Enterrado Vivo: a claustrofobia de uma política externa

Enterrado Vivo: a claustrofobia de uma política externa – Ambrosia

Numa perturbadora escuridão, um homem acorda e percebe estar preso dentro de um local com uma mordaça. Ao conseguir pegar um isqueiro dentro de seu bolso e com o oxigênio rarefeito, ele se desespera ao notar que se trata de um caixão enterrado. É assim que começa o mais do que tenso Enterrado Vivo, novo longa do espanhol Rodrigo Cortés, que abre seu filme salientando apenas o desespero de seu protagonista, sem nos mostrar as razões e os porquês. Paul Conroy (defendido com vivacidade inédita do galã Ryan Reynolds) é um motorista de caminhão, prestador de serviços do Iraque, que é atacado por um grupo terrorista e acaba sendo enterrado vivo, com apenas um isqueiro, um cantil e um celular, deixado propositalmente pelos terroristas.

O filme é integralmente passado dentro daquele caixão, mostrando a luta de Conroy para ser salvo, ou seja, a ação é pautada na oralidade de um celular. Mas não pensem que a narrativa enfraquece com isso. Cortés alinha sua trama de forma que o espectador tome o lugar de seu protagonista, e nisso o filme é simplesmente genial. Somos enterrados juntos com Conroy e a busca por sobrevivência passa a ser tão real que na sessão que assisti (para jornalistas) percebi muita gente pulando,literalmente, da cadeira. Mas o grande mérito deste filmaço é dimensionar seu até então absoluto plot para uma colérica crítica a até então desapercebida relação política dos EUA com sua força de trabalho secundária no Iraque. Não há nenhuma concessão nesse enfoque e o roteiro de Chris Sparling explora muito bem a dramaticidade dessa dicotomia.

Tecnicamente muito bem feito – a fotografia de Eduard Grau faz milagres dentro de suas desafiantes limitações -, Enterrado Vivo pulsa adrenalina, mas exala reflexão, resultando num contundente retrato da crueza de uma política externa nada globalizada. Um filme verdadeiramente de impacto. E sob uma obscura ótica espanhola.

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