Abbas Kiarostami visita Tóquio em “Um Alguém Apaixonado”

Ilustração de Lorena Kaz
Ilustração de Lorena Kaz

Abbas Kiarostami se tornou conhecido entre cinéfilos após vencer a Palma de Ouro de Cannes com “Gosto de Cereja” em 1997, porém sua carreira vai muito além de seu trabalho como diretor de alguns filmes premiados. O prolifero iraniano – como tantos de nós – atua como um Da Vinci moderno nas mais diversas frontes, do roteiro ao trabalho de edição, Kiarostami cuida de cada aspecto de suas produções com propriedade de quem já trabalhou nas mais diversas funções. E não valendo-se apenas da sétima arte, uma visita rápida a Wikipedia revela que Kiarostami também atua como poeta, fotógrafo, designer gráfico, escritor, pintor, ilustrador e claro, produtor de cinema.

Como não poderia deixar de ser, todo este know-how se refletido em suas produções, e com o recente “Um Alguém Apaixonado” (Like Someone in Love) não é diferente. O filme, que se passa em Tóquio, se debruça sobre o triângulo amoroso de Akiko (Ryo Kase), uma estudante universitária que vive como garota de programas de luxo, Noriaki, seu namorado invocado e ciumento, e Takashi (Tadashi Okuno), um renomado professor em busca de companhia para a solidão da terceira idade.

A trama, propriamente dita, se desenvolve em apenas um dia. Após sermos apresentados a jovem e bonita Akiko, que discute no telefone com seu namorado, seguimos com a protagonista dentro de um taxi coagida por seu cafetão a visitar um antigo amigo deste. Partindo daí o filme torna-se uma comédia de sucessões cotidianos que lembra Woody Allen, porém com o típico olhar do cineasta. Este por si é grande diferencial do filme, pois apesar de passar metade da pelicula desenvolvendo a trama em torno de simples ações, como atender o telefone ou discutir com o vizinho chato, tais momentos atuam como aumento de tensão para a trama, que parte do encontro amoroso de uma prostituta com um simpático senhor para o incômodo encontro com o namorado ciumento e as desventuras partidas deste episódio.

Infelizmente (é uma pena que quase sempre exista um porém), no final o diretor falha ao acabar bruscamente no grande momento de tensão construído durante todo filme. Pois, mesmo sendo divertido ser pego de surpresa, com as cortinas se fechando no ápice da trama e tudo mais, uma reflexão tardia nos leva ao questionamento deste artíficio. O brusco final deixa aberta uma dúvida sobre o roteiro, pois realmente existiria um desenrolar satisfatório para todo jogo desenvolvido enquanto acompanhávamos o jogo dos personagens? Ou teria o diretor perdido a inspiração, e assim buscado uma solução simples que a cada dia é mais e mais utilizada. Ponto perdido.

Mas antes do filme do artigo voltamos ao início deste texto, pois ainda assim Um Alguém Apaixonado merece ser visto graças a força motriz do diretor Abbas Kiarostami, que dá brilho a momentos tediosos, como a memorável cena onde Takashi encontra Noriaki, que o confunde com o avô de sua namorada. E tudo isto sem grandes perseguições, explosões e todos demais artifícios que impregnam o cinema mainstream.

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