[Daniel Braga é nosso ilustre autor convidado]
Esta é a segunda parte da série de artigos “Heróis Reunidos: Liga da Justiça”, caso ainda não tenha lido a primeira parte, não perca mais tempo e confira “A Era de Ouro”.
Era de Prata (1956-1968) – Surge a Liga
Depois do aparecimento do Flash, veio o novo Lanterna Verde, também com um visual e origens atualizadas para a “era atômica”. Isso também se deu com o Gavião Negro, que apesar de parecer com sua versão antiga tinha uma origem completamente diferente e finalmente o Atom (aqui no Brasil Eléktron) que não só tinha um novo design como em vez de ser um baixinho brigão com uma força sobre-humana passava a ser um cientista com o poder de diminuir até 15 cm de tamanho. O gênero dos super-heróis havia retornado com força total. Julie Schwartz iniciou a Era de Prata repensando os heróis, tornando os personagens com o um forte embasamento científico, trazendo a ficção científica dos anos 50 para os “gibis”. O Lanterna Verde, por exemplo, ganha seu anel de uma poderosa raça de alienígenas benfeitores, sendo que sua versão anterior era mais um anel mágico. A mudança espelhava o que a América estava vivendo por assim dizer no começo da corrida espacial. Após o tremendo sucesso de Julie com o retorno dos super-heróis, a coisa mais natural seria se perguntar: Porque não reinventar a Sociedade da Justiça?
Mas apesar de usar os mesmos nomes para os heróis, Julie não achou a palavra “Sociedade” tão dramática pro efeito que ele estava conseguindo, e além do mais, era um fã de beisebol, esporte bastante popular na época e por isso a chamou de Liga da Justiça como as ligas nacionais americanas. Então em 1960 todos os anúncios começam chamar atenção para o evento em The Brave and the Bold #28: “os maiores super-heróis reunidos para lutar contra Starro o conquistador”, e na capa figuravam cinco deles (Batman e Superman seriam a surpresa da história) presos em tentáculos de uma estrela-do-mar alienígena em uma só revista e por apenas dez centavos de dólar causou a maior algazarra entre os fãs. E assim como por Julie e seu novo Flash, se não fosse pela Liga da Justiça provavelmente não haveria mais revistas de super-herói. A Liga trouxe uma verdadeira renascença para o seu gênero.
Stan Lee conta na sua autobiografia que seu editor na Timely Comics, Martin Goodman, estava jogando golfe com um alto executivo da DC e que esse lhe disse que eles tinham uma revista chamada Justice League of America e que estava vendendo muito bem. Martin sem demora voltou pro escritório e disse “Stan, a National tem um gibi de um time de heróis que está bem de vendas, porque não fazemos uma revista assim?” E então, Lee e Jack Kirby criaram o Quarteto Fantástico. Ainda sim, era um risco, pois a futura Marvel fazia revista de monstros na época e por isso um dos membros do grupo era o Coisa. Notoriamente nas primeiras edições um monstro como os outros com seu nome (The Thing) era a saída de emergência da editora. No caso de o gênero de super-heróis não dar certo, era só dizer que era uma revista de monstros o tempo todo.
Existe algo de especial no papel da Liga, de um time se trata de algo que faltava na cultura da época, especialmente na norte-americana. Existem vários heróis na história ocidental da humanidade que são indivíduos: Odisseu, Rei Arthur, Bewoulf que representam com maestria o herói lobo solitário “somos nós contra o mundo”. Esta é uma incrível metáfora que ainda existe firmemente na cultura do ocidente, especialmente nos Estados Unidos. Ela permeiava inteiramente os filmes de detetive, de faroeste e a maioria das HQs da época. Mas, por outro lado, há idéia da Liga da Justiça: Como um Odisseu com 10.000 navios partindo para resgatar Helena contra os Troianos. Ou Jasão e os Argonautas, Arthur e os cavaleiros da távola redonda, Carlos Magno e seus Paladinos, Os Mosqueteiros de Dumas, os Doze Condenados, (famoso filme da Segunda Guerra). Essa idéia parecem sugerir aos estadunidenses que os heróis solitários já não bastam mais. O inimigo fascista não foi derrotado por eles sozinhos, com a mitologia do “eu contra o mundo”. Então, em seu lugar, surge uma liga de super-heróis e a idéia de que talvez juntos assim possam assim derrotar as grandes forças do mal.
