Uma jam de baixo e guitarra dos irmãos antecedeu “Big Empty”, do álbum de 1994, com ótima recepção do público, assim como a seguinte, “Creep”, clássico do disco de estreia, que foi cantada com entusiasmo pela plateia.

“Cantem comigo a próxima música se souberem a letra”, foi a deixa de Jeff Gutt para o momento mais esperado da noite, o maior hit da banda, “Plush”. O vocalista vez uma versão voz acompanhada de guitarra, que na segunda estrofe ganhou baixo e bateria, mas ainda mantendo o andamento de um eletroacústico. E o vocalista deixou o coro da plateia assumir o protagonismo no refrão, para em seguida finalizar a música fiel à versão original.

Em meio ao greatest hits, uma brecha para mostrar uma música nova, “Meadow”, que, se não empolgou muito, pelo menos manteve a atenção dos fãs. “Interstate Love Song”, foi outro ponto alto da apresentação. Ainda cavaram espaço para mais uma do disco novo, “Roll Me Under”. Nessa, para não deixar o clima esfriar, Jeff correu para o meio da plateia e foi até o meio da barreira que separava a pista premium da pista comum, para um contato (bem) direto com os fãs. Sem pausa para bis, a banda encerrou os trabalhos com uma trinca de clássicos: “Dead and Bloated”, “Trippin’ a Hole in a Paper Heart” (com aquele riffezinho antes do refrão que lembra muito “Dancing Days” do Led Zeppelin, ídolos dos integrantes) e “Sex Type Thing”.

O STP faz um show competente que assegurou a alegria tanto dos fãs que tiveram a felicidade de estar no Circo Voador em 2010, ou no SWU em 2011 – ocasiões com Weiland ainda à frente – quanto dos que não tiveram a oportunidade de conferir um show dos americanos. A competência dos três membros originais garantem a experiência, mas, além de presos à nostalgia – não lança nada relevante desde 1999 – ainda fica aquela sensação de estarmos assistindo a um cover de luxo.

Jeff Gutt se esforça tanto para ser um frontman à altura do original que cai na armadilha de imitá-lo. Não só a voz, mas os trejeitos, o chacoalhar no palco, e até no estilo de cabelo e vestuário, fora que o tipo físico também é o mesmo. Ao contrário do Alice in Chains, que buscou um vocalista que apresenta sim uma similaridade vocal incrível com Lane Stanley, mas tem personalidade e visual próprios, os irmãos DeLeo foram atrás de um autêntico cover. A ideia de uma volta no tempo está sendo levada muito ao pé da letra pelo quarteto.

“Eddie Vedder britânico” volta ao Rio sem economizar na entrega

Stone Temple Pilots e Bush fazem público reviver o pós-grunge no Rio – Ambrosia

Stone Temple Pilots e Bush fazem público reviver o pós-grunge no Rio – Ambrosia

Quando o Bush estourou, em meados dos anos 90, a semelhança com o som de Seattle, sobretudo o Pearl Jam, era tanta que muita gente se surpreendeu ao saber que se tratava de uma banda britânica. De fato, o quarteto era fora da curva, uma vez que na época em que lançaram o primeiro disco Sixteen Stone, que os catapultou para a fama, fervilhava no Reino Unido o Brit Pop encabeçado pelo Oasis e o Blur.

E nem parece que se passaram quase 22 anos da última visita, pelo menos não ao para o vocalista galã Gavin Rossdale, aparentando uns quinze anos a menos do que os seus 53. O líder do Bush levou o show nas costas abusando de seu carisma e procurando o máximo de contato com o público, até desceu ao encontro de uma fã no gargarejo que segurava uma placa onde se lia KISS ME. O Bush encontrou uma plateia um pouco menor da que estava presente no show do Stone Temple Pilots, mas não faltaram hits para manter a empolgação dos que ficaram.

Adentraram o palco ao som de “Battle Without Honor or Humanity” (que toca em Kill Bill Vol.1) no sistema de som e já atacaram com a pedrada “Machine Head”, grande hit do début de 1994. Logo na sequência outro grande sucesso, “The Chemicals Between Us”, do álbum The Science of Things (1999). A turma de Rossdale foi um pouco mais flexível em relação a músicas recentes do que os colegas do STP. Foram três no total: “This is War”, do último álbum, “The Sound of Winter”, do The Sea of Memories de 2011, e até uma do disco Golden State de 2001, quando a poeira do sucesso já estava baixando, “The People That We Love”.

Rossdale lembrou das mais de duas décadas que levou para voltar ao Brasil. “Estamos muito felizes por estar aqui. Foi uma longa jornada até conseguirmos voltar”, disse ele, protocolar porém simpático. “Swallowed” foi outro hino que fez o público vibrar e cantar junto. Em “Little Things”, o vocalista foi ainda além do que fizera Jeff Gutt horas antes: desceu do palco, e correu até mergulhar na plateia da pista comum (para desespero dos seguranças). E lá ficou até o fim da música. Como consequência da estripulia, teve a camisa regata cavadíssima rasgada. Mas isso serviu para exibir o físico “definidinho”.”Não ligo para dinheiro, importo-me com duas coisas: as pessoas que amo e minhas camisetas”, brincou após jogar a peça de roupa para a plateia.

Na volta eles atacaram de “Come Together” dos Beatles. Assim como o STP, o Bush dispensou o mise-en-scène de sair e voltar para o bis. Rossdale sozinho no palco anunciou que tocaria uma canção de muito significado em sua trajetória e pediu para que todos acendessem os celulares e o acompanhassem. Com as luzes de cena desligadas, sob a constelação que se formou na casa, iniciou o grande hit da banda “Glycerine” com voz e guitarra em plena comunhão com a plateia. “Comedown”, também do primeiro disco, foi o encerramento do show e da sessão dupla de rock noventista. Na despedida, Rossdale desceu e foi para o abraço dos fãs no gargarejo.

Hoje o Bush é só metade inglês, já que o guitarrista Chris Traynor e o baixista Corey Britz, que entraram em 2002 e 2010, respectivamente, são americanos. Como Rossdale é a alma do grupo, os dois desfalques da formação original nem são sentidos pelo público (o batera Robin Goodridge é o outro remanescente). Se a banda não chega a ser considerada um nome essencial na história do rock, é inegável a entrega do frontman durante a apresentação. Até nisso ele procura se assemelhar com a sua inspiração, o vocalista Eddie Vedder. Para um grupo que muitos apostavam que não passaria na prova do segundo disco, o Bush até que foi bem longe.

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