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Cyrano de Bergerac – o clássico francês ganha vida nos palcos de Brasília

Ao que me cabe, penso que a 5ª arte consegue ser em sua essência a mais bela, pura e expressiva das artes liberais. Em um paralelo com talvez a mais famosa e adorada das 11 (o cinema), o teatro poderia ser definido como um ofício mais diáfano, que eleva o espírito humano e o transporta para uma atmosfera crua, dispensando os efeitos carnavalescos daquela arte irmã – que muitas vezes tende a agir como um número de ilusionismo, desviando deliberadamente a atenção do público para algo não muito importante. No teatro temos apenas o texto, o palco e o talento de atores que se comprometem a representar durante horas, em um esforço quase que torturante. E é então que o brilhantismo e a elegância ficam mais aparentes.

Como a maioria dos brasileiros me ponho em um grupo que substitui o teatro por seu irmão mais artificial (artificial não no sentido pejorativo que tal vocábulo normalmente é empregado) e instantâneo – por inúmeros motivos. Não que a sétima arte seja, em essência, mais inculta e menos valorosa que aquela; entretanto, penso que há muita importância no que concerne a educação cultural do ser humano moderno em conhecer o teatro. É necessário. Esclarecido estes fatos, ponho-me no papel de ignorante sobre os meandros técnicos da dramaturgia ao comentar o espetáculo Cyrano de Bergerac, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília.

A peça é uma adaptação do clássico da dramaturgia francesa (a original data de 1897), concebida pelo poeta Edmond Rostand. Conta a história de um anti-herói romântico membro d’Os Cadetes da Gasconha, que vive em Paris de 1640, desolado por não conseguir declarar-se para sua amada prima, Roxane. Ao contrário do que a primeira impressão permite inferir, o protagonista é extremamente cheio de si. Exímio espadachim, além de um brilhante poeta e filósofo, Cyrano vive por encantar a todos com suas habilidades nada limitadas. Seja em um clássico duelo como em um embate intelectual – onde demonstra dominar com maestria a sutil arte da retórica. Em um dado momento, Cyrano acaba por descobrir que Roxane guarda sentimentos para com um novato cadete chamado Christian de Neuvillete. Ao confessar tal informação, sua prima lhe obriga a jurar que fará com que o rapaz confidencie-se constantemente com sua pessoa, além de obviamente protegê-lo das brutalidades atreladas à chegada de um novato ao grupo dos Gascões. Cyrano descobre então que Christian não passa de um belo rosto, não possuindo nenhuma habilidade sequer no galanteio. Decide por fim fundir seu dom de poeta com a bela aparência do rapaz, no intuito de conquistar sua amada indiretamente.

Cyrano beija a mão de sua amada, Roxane

O espetáculo pode ser definido em apenas uma palavra: clássico. Porque é exatamente isto que é. Um drama clássico que ilustra a vida de um homem apaixonado que se acha feio demais para se declarar à sua bela dama. Revelando ideias comumente propagandeadas ao longo das eras; no que reforça o pensamento que cisma em distanciar a beleza do amor, colocando tal característica como um fator banal diante da complexidade essencial do exercício responsável por atribuir humanidade aos homens O roteiro aborda ainda outros conceitos considerados clichês do nosso tempo – mas que na realidade são ideais clássicos; sobreviventes das revoluções sociais.

Não há como não se embasbacar com a genialidade do texto. Os diálogos são incríveis; especialmente a retórica de Cyrano, que se revela deveras envolvente. Uma passagem em especial me conquistou: o protagonista logo em sua primeira cena encontra-se diante de um embate intelectual com algum nobre; ao que o outro lhe insulta, mencionando a característica grotesca de seu nariz, Cyrano reserva quase dez minutos ininterruptos de seu discurso sugerindo inúmeras outras contumélias mais inteligentes que seu interlocutor poderia ter mencionado, humilhando-o publicamente diante de centenas de pessoas. Em seguida improvisa um poema prometendo que ao terminá-lo, desferiria uma estocada ao peito do nobre. Apesar de todo o ar épico da obra, o texto – que não é bem uma tradução e sim uma adaptação, considerando que o original é escrito em forma de versos rimados – é fluido e moderno, conseguindo manter o interesse do público pelo período de tempo que se dispôs a fazê-lo. Possui algumas partes redundantes que poderiam ser resumidas, coreografias que poderiam ser repensadas, mas em suma é um roteiro inteligente, que intercala com maestria as passagens em prosa, os números musicais e os inúmeros poemas que se revelam durante as duas horas de espetáculo.

O elenco conta com Bruce Gomlevsky – no papel principal, em uma atuação impecável, Julia Carrera, Sergio Guizé, Gaspar Filho, Gustavo Mello, Gláucio Gomes, Ricardo Tostes, Dida Camero, Ian Soffredine Korik, Ricardo Ventura, Gustavo Damasceno, Arthur Brandão, Ivan Vellame, Tatsu Carvalho e Yasmin Gomlevsky.

Com direção geral de João Fonseca, direção musical de Marcelo Alonso Neves e cenografia de Nello Marrese; com figurinos de Inês Salgado e maquiagem de Vavá Torres.

Certamente é um clássico que merece ser visto e revisto – especialmente se for sob os cuidados e a dedicação desta equipe qualificada que se apresenta em Brasília nesta curta temporada.

Ficha:

Espetáculo: “CYRANO DE BERGERAC”
Temporada: 05/08/2011 à 21/08/2011
Dias seguidos: 05/08 a 14/08, sempre às 21h
Fim de semana: 17/08 a 21/08
Quinta a Domingo: às 21h.
Sessão Extra: 21/08, às 17h
Ingresso: R$15,00 (inteira) e R$7,50 (meia: para clientes, funcionários BB,
estudantes e maiores de 60 anos)
Duração: 120 minutos
Classificação: 12 anos
Capacidade: 327 Lugares – Sendo 02 para obesos e 07 para cadeirantes.
Local: Teatro I – Centro Cultural Banco do Brasil
SCES, Trecho 2, Conjunto 22 – Brasília (DF) Contato: (61) 3108-7600

[xrr rating=4.5/5]
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