Para reviver essa noção ao grupo, como era nos anos 40 com a Sociedade da Justiça Original, o editor Julie Schwartz fez a escolha óbvia de chamar de volta Gardner Fox para assumir a Liga da Justiça. Garden que havia estado nos anos 40 e fora um dos principais roteiristas da Sociedade. Nos anos finais da Era de Prata, durante os anos 60, ele começou a criar histórias mais diretas, com menos ações separadas. –“ Um vilão terrível aparece, um enorme perigo acontece na terra. Precisamos de todos os heróis para lidar com isso, vamos contar a história”.
Era uma reunião de heróis em fantasias diferentes com habilidades e poderes diferentes. E para muitos, ninguém retratava isso melhor do que Gardner Fox. Quando sua geração crescera, havia filmes de faroeste e seus protagonistas, os caubóis, eram sempre no fundo o mesmo cara, tinham sempre os mesmos valores. Só mudava a cor do chapéu ou do cavalo.
O mesmo se dava com a Liga de Garden: Apesar de respeitar as diferentes personalidades geradas em suas revistas solos, quando juntos, heróis como Flash e Lanterna eram o mesmo cara, mas com poderes diferentes. Era como se eles sacrificassem essas diferenças em nome de um bem maior, como soldados de uma tropa. E para o público infantil isso era muito reconfortante que fosse assim, daí o imenso sucesso de vendas. Os episódios que deixavam Garden pouco a vontade, mas mesmo assim ele os fazia (mais a mando da linha editoria) eram do tipo “Ei, olha, eles acham que o Arqueiro Verde é um traidor, que está acontecendo?” Salman Rushdie, o conhecido escritor Versos Satânicos disse uma vez que quando criança se inspirou na Liga da Justiça porque ela tinha um sentimento de inclusão, parecia que qualquer um poderia fazer parte do grupo, que suas portas não estavam fechadas para ninguém: conquanto você fosse uma pessoa de boa índole e bom coração poderia fazer parte da Liga da Justiça. Os Membros do grupo original eram a tríade antiga Superman, Batman e Mulher-Maravilha com os renovados Flash, Lanterna Verde, Caçador de Marte e Aquaman.
Perspectiva sobre os membros originais na Era de Prata
Pense nas histórias do primeiro super-herói: Elas foram concebidas num período entre duas grandes guerras. Antes os Norte-Americanos achavam viver um progresso infinito até a chegada das trincheiras da Primeira Guerra, o espírito coletivo do mundo teve que enfrentar o fato que não venceu o barbarismo com o progresso, não venceu escuridão interior. Surgem, portanto, nessa época, filosofia existencialista e também histórias de HQs como Superman. “Nossa redenção não virá daqui” diz o mito “em vez disso, ela vem de fora”. Kal-El é uma figura messiânica moderna, ele vem de outro mundo, com vários poderes e salvando vidas. O ultimo filho de Krypton em sua primeira encarnação tem vários poderes e habilidades como super-força, super-velocidade, invulnerabilidade, sentidos aguçadas, visão de raio x, visão de calor… Você olha para ele e pensa: “Tem alguma coisa que ele não possa fazer?”.
O nome de sua identidade, um pacato repórter na cidade de Metropolis, é uma brincadeira com isso, como sugere sua primeira revista “…What Clark Kent (Can’t), Superman can!” – o que Clark não pode (fazer), Superman pode!.- O personagem era visivelmente uma catarse para Grande Depressão nos EUA. Ele enfrentava todos os empresários inescrupulosos, senadores corruptos, gangsters que vendiam segurança para famílias e comércio, gênios cientistas egóicos e moralmente irresponsaveis e os fazia em pedaços. Ia contra linchamentos, violência doméstica de maridos contra esposas e outros tipos de repressão. O personagem original criado por Joe Shuster e Jerry Siegel era um campeão dos fracos e oprimidos, lutando principalmente pela justiça social. Mas também era bruto e violento, apesar de não ter a lógica fria de Batman. Apenas no final de 1940 que a editora definiu uma forte moral e comportamento sólido para o herói. Ao longo dos anos 40, ganhou a habilidade de voar. O Homem de Aço que chega a Era de Prata recebia um tipo de habilidade ou um novo aumento no nível de seus poderes físicos de acordo com o que o roteirista precisasse para contar uma história: é sem dúvida o mais forte dos super-heróis, sua velocidade vôo é absurda e passa a contar com visão telescópica, microscópica, super-sopro, sopro congelante, capacidade de sobreviver no espaço ou embaixo d’água e até memória fotográfica… Era óbvio que o Superman da Era de Prata teria que ser membro da Liga.
