Crítica: "A 100 Passos De Um Sonho" não ousa nos ingredientes de sua receita

Crítica: "A 100 Passos De Um Sonho" não ousa nos ingredientes de sua receita – Ambrosia
THE HUNDRED-FOOT JOURNEY

A velha história do David contra o Golias sempre rende argumentos na Ficção. No caso do livro A 100 Passos de Um Sonho, do americano nascido em Portugal e criado na Suíça, Richard C. Morais, o Davi é um imigrante tentando se estabelecer com seu restaurante em uma pequena cidade francesa, tendo como trunfo seu filho com talento nato para a cozinha. Já o Golias é um restaurante bem estabelecido na região, em busca de mais uma estrela Michelin. E que não vê a concorrência com bons olhos.
“A 100 Passos de Um Sonho” (The Hundred-Foot Journey/EUA, India, Emirados Árabes, 2014) é a adaptação captaneada pelo sueco Lasse Hallström, que ganhou notoriedade em sua terra natal com “Minha Vida de Cachorro”, de 1985 e já nos EUA dirigiu os candidatos ao Oscar “Regras da Vida” de 1999 e “Chocolate” de 2000. Na trama, em Mumbai, na Índia, um restaurante familiar comandado por Papa (Om Puri) acaba sendo destruído por um incêndio  causado por uma multidão revoltada com uma disputa eleitoral. Papa consegue evacuar com sucesso os clientes, porém sua esposa é morta no incêndio. Em busca de asilo na Europa, o viúvo e seus filhos em primeiro lugar instalam-se em Londres, no entanto a sua residência se mostra inadequada para executar um restaurante, daí eles partem para a Europa continental.
Pouco depois de cruzar a fronteira entre a Suíça e a França devido a problemas com freio do veículo, a família acaba forçada a ficar uma noite em uma aldeia francesa nas proximidades. Daí surge Marguerite (Charlotte Le Bon), uma moradora local e chef em um restaurante francês de luxo na cidade que ajuda a família a encontrar uma oficina de reparação automóvel. Papa é surpreendido com a qualidade e a importância da gastronômica na aldeia, e se apropria de um prédio restaurante abandonado na periferia da cidade, disponíveis para compra. Vendo esta providência como divina, ele decide abrir um restaurante indiano na aldeia. Porém em seu caminho está a dona do restaurante vizinho, a Madame Mallory (Hellen Mirren), que compra briga com a concorrência. No entanto, as habilidades para cozinha do filho da família, Hassam (Manish Dayal) começam a atrair as atenções.
Produzida pela Amblin de Steven Spielberg, que assinou a produção ao lado de Oprah Winfrey, segue a mesma linha de “O Mordomo da Casa Branca”, que tinha a apresentadora no elenco, ou seja, uma história com matizes de contos de fada, de andamento linear, correto e sem nenhuma ousadia estética ou narrativa. O destaque da produção vai para o bom gosto da direção de arte e a bela fotografia de Linus Sandgren, que fotografou magistralmente “A Trapaça” de David O’ Russell, candidato ao Oscar desse ano.
A trilha sonora infelizmente fica refém do lugar comum, tanto nas sonoridades coloridas e vibrantes da exótica Índia, quanto na La Vie En Rose como trilha de fundo da ala francesa. Ou seja, estereótipo de ambos os lados, não só na trilha, mas nas caracterizações. Indianos oprimidos, porém “raçudos” e dona de restaurante francesa esnobe. Mas como temos Hellen Mirren em cena, sua personagem, apesar do antagonismo, até gera uma certa simpatia em muitos momentos.
Na verdade, muitos donos de restaurantes na Europa fazem coisas até piores com desiderato de alcançar uma estrela Michelin. Como é explicado no filme por Marguerite, uma estrela equivale a excelente, duas, fantástico e três pertence aos deuses. A apreensão de Madame Mallory em sua cozinha para que tudo saia perfeito é típica de donos de restaurantes com esse perfil, e o roteiro sempre coloca em contraste com a descontração e simplicidade do restaurante do Papa, que é praticamente esquecido quando a trama amplia o foco em Hassam.
Por fim, “A 100 Passos de Um Sonho” tem na correção estética e narrativa sua qualidade e defeito ao mesmo tempo. Qualidade por ser bem executado, defeito por não erigir nenhum tipo de emoção no espectador, apesar de não ser tedioso. Apenas a obra que serviu de matéria-prima não fornecia suporte para algo além do que é apresentado na tela.

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