Fernando Meirelles tem no seu elenco o principal trunfo de “360”

Foto: Divulgação

Em 2002, o cineasta brasileiro Fernando Meirelles impressionou público e crítica em todo o mundo com sua adaptação do livro “Cidade de Deus”, de Paulo Lins. Com o sucesso, ele se tornou um nome respeitado no meio cinematográfico e conseguiu, entre outras coisas, indicações nobres em várias premiações. Até mesmo no Oscar, onde conseguiu ser um dos únicos “brazucas” a ser indicado a Melhor Diretor. A partir daí, Meirelles passou a se envolver com produções internacionais, contando com bons atores, como Ralph Fiennes e Rachel Weisz em “O Jardineiro Fiel”, ou Julianne Moore e Mark Ruffalo em “Ensaio Sobre a Cegueira”. Agora, Meirelles apresenta seu projeto com maior star power de sua carreira até o momento: o drama romântico “360”.

Com um elenco que é uma verdadeira Torre de Babel, o filme tem atores consagrados como Anthony Hopkins, Jude Law, Rachel Weisz, Ben Foster, Marianne Jean-Baptiste, além dos brasileiros Maria Flor e Juliano Cazarré. A produção, rodada em Viena, Paris, Londres, Bratislava, Rio, Denver e Phoenix, tem uma narrativa semelhante a de filmes de Robert Altman, como “Nashville” e “Short Cuts – Cenas da Vida”, que mostra o que acontece na vida de várias pessoas a partir da decisão do empresário Michael Daly (Law) de não trair sua esposa com a prostituta Mirka (Lúcia Siposová) , durante uma viagem de negócios. Assim, o público é apresentado ao resto dos personagens em situações envolvendo diferentes formas de relacionamento, algumas cômicas, outras trágicas, culminando com a sensação de que tudo o que acontece em seus destinos pode voltar ao ponto de origem.

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Com “360“, Fernando Meirelles quis mostrar que é capaz de conduzir tramas diversas e complexas ao mesmo tempo. Mas enquanto sua direção de atores é até bem sucedida em seus objetivos, ele acaba sendo traído pelo roteiro de Peter Morgan (o mesmo de “A Rainha” e “O último rei da Escócia”), que traz algumas soluções pouco aprofundadas e até rápidas demais para alguns conflitos dos personagens e perde muito tempo resolvendo outros, que nem são tão interessantes, como a história do russo Sergei (Vladimir Vdovichenkov), que precisa organizar a viagem do patrão para Viena. Além disso, é uma pena desperdiçar os talentosos Jude LawRachel Weisz (que até ganhou um Oscar em seu primeiro trabalho com Meirelles, “O Jardineiro Fiel”), com papéis fracos e que aparecem pouco na trama.

O diretor, no entanto, dá bastante espaço para alguns integrantes do elenco brilharem, especialmente Anthony Hopkins. O ator britânico, que virou figurinha fácil no cinema fazendo muitos filmes nos últimos anos, como “Thor” e “O Ritual”, ganha depois de muito tempo um personagem onde pode mostrar todo o seu talento, especialmente na cena em que conta uma história (que dizem ser verdadeira) sobre um padre que o ajudou anos atrás. Ele vive um homem que está viajando para descobrir se sua filha desaparecida está viva ou morta e acaba fazendo amizade com Laura (Maria Flor). O encontro entre os dois lhe dá a chance de ter uma espécie de acerto de contas com o passado.

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Meirelles também dá para a atriz brasileira uma ótima oportunidade para se destacar na telona e ela até dá conta do recado, graças ao seu carisma. Especialmente nas cenas com Hopkins e nas que conhece Tyler (Ben Foster, ótimo no papel) e tenta seduzi-lo, sem saber que ele é um criminoso condenado por abuso sexual e que acaba de deixar a cadeia. Mas precisa melhorar o seu inglês, se pensa em fazer uma carreira internacional. Curiosamente, seu colega Juliano Cazarré, que faz Rui, o namorado infiel, aparece bem menos do que ela, mas se mostra mais seguro no idioma.

O filme “360” também conta com uma ótima parte técnica, especialmente na edição de Daniel Rezende (“Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”, “Ensaio sobre a cegueira”) e na fotografia de Adriano Goldman (“Xingu”), especialmente na sequência realizada dentro de um túnel. Pena que, mesmo com essas qualidades, a superficialidade da história deixa tudo no meio-termo, não permitindo voos maiores da produção. O macedônio “Antes da Chuva“, de 1994, também tinha uma narrativa circular (ainda que imperfeita de propósito) e foi muito mais bem sucedido em seu objetivo do que o novo projeto de Fernando Meirelles. Esse, sim, merece ser descoberto pelo grande público, que ainda assim pode gostar de “360”.

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Comentários 1
  1. Caro Célio,

    estou de acordo com quase todos os comentários sobre o filme e catei as referências dos outros títulos citados. Parabéns. Agora, quanto ao sotaque da Maria Flor: não seria esse o sotaque da personagem, da Laura? Foi o que me pareceu mais. Ora, ela estava na Europa por causa do namorado, tudo me pareceu muito decisão a la “o amor é cego” e tal. Por outro lado, Rui é um profissional em constante e intensa prática do idioma.

    Não sei se é isso ou se fiquei pura e realmente encantado com o tal carisma da atriz rsrs. Que sorriso!

    Forte abraço.

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