O que dizer sobre Batman que já não foi dito? Podemos apenas afirmar sua enorme popularidade: o Vingador do mal, o cruzado encapuzado, Cavaleiro das Trevas, o grande protetor de Gotham City. Seus pais foram mortos diante dele quando criança e ele jura trazer todos os criminosos à justiça e garantir que ninguém teria que suportar a mesma tragédia que marcou sua vida.
Na versão inicial de Bob Kane, com fontes como o Sombra e Zorro é terrível e soturno, é o maior detetive do mundo, grande cientista, mestre da fuga, de disfarces, atingindo a perfeição física e se tornado um dos maiores artistas marciais, além sua identidade secreta ser o herdeiro Bruce Wayne e possuir bilhões de bilhões de dólares em sua fortuna.
Os fãs se identificam diretamente com Batman pelo fato dele ser mais “realista” que os outros super-heróis, ele não tem super-poderes. Sua maior habilidade é sua humanidade e esta é a razão maior de sua popularidade: Sua iconografia é a de um demônio medieval, as asas de morcegos, os chifres, ele parece com algo que é sombrio e mau, sua origem vem de um assassinato, mas ainda sim ele está do seu lado.
Então você tem a fascinação pelas trevas e a confiança que você tem em heróis. Mesmo com a exigência da editora de torná-lo menos sombrio, tornando suas histórias mais leves, mudando seu visual e adicionando Robin o menino prodígio como seu parceiro na luta contra o crime, Batman ainda era fascinante, pois ele era essencialmente um Sherlock Holmes moderno: Tudo que ele fazia era resolver mistérios das formas mais interessantes. O mais popular dos heróis também fundou o grupo.
A primeira heroína feminina é Diana, uma princesa amazona da esquecida Ilha Paraíso que vêm para os Estados Unidos defende-los do exército de Ares e da guerra. A Mulher-Maravilha é a transição perfeita advinda dos antigos mitos. Existem citações das amazonas na tradição de Homero que se referem a uma tribo de mulheres que viviam sem homens e eram formadas de guerreiras muito eficientes. Então, apesar de descrita como tendo a eterna beleza de Afrodite e a grande sabedoria de Atenas, ela tinha a superforça de Hercules e a supervelocidade de Mercúrio. Além disso, ela tinha braceletes de metal que defletiam balas, um avião invisível e um laço dourado que se alguém fosse preso por ele era forçado a dizer a verdade, uma idéia criada pelo próprio inventor do detector de mentiras, o psicólogo e inventor William Moutan Marston.
Sob a alcunha de “Charles Moutan” criou a heroína, pois achou que deveria haver uma personagem-modelo para garotas, que abriu a porta para outras super-heroínas tanto na DC quando em outras editoras. Alisando as primeiras histórias da personagem alguns historiadores insistem em ver implícitas sugestões de sadomasoquismo por parte do autor (um poligâmico que vivia ao mesmo tempo com três mulheres). Um dos exemplos dados é o fato da princesa perder seus poderes quando seus braceletes são amarrados juntos por um homem. Independente disto, a Mulher-Maravilha foi sem dúvida um marco nas HQs a perdurara até hoje. Sua presença na Liga era certa.
