Quando se fala em Terrence Malick, a primeira coisa que vem à mente é existencialismo. O cineasta americano, que não costumava filmar com frequência, parece estar passando por uma fase bastante profícua, com três filmes lançados em cinco anos. Isso para quem ficou 20 sem mandar as câmeras rodarem). Além de questões existenciais, também se deve associar o cineasta ao contemplativo. Seus planos, movimentos de câmera, o andamento das cenas, isso é imediatamente reconhecido por quem já está bastante familiarizado com sua obra. E alguns diretores até gostam de emular essa linha conceitual. Um deles é Zack Snyder, o que fica bastante explícito em Homem de Aço.
Desta vez, parece que Malick, em seu novo filme, Voyage of Time: Life’s Journey, elevou à enésima potência tanto no plano existencial quanto no contemplativo. O filme é uma exposição narrada pela atriz Cate Blanchette que vai buscar na criação da vida uma possível resposta para questões suscitadas pela humanidade que permanecem sem respostas. As principais, as atávicas “Quem sou eu?” “De onde vim?” “Para onde vou?” “Se é que vou”. A proposta é uma viagem no tempo pela história do universo. Ali, testemunhamos o nascimento das estrelas e a evolução da vida na Terra, nos maravilhamos com a grandeza do Sol e dos planetas e mergulhamos nas profundezas dos oceanos, onde criaturas incandescentes flutuam na escuridão.
As sequências são de uma perfeição técnica que nos faz crer que estamos, de fato, assistindo um registro da formação da galáxia e do planeta. Na verdade, o filme parece uma versão prolongada da sequência mostrada em “A Árvore da Vida”, em que a trama é interrompida para que seja mostrada a grandiosidade do universo, logo após o cristão interpretado por Brad Pitt (que assina a produção deste aqui) se questionar sobre por que Deus enviou um castigo em forma de tragédia familiar.
Aqui também há paralelismo, quando contrasta imagens cruas, de países pobres em formato de tela 4×3 e qualidade de videotape com o espetáculo da vida mostrada com toda magnitude, amparado por uma bela trilha sonora. Se “Voyage of Time” peca, isso se dá em alguns momentos em que se excede na pretensão, e em outros lembra muito aqueles documentários da Discovery Channel sobre a pré-história. Mas no todo, é um belo espetáculo, com momentos de abstração que chegam a ser lisérgicos. Como a obra de Malick, este não é um filme fácil de digerir por quem não está acostumado com a linguagem do cineasta. Contudo, é um pertinente exercício cinematográfico, que traz deleite aos olhos e estimulo à reflexão.