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"A Floresta", um sci-fi ao melhor estilo Stephen King

A realidade. Ela sempre ali, próxima, dentro de nossa mente, lembrando-nos das nossas limitações. Ninguém escapa, mas há momentos em que a arma poderosa que temos, a imaginação, consegue nos permitir correr em liberdade através de mundos e universos desconhecidos. A fantasia nasce daí, e nela nos refugiamos ao longo da vida, alimentando-nos com séries de televisão, filmes, videogames, livros e histórias em quadrinhos.
Ultimamente, é notório o interesse em narrativas de sci-fi e fantasia onde um grupo de jovens, na idade de lidar com seus habituais problemas de autoestima e hormônios, devem resolver um perigoso mistério que desafia toda lógica humana. Nestas narrativas os adultos são antagonistas ou meros coadjuvantes, nêmesis, que irão explorar e utilizar a juventude dos protagonistas em seu benefício, por incredulidade ou indiferença. Nos quadrinhos, muitos autores seguiram este esquema, seja com os super-heroicos, como foi em Avengers Arena e sua sequência, Avengers Undercover ou em narrativas baseadas em séries como Lost. Nesta linha de mistério e intriga temos Morning Glories de Nick Spencer Joe Eismao inédito Locke & Key de Joe Hill e Gabriel Rodriguez, e os dois volumes de A Floresta de James Tynion IV e de Michael Dialynas, que a Devir trouxe para o público brasileiro.
E o que temos em mãos, nesses dois volumes já lançados pela editora brasileira, é uma amostra do que a BOOM! Studios traz como comics teen. Narra quando o Instituto Bay Point em Milwaukee, com todos os seus alunos e professores, desaparece e acaba indo a incontáveis anos-luz de distância, muito além das fronteiras do universo conhecido, 513 pessoas se veem no meio de uma selva antiga e primitiva. Um grupo inicia a exploração para encontrar respostas, e que enquanto as paredes do Instituto Bay Point passam pelo drama quando os professores tentam controlar a nova situação, opondo-se às iniciativas do Conselho Estudantil, e provocando várias crises sociais.

O primeiro volume, A Seta (2016), apresenta a escola e a ambientação naquele ambiente alienígena, os personagens e as tensões já estabelecidas. Com as relações entre o corpo docente e o corpo discente se dissolvendo rapidamente em violência, cinco estudantes tomam a decisão de enfrentar o deserto extraterrestre e chegar ao coração da A Floresta; onde Adrien Roth, um nerd arrogante, está convencido de que precisam achar uma coisa importante por lá. 

O segundo volume, O Enxame (2018), continua o que foi apresentado no primeiro. Presos em um planeta estranho e inóspito, professores e alunos do instituto Bay Point de Milwaukee continuam sua luta para sobreviver. Um grupo de vários alunos foi explorar os bosques que cercam a escola e se deparam com moradores. Mas esses terráqueos deslocados podem ser confiáveis? Enquanto isso, de volta à escola, as coisas se tornaram mortais quando um dos instrutores declarou a lei marcial. Sim, colocar o time de futebol no comando da lei e da ordem é uma ótima ideia! É outro exemplo de como os humanos às vezes podem ser os piores monstros de todos.
A Floresta (The Woods) foi o quadrinho de maior sucesso da Boom! em 2014 e é a série mais popular da editora, logo atrás de seu best-seller Lumberjanes. No final do ano passado, a Universal Cable Productions, da poderosa NBC, adquiriu os direitos de A Floresta para produzir uma versão para a televisão. A HQ é marcada como um bom terror adolescente de Stephen King, mas embora haja um pouco de violência, é muito mais angustiante do que assustadora. Longe de ser um sucessor de The Walking Dead, fundamentado na sobrevivência em um ambiente hostil e no desenvolvimento de personagens. A série se centra também em como aquele grupo sairá daquele lugar e o autor, James Tynion IV, aborda com simplicidade e agilidade a narrativa, sem grandes reflexões, sem rodeios desnecessários.
A referência ao novo ambiente é o que mais sobressai na série. O roteirista cria um mundo (um satélite como nossa Lua, para ser mais exato) bem versátil e rico em todo tipo de vegetação e ameaça extraterrestres. Mesmo parecendo com a Terra, seres de aparência inusual dos que conhecemos, por exemplo, o equivalente de um mosquito é extremamente perigoso. E sem revelar muito, ao longo dos dois volumes, vamos descobrindo gradualmente sobre o lugar, enquanto nada é mostrado sobre o propósito de estarem ali, só um mistério sobre outros seres que vivem ali, apresentando no final, em ambos volumes, um cliffhanger, o que faz o interesse crescer mais no universo criado por Tynion.
Outro aspecto que surpreende é o bom uso dos arquétipos ou, em geral, do bom desenvolvimentos dos personagens. E embora sejam apresentados no início como estudantes convencionais de um instituto: o nerd entusiasta de computador, o desajustado, o representante da diretoria maduro e responsável, à medida que as páginas passam notamos que não é bem assim, e somos surpreendidos por mudanças que seguem os estranhos momentos que vivem….

Temos um roteiro linear, com boas surpresas, mas não algo para considerar um grande trabalho. Já em relação a parte gráfica, o estilo é similar ao roteiro, não há floreios e é baseado em traçados simples, com os quais algumas faces um pouco caricaturadas. Embora possa mostrar bem as emoções dos personagens, às vezes os rostos parecem deformados e não podemos distinguir corretamente os homens das mulheres. Para o cenário e ambientação, Dialynas, faz um trabalho correto, compondo ilustrações florestais dignas da paisagem alienígena e criaturas assustadoras.
Quanto à edição, a Devir compila as edições em um volume de 112 páginas coloridas em  papel couché, capa brochura. Como extras, as várias capas alternativas  e esboços. Em suma, uma série a ser considerada, para aqueles que são atraídos pelo assunto e, apesar de não ter inventado nada de novo, se desenvolve de forma significativa e a equipe criativa cria as bases para uma história interessante e atraente, conseguindo compor uma narrativa fantástica que nos leva a bons momentos de leitura.

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