Flash, o homem mais rápido do mundo, pode se mover a velocidades próximas a da luz pode chegar antes que uma bala em seu alvo, subir prédio correndo, cruzar oceanos antes de tempo de afundar, correr em círculos e criar um tornado… Ele tem controle total sobre suas moléculas, não é só uma questão de correr. Ele pode vibrá-las tão rápido permitindo passar por outras moléculas de objetos sólidos como paredes e projéteis. O antigo Flash era o sósia perfeito de Hermes ou Mercúrio dos Mitos Antigos. Você o identifica rapidamente quando vê o capacete com as asas a alusão que se refere ao Deus Mensageiro do Olímpo. O mais interessante da nova versão não usa capacete, mas na altura de suas orelhas lá estão elas, as asinhas estilizadas em protetores de ouvidos. Uma das histórias que se contam sobre o surgimento das Olimpíadas diz que começaram quando Hermes e Herácles apostaram uma corrida.
Assim como eles, os Flashes e Superman irão apostar várias corridas ao longo dos anos, para ver quem é o mais rápido. Isso nos aproxima bastante da equipe, afinal, a competição olímpica pode ser vista uma catarse para se evitar guerras entre povos. Em vez de nos matarmos pra ver quem é o melhor, competimos amistosamente. Mas como sabemos sobre a velocidade, tanto para o Flash quanto para nós, possui um lado ruim: Você pode tomar decisões precipitadas se seguir em frente sem pensar o tempo todo. A responsabilidade de cada gesto do herói está diretamente ligada a sua velocidade de ação e reação. Portanto, para isso, o personagem tinha uma responsabilidade em suas ações na mesma proporção de sua velocidade. Talvez por isso o cientista policial Barry Allen, que depois de ser vítima de um relâmpago em seu laboratório químico e, portanto adquire assim seus poderes, era dotado de uma forte moral e senso de dever e acabava por criar as mais criativas formas de utilizar seus poderes numa alusão clara sobre as qualidades que uma pessoa deve cultivar para se auto-superar e o esforço direto para isto. Não é a toa que Flash se tornou tão popular na Era de Prata, salvando os quadrinhos de heróis de se extinguirem. Vários roteiristas e artistas ao longo das eras como Carmine Infantino, George Pérez, Mark Waid, Bruce Timm e recentemente Darwyn Cooke da premiada série que virou desenho animado Liga da Justiça: A Fronteira Final realmente se apaixonam pelo personagem em algum nível, diretamente ou indiretamente como mentor e modelo para o futuro Flash III, Wally West. Impossível conceber uma Liga sem ele.
Lanterna Verde, o cruzado esmeralda, membro de uma poderosa força policial interplanetária, escolhido entre os terráqueos por ser destemido e por sua honestidade. Uma versão moderna de Aladim, com sua lâmpada e anel mágico, usando o ultimo para criar qualquer coisa que pudesse imaginar. O anel é uma forte imagem mítica, presente em diversas histórias, lendas e mitos presente desde, no mínimo, a época de Platão. O filósofo grego escreveu todo um mito sobre em torno do personagem chamado Gyrges que possuía um anel com poder de invisibilidade, de conquistar e corromper.
A mesma imagem se transporta para Aladim, para círculo nórdico revivido nas operas de Wagner, para a obra de Tolkien… Aquele anel de poder que fará tudo que for sua vontade, atendendo tudo o que ele desejar, como ter um gênio da lâmpada ao seu serviço. Isto também é, ao mesmo tempo, um tipo de armadilha: se você pedir a coisa errada, as conseqüências serão terríveis.
Sendo uma reformulação do primeiro Lanterna Verde da Era de Ouro, o personagem ganhou um tema mais científico para a época. O original tinha uma Lanterna mística e forjou seu anel a partir dela. Além disso, era ineficaz contra qualquer coisa de madeira. Já a energia verde do novo não advém do sobrenatural, mas de energia psíquica de uma raça de alienígenas, os auto denominados Guardiões do Universo, que coordenam a Tropa dos Lanternas Verdes, responsáveis por patrulhar cada setor espacial por eles divididos. O Lanterna Verde da Era de Prata é um herói interestelar que irá corajosamente a outros planetas sempre passa por histórias diferentes de outras civilizações, uma possibilidade interessante para cada artista conceber novos mundos. E claro, para as crianças estadunidenses, era divertido que a fraqueza do anel dele fosse a cor amarela. Hal Jordan, sua identidade secreta, é um corajoso piloto de testes de aviação e pessoas corajosas não “amarelam”. O Lanterna também foi o primeiro super-herói da DC a possuir uma família viva e ativa em suas histórias. Não era mais um caubói solitário. Sendo ele e Flash os dois primeiros heróis da época a serem reformulados (e se tornarem famosos por conta disso), naturalmente se transformaram em grandes amigos, eventualmente participando um da história solo do outro. Amizade essa que se seguiu por longos anos, presente também na revista da Liga.
