Em 30 de novembro de 1979 era lançado “The Wall”, um dos discos mais emblemáticos da carreira do Pink Floyd. A origem da ideia se deu dois anos antes. Durante um show da turnê de divulgação do álbum “Animals”, em 1977, um fã gritava insistentemente para que a banda executasse a música ‘Money’ de “The Dark Side Of The Moon”. Roger Waters respondeu com uma cusparada. Refeito da fúria que o acometeu naquele momento, o líder, baixista e vocalista da banda refletiu sobre o que fez, o que estava fazendo e como estava lidando com sua vida de rock star. Desse período de autoanálise surgiu a ideia de “The Wall”.
Tratava-se de um disco conceitual, seguindo a linha art rock dos três antecessores, sobre um roqueiro no auge da fama, mas atormentado por fantasmas do passado como a perda do pai, ainda no ventre materno, a super proteção materna, o rígido sistema de ensino britânico dos anos 50, casamento falido. Isso somado aos efeitos colaterais do estrelato. Acreditando que a única forma de se defender das mazelas do mundo real é o isolamento, ele se refugia atrás de um muro imaginário que dá título à obra.
O projeto The Wall era ambicioso e abrangia, além do disco, um megashow que rodou alguns países entre o final de 1980 e inicio de1981, e um longa metragem que seria lançado em 1982, com direção de Alan Parker. É um disco, de certo, autobiográfico, mas há toques da trajetória de seu amigo Syd Barrett, cofundador e ex-líder original da banda. Barrett havia aparecido no estúdio em que a banda gravava “Wish You Were Here”, em 1974. Estava irreconhecível. Careca, com sobrancelhas raspadas. Aquilo impressionou muito Waters. Tanto que ele criou a cena na versão cinematográfica em que o personagem raspa todos os pelos do corpo.
Pode-se dizer que “The Wall” foi o início do fim do Pink Floyd. O tecladista Richard Wright foi demitido por Waters, mas durante a turnê foi convocado como músico de apoio. Em compensação foi ali que a parceria de Waters com David Gilmour se deu da forma mais certeira. O disco não seria o sucesso que foi se não fossem as intervenções criativas de Gilmour. Waters caprichou no conceito, mas deixou a desejar na melodia em vários momentos. Nesse quesito, algumas estavam à beira de um desastre. Foi o guitarrista que acertou os ponteiros e ainda criou as músicas ‘Comfortably Numb’ ‘Hey You’ e ‘Run Like Hell’, que se tornaram hits. As faixas ‘Vera’ e ‘Bring The Boys Back Home’ eram o ponto da discórdia. Gilmour achava-as excessivas e desnecessárias ao todo, mas Waters não abria mão delas integrando o álbum.
“The Wall” como disco conceitual possui relevância incontestável, não só no que tange ao drama humano, mas por usar isso como veículo para atacar ferozmente diversas mazelas da sociedade contemporânea. Uma obra que gera identificação mesmo em quem não é entusiasta de rock ou menos ainda de ópera, por ser, assim como a própria existência, agressiva, brutal e ao mesmo tempo poética e singela. O Pink Floyd se separaria quatro anos depois. O canto do cisne foi “The Final Cut”. Gilmour, Wright e o baterista Nick Manson ainda se reuniriam para gravar mais dois discos em 1987 e 1994.
Roger Waters ainda a revisitaria posteriormente sua obra mais audaciosa. Primeiro em 1990, na ocasião da queda do muro de Berlim. Depois, de 2010 a 2013 na turnê que passou pelo Brasil em março de 2012. “The Wall” configura no panteão das óperas rock essenciais, junto a “Tommy” do The Who e “Jesus Cristo Superstar”.
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