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“Atentado ao Hotel Taj-Mahal” carrega na tensão para reconstituir terrível história real

O que torna o cinema algo que ainda é capaz de fascinar depois de tantos anos de sua existência é sua capacidade de surpreender quando (ou de onde) menos se espera. Muitas vezes, um projeto cria uma expectativa tão grande que, geralmente, a decepção é inevitável. Por outro lado, há produções que, sem maiores divulgações ou estardalhaço, conseguem resultados que impressionam por irem além do previsto. Um bom exemplo disso é o drama “Atentado ao Hotel Taj-Mahal” (“Hotel Mumbai”, EUA/Austrália/Índia, 2019), que reconstitui um triste episódio ocorrido em uma das principais cidades indianas em 2008, com cenas muito bem construídas de tensão e suspense que mostram que, para assustar e deixar o espectador grudado na cadeira, não é necessário apelar para sustos fáceis, como tem sido visto em muitos (supostos) filmes de terror atualmente.

A trama mostra como um grupo de extremistas decide realizar uma série de ataques em locais estratégicos de Mumbai no dia 26 de outubro de 2008, como a delegacia da cidade e o principal hospital da cidade, assim como turísticos, como o Hotel Taj-Mahal, onde trabalha o garçom Arjun (Dev Patel) e está cheio de hóspedes como o casal formado por David (Armie Hammer) e Zahra (Nazanin Boniadi), além do empresário russo Vasili (Jason Isaacs). Os terroristas fazem um verdadeiro banho de sangue, matando não só os hóspedes como também funcionários do hotel, forçando David e Zahra a lutarem pela sua sobrevivência, ao mesmo tempo em que tentam salvar seu filho recém-nascido, que está num dos quartos com a babá, Sally (Tilda Cobham-Hervey). Paralelamente, o cozinheiro Oberoi (Anupam Kher) lidera um grupo para salvar os hóspedes remanescentes, enquanto Arjun procura uma maneira para que todos possam deixar o hotel, já que todas as saídas foram tomadas pelos extremistas.

O que mais chama atenção em “Atentado ao Hotel Taj-Mahal” é a direção crua e intensa do estreante Anthony Marras, que faz com que os ataques dos terroristas sejam bem realistas e, por conseguinte, bastante assustadores. O cineasta faz com que o público tenha a sensação de perigo constante e de que não há nada que garanta a segurança de ninguém. As imagens podem incomodar os mais sensíveis (ainda que não haja closes dos efeitos causados pelas balas, por exemplo).

Além disso, o diretor mostra domínio de sequências mais elaboradas, como as que envolvem muitas pessoas, como as que são passadas do lado de fora do hotel, quando os terroristas atacam outras regiões de Mumbai. Mas o principal mérito de Marras é manter a tensão em níveis bem altos, fazendo com que o espectador fique nervoso com o que acontece na tela e até torça para que os personagens consigam sobreviver aos extremistas. Um bom exemplo disso está na cena em que Sally percebe a invasão dos assassinos em seu quarto e se esconde para que eles não percebam que nem ela nem o bebê de David e Zahra estão lá.

No entanto, o filme perde pontos quanto ao roteiro, escrito por John Collee e o próprio Anthony Marras. O texto não desenvolve muito bem alguns personagens, como por exemplo o tratamento superficial dado a alguns dos terroristas, na tentativa de justificar por que eles acabam entrando nessa vida, mas resulta em algo corriqueiro e pouco elucidativo. Além disso, há um desequilíbrio na trama já que dá mais espaço para o drama de David e sua família em certos momentos, para logo em seguida deixar essa história de lado para enfatizar a tensão causada pelos ataques e a luta dos sobreviventes para escapar. Se o filme fosse mais focado nesse jogo de gato e rato, seria mais interessante e coeso. Mas do jeito que ficou, parece que tiveram que inserir algumas sequências que deixaram o filme com um ritmo irregular, prejudicando o resultado final.

Felizmente, apesar destes problemas de texto, o filme é muito bem defendido pelo seu elenco multinacional. Embora seja o principal nome, Armie Hammer está mais como coadjuvante do que como protagonista, mas consegue transmitir bem a preocupação e o medo de estar lidando com algo que não entende muito bem, mas que sabe que é bastante perigoso, especialmente para a sua família. Dev Patel, que vive o personagem mais importante da trama, brilha como Arjun, especialmente numa cena em que procura acalmar uma turista que age de forma preconceituosa por causa dos atentados e busca ganhar a sua confiança, numa das melhores cenas do filme.

Nazanin Boniadi também é bem sucedida nas cenas mais tensas, em particular naquelas que envolvem a sua origem. Jason Isaacs, no entanto, não se destaca como seus colegas por causa de seu personagem cheio de clichês, que parece ter sido criado para enfatizar o lado controverso do empresário russo, o que forçou o ator a usar os mesmos trejeitos que já tinha feito em outros papéis de vilão em produções como “O Patriota” e o Lucio Malfoy da saga “Harry Potter”.

No entanto, o melhor do elenco é mesmo Anupam Kher, que dá o tom certo de austeridade para o chefe de cozinha Oberoi, que vai aos poucos se tornando um líder incontestável entre os funcionários e hóspedes sobreviventes ao ataque. O ator torna crível a integridade e a sua luta para manter tudo sobre controle, mesmo quando a situação parece caminhar para algo inevitável. Kher consegue, aqui, dar muito mais humanidade e faz com que o público seja cúmplice de sua trajetória.

No final das contas, “Atentado ao Hotel Taj-Majal” é um bom thriller dramático que vale pelas sequências de ação e suspense e que se mostra uma boa reconstituição de um episódio que muitos preferem esquecer, mas que na verdade deve, sim, ser lembrado. Afinal, vivemos tempos estranhos, em que o fanatismo e a intolerância estão se fortalecendo cada vez mais pelo mundo e todos nós precisamos compreender o que está acontecendo. E o cinema pode, sim, ajudar nisso, mesmo quando pareça que estamos diante de uma obra que parece ter sido feita para entreter, mas oferece mais do que isso.

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