J’onn J’onzz, o Caçador de Marte (aqui no Brasil conhecido como Ajáx, o Marciano) é um grande paradoxo: Se por um lado é um personagem “contemporâneo”a Era de Prata (criado em novembro de 55 na Detective Comics #225), não era originalmente um “super-herói”, estava mais para um monstro alienígena disfarçado de detetive. Se por um lado é um personagem inteiramente novo, por outro dizem ter sido cópia da antiga versão do Visão da Marvel (antes dele ser reformulado como um andróide na era de prata).Visivelmente inspirado em Superman, se por um lado possuía diversos poderes idênticos do maior herói da DC, suas habilidades telepáticas, sua capacidade de se metamorfosear, de se tornar invisível e imaterial o tornam diferente do ultimo filho de Krypton. Se por um lado como é um alienígena como Kal-El, por outro sua forma original é completamente diferente da de um humano, não podendo ser considerado um “Super-Homem”.
Sua primeira origem então é ainda mais diferente do Homem de Aço. Enquanto Superman é enviado por seus pais para Terra, J’onn foi acidentalmente teleportado para cá pelo Dr. Mark Erdel que, com o susto, morre de um fulminante ataque cardíaco ao se deparar com sua aparência alienígena. Arrancado das dunas de Martes, sem ter como retornar para seu mundo, é forçado a usar sua metamorfose para adaptar-se a uma forma mais acessível às pessoas do seu novo planeta. Adotando a identidade do policial John Jones de Chicago, ele se une a força policial de Apex City na Flórida e usa secretamente seus poderes para auxiliar os terráqueos, enquanto espera que a tecnologia daqui avance para que possa retornar para casa. Inicialmente, J’onn não era também como Kal-el, um órfão de seu mundo, o ultimo sobrevivente de uma civilização extraterrestre perdida. Inclusive na Detective Comics #236 em outubro de 56, consegue se comunicar com seus pais em Marte por rádio. Já seus poderes seguem a mesma linha do Kriptoniano: iam aparecendo de acordo com a demanda das histórias. Na sua primeira só mostra habilidade précognitivas mas já no numero seguinte surgem diversas outras: invisibilidade , vôo, “visão atômica”, super-audição e super-sopro, e assim vai… Sua fraqueza, diferente da Kriptonita, era o fogo só se manifestava na sua forma nativa marciana.
Em suas primeiras histórias também, o Caçador não usa uma identidade pública de super-herói, só revelando sua existência para o mundo muito depois, em Detective Comic #273 em novembro de 59, apenas um ano antes da formação da Liga. J’onn é eterno estrangeiro, um Robinson Crusoé espacial tentando se adaptar ao seu naufrágio planetário. Superman tem a vantagem de vindo para Terra quando criança, ter sido criado na cultura terráquea, com nossos valores , nosso senso de moral e nossa idéia do que é o mundo. Já J’onn chega aqui já na fase adulta, o que lhe dá uma qualidade bastante etérea, como seu poder de passar por objetos. Nessa sua encarnação original, J’onn era ao mesmo tempo um problema para a editora – pois nunca conseguira até então (e durante anos) emplacar como um personagem consistente – e uma solução para o roteirista da Liga, pois poderia ser adaptado a qualquer necessidade que a história precisasse. J’onn só tornaria um personagem vital para o grupo muito e muitos anos mais tarde. Mesmo que sua figura não fosse celebrada na época entre tantos heróis populares, Ele estava lá desde o começo.
