Cultura colaborativa! Participe, publique e ganhe pelo seu conteúdo!

“Rock em Cabul” não empolga, apesar do esforço de Bill Murray

O cinema americano gosta de, volta e meia, produzir filmes sobre comparações entre o “American Way of Life” e outras culturas, geralmente mostradas como “exóticas” ou “pitorescas”. Alguns deles buscam o riso ao mostrar o contraste entre o “normal” (na visão dos EUA, claro!) e “os outros” ou, no máximo, causar alguma comoção ao evidenciar algo que pareça até mesmo fora das convenções que muitos de nós acreditamos ser as ideais no mundo livre. O mais recente filme de Barry Levinson, “Rock em Cabul” (“Rock the Kasbah” no original, numa alusão ao clássico do grupo The Clash) procura fazer as duas coisas, mas não consegue ser satisfatório em nenhuma de suas tentativas, além de desperdiçar um ótimo elenco com personagens aquém do seu talento.

A história é centrada em Ritchie Lanz (Bill Murray), um empresário musical que está em uma maré de azar e só tem uma cliente, a instável cantora Ronnie (Zoey Deschanel). Um dia, ele e Ronnie são convidados a participar de um show para militares americanos que estão em missão no Afeganistão. Só que, assim que chega a Cabul, capital afegã, uma reviravolta deixa Ritchie sem dinheiro ou passaporte para voltar para casa e ainda se mete numa confusão com o mercenário Bombay Brian (Bruce Willis).

Desesperado, aceita fazer um trabalho para os traficantes de armas Jake (Scott Caan) e Nick (Danny McBride) e vai parar numa pequena aldeia, onde descobre que a filha do líder da comunidade, Salima Kahn (Leem Lubany), tem uma belíssima voz. Ritchie, então, decide que vai empresariar a moça e, contando com a ajuda da garota de programa Merci (Kate Hudson), resolve que vai apresentar a moça no Afghan Idol, um programa de TV inspirado no consagrado American Idol, mesmo que isso cause problemas para todos os envolvidos.

Rock_em_Cabul_foto6

O diretor Barry Levinson, que já ganhou um Oscar por “Rain Man” em 1988, foi mais feliz ao misturar comédia e drama sobre choques culturais em “Bom Dia Vietnã”, de 1987, em que Robin Williams animava soldados com suas locuções divertidas no rádio, ao mesmo tempo em que lidava com questões do povo vietnamita no meio de uma guerra. Já em “Rock em Cabul”, o cineasta não consegue, em nenhum momento, realizar um trabalho minimamente interessante, já que erra ao tentar fazer graça na maioria das vezes que tenta, o que gera, no máximo, apenas sorrisos amarelos do espectador. Levinson também não se sai muito bem em mostrar a situação no Afeganistão, preferindo tratar os conflitos de forma bastante superficial e aborrecida.

Rock_em_Cabul_foto2

Além da direção, o principal ponto fraco do filme está no roteiro de Mitch Glazer, que cria uma trama morna e cheia de momentos que tentam ser engraçados ridicularizando as tradições e costumes dos afegãos, além de criar personagens pouco carismáticos que aparecem e desaparecem da trama sem a menor cerimônia, o que deixa alguns momentos sem sentido. O melhor exemplo disso está no mercenário interpretado por Bruce Willis, que entra e sai da história com intenções diferentes, tornando-o quase como uma ponta de luxo na trama.

O texto também não ajuda as atrizes Zoey Deschanel Kate Hudson, já que tanto Ronnie quanto Merci, embora sejam mais importantes para o enredo fluir, são sacadas de uma maneira um pouco incompreensível. Se seus papéis fossem para artistas novatas e menos consagradas, seria mais justo porque é decepcionante a maneira encontrada para as suas participações nesta produção.

Rock_em_Cabul_foto8

Ao que parece, “Rock em Cabul” foi criado mesmo para evidenciar o talento e o carisma de Bill Murray, que rouba a cena mais uma vez. O ator é um especialista em criar personagens cínicos, porém simpáticos, e aqui não é diferente. Os únicos momentos realmente divertidos se devem a ele, que faz rir quando fala de situações envolvendo astros da música que ele conheceu, como Madonna ou Jimi Hendrix.

Outro momento inspirado é quando ele toca o clássico do rock “Smoke on The Water” para os afegãos. Só por causa dele que o filme não vira uma verdadeira bomba e é a única coisa que realmente vale a pena na produção, além da ótima direção de arte e das locações no Afeganistão e em Marrocos. Vale destacar também a pouco conhecida Leem Lubany, que realmente possui uma bela voz e canta bem, em um momento importante da trama, o clássico “Wild World” do cantor Cat Stevens, que se converteu ao islamismo e agora assina como Yusuf.

Rock_em_Cabul_foto7

Com um desfecho decepcionante, “Rock em Cabul” fica devendo como bom cinema e poderia render um filme melhor, pois além de um ótimo elenco, tinha um argumento bem interessante, se fosse bem trabalhado. Infelizmente a produção ficou mais do que descartável, graças aos seus gritantes erros. Uma pena, pois é sempre bom ver um ator tão talentoso quanto Murray na tela. Porém, precisam surgir projetos mais instigantes para ele e que façam jus às suas qualidades.

Filme: Rock em Cabul (Rock the Kasbah)
Direção: Barry Levinson
Elenco: Bill Murray, Kate Hudson, Zoey Deschanel, Bruce Willis, Danny McBride, Scott Caan, Leem Lubany
Gênero: Comédia Dramática
País: EUA
Ano de produção: 2015
Distribuidora: Sony Pictures
Duração: 1h 46 min

Compartilhar Publicação
Link para Compartilhar
Publicação Anterior

“Dados e homens” explora a história de Dungeons & Dragons

Próxima publicação

Passado e presente no clipe da nova versão de 1985, de Paul McCartney

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia a seguir