Aquaman, o rei dos sete mares, assim como J’onn, não é tão popular quanto os outros membros originais, mas comanda toda a força dos oceanos. Um ágil nadador possui uma força incrível fora d’água e mesmo que não voe, ele pode comandar telepaticamente os animais aquáticos, o que para os olhos dos leitores (e talvez para muitos roteiristas) da época era considerado meio inútil. Sempre tinhas histórias solo muito divertidas, mas agora o pobre herói marítimo estava junto com um bando de super-heróis, com poderes e treinamento para lidar com as situações do mundo terrestre e se não existia água por perto, acabava realmente por se tornar inútil. Muitas vezes para os outros membros da Liga ele era o cara que fala com peixes, mas relativizando, enquanto os outros patrulhavam apenas um quarto do mundo ele tinha que lidar sozinho com todo o resto dos outros ¾.
O personagem não era conhecido nem muito menos famoso na Era de Ouro e, junto com o Arqueiro Verde, mantinha suas aventuras como histórias coadjuvantes de revistas estreladas pelo Superboy naquela época. O herói submarino original era um filho de um cientista explorador que para achar a cidade perdida de Atlântida no fundo do mar. Através de livros antigos desta civilização e sobre um longo treinamento com um tanque dentro de casa, desenvolveu a habilidade de respirar de baixo d’água, de se comunicar através da língua atlante com seres aquáticos e a ensinou para seu filho. Portanto Aquaman estrelava na More Fun Comics do numero 73 ao 107 de novembro de 41 a fevereiro de 46 era um ocidental com poderes adquiridos de forma fantástica demais que decidiu se tornar o vigilante dos mares. Combatendo os piratas modernos e, nos tempos de guerra, os comandantes de embarcações Nazistas e vários vilões do Eixo. Mantinha seu trono solitário em um templo atlante submerso perdido. Mas faltava carisma para sua cópia da Timely, Namor, que era um híbrido filho de um humano e com uma atlante, mais poderoso – era nitidamente mais forte e podia voar graças a pequenas asas nos seus tornozelos (?) – e com muito mais atitude que o herói submarino da DC.
Quando More Fun Comics passa a publicar apenas histórias cômicas, Aquaman entra junto com outros heróis para o limbo no final da Era de Ouro. Em sua reformulação na Era de Prata, apesar de seu visual continuar o mesmo, se dá na sua origem, de como herdou seus poderes e como eles funcionam. Sua reestréia se dá em Adventures Comics #260 em maio de 56. O herói é Arthur Curry é filho do vigia de um farol Tom Curry com Atlanna, uma fugitiva da raça perdida dos Atlantes, um híbrido como o personagem da Marvel. Diferente de Namor, porém, que é criado pela sua mãe , ele cresce ao lado de seu pai na superfície e só teria descoberto seus poderes e habilidades durante sua adolescência: capacidade de respirar embaixo d’água, sua super-força atlética que o faz um excelente nadador e fora d’água supera a dos humanos normais, além de se comunicar telepaticamente com os seres marinhos (só mais tarde passará a dar ordens). Ele se tornaria Aquaboy e como é sugerido em edições posteriores se encontrando com o então único herói da DC reformulada para a Era de Prata da época, Superboy, numa alusão óbvia ao fato de ter convivido como seu coadjuvante por tantos anos na primeira era das HQs.
Apesar de participar sempre das histórias de outros heróis com sucesso, suas aventuras nunca pegavam em uma única revista, pulando de um título para outro, Aquaman sempre foi visto como um herói menor pelos fãs na Era de Prata. As implicações de seu encontro com Atlantes (primeiro com uma colônia onde liberta o rapaz que ele criará como seu parceiro Aqualad e depois a própria cidade perdida de Platão) e a sua subseqüente posição de líder como Rei de Atlântida, ao descobrir que descendia da nobreza do seu povo só se daria também muito no futuro, realçando suas histórias a um nível mais apreciável. Mesmo assim, o fato Aquaman também é um dos primeiros integrantes da Liga, que derrota Starro na sua primeira formação.
Coadjuvantes e futuros novos membros do grupo – O exército de heróis
Além dos sete heróis originais, a Liga contava desde sua origem com um pretenso representante da juventude da época, o adolescente Lucas “Snapper” Carr, na verdade um beatnick estereotipado, com suas roupas berrantes, gírias exageradas e estalar de dedos. Snapper Carr era uma honesta tentativa de se comunicar com o publico jovem de Gardner Fox, pois fora concebido para ser um humano na Liga, e mais do que isso, o fã infantil dos super-heróis da Era de Ouro como um jovem dentro do grupo da Era de Prata. Mas como se tratava de um clichê, Carr não representava de fato o leitor jovem e por isso eles não se identificavam com o mascote da Liga.
Após discutirem onde seria seu quartel general, de modo que fosse de fácil acesso para todos, os sete membros originais passaram a operar em uma caverna escondida nas redondezas de pequena cidade ficcional de Snapper Carr chamada Happy Habor em Rhodes Island. Por um tempo permanecem nessa formação básica, mas em 1961 na Justice League of America # 4 o Arqueiro Verde se junta ao time. Depois no numero 16 o Eléktron (The Atom reformulado), no numero 31 o Gavião Negro da Era de Prata. A Liga se torna um verdadeiro exército de poderes e habilidades especiais. Sua antecessora, a Sociedade da Justiça, bem como todos os acontecimentos da Era anterior são relocados para outra realidade, um universo parelelo onde na Terra 2 uma versão mais velha Superman e outros heróis dos anos 30 e 40 existiram contemporâneos á Era de Ouro (o começo do multiverso da DC).
A Liga pertencia ao mundo mais moderno. Sua origem é recontada numero 9, antes da entrada de Elektron e Gavião Negro: os Sete Membros antes de lutarem juntos contra Starro, a estrela do mar gigante alienígena, teriam passado por um outro desafio alienígena. Sete metamorfos do Planeta Apellax que resolveram usar a Terra como campo de batalha para uma disputa pela liderança de seu mundo. Cada alienígena possuía habilidade de absorver um material mineral ou orgânico e utilizar isso de forma criativa. J’onn derrota um homem-pedra, Aquaman detona uma bolha de mercúrio, Diana estilhaça um homem de vidro, Hal Jordan abate um pássaro gigante e Barry Allen apaga uma criatura de fogo. Mas todos os cinco são capturados por um homem de madeira que os transforma em árvores estáticas. Nesse momento percebem que apenas unindo seus poderes poderiam lidar com a ameaça. Eles se libertam, cortam a criatura em pedaços e partem para o ártico derrotar a última, quando se deparam com Superman e um Batplano triunfantes sobre o corpo de um homem-diamante. Os sete originais então resolvem se agrupar e formar a Liga. A sorte estava lançada.
A Nova Geração (1968) – Fãs incorporados como artistas
Garden construiu todo abriu o caminho para o roteirista Dennis O`Neil, considerados por muitos o segundo melhor escritor da Era de Prata (obviamente perdendo a majestade para Stan Lee). O’Neil quis chacoalhar a estrutura montada pelo seu antecessor e maturar um pouco mais as coisas: A primeira coisa que fez foi se livrar de Snapper Carr de um modo surpreendente, mudando-o para o lado dos vilões, resignado de ser apenas o mascote da Liga. Carr trai a Liga ao revelar ao Coringa a localização da base secreta do grupo. Seguindo a saída de Snapper, Mulher Maravilha e o Caçador de Marte (este ultimo juntamente some de vista quando sua série solo é cancelada) também deixam o time por um breve tempo. O`Neil decide mudar relocar a Liga para um satélite a 35888km acima da Terra em órbita geo-sincrônica no numero 78 da revista. Era algo mais antenado com a entrada no mundo de relevâncias dos anos 70.
A origem da Liga é descoberta pelo Arqueiro Verde como falsa, encobrindo uma terrível revelação: Seis membros excluindo J’onn e o Lanterna Verde, que apenas os ajuda como o piloto de testes Hal Jordan e incluindo Robin, que não ficou como membro por ser muito jovem, ajudam a chegada do Caçador de Marte na Terra, evitando uma histeria anti-marciana, numa crítica aos anos 50. Só mais logo mais tarde Hal entraria na Liga como o Lanterna. A Era de Prata já estava morta e enterrada, os anos no satélite marcaram o começo de um novo período…