L7 esbanja Girl Power em apresentação maiúscula no Circo Voador

Quando o L7 estourou com o álbum “Bricks are Heavy”, de 1992,  já tinha seis anos de estrada. Com o estouro das bandas de Seattle, o rock garageiro americano tomou o mainstream de assalto e quem fazia um som agressivo e cheio de distorção se beneficiou. Nessa leva, o quarteto feminino acabou levando o rótulo de grunge (elas sequer eram de Seattle, estavam radicadas em Los Angeles). Até havia uma conexão, já que o produtor de “Bricks” era Butch Vig, responsável pelo “Nevermind” do Nirvana.
A visita anterior ao Brasil foi no memorável Hollywood Rock de 1993, abrindo para a banda de Kurt Cobain. Vinte e cinco anos depois (quase vinte e seis), Donita Sparks (voz e guitarra), Suzi Gardner (voz e guitarra), Jennifer Finch (baixo e vocal de apoio) e Dee Plakas (bateria) retornam ao Rio de Janeiro. Na noite do último sábado (01/12) no Circo Voador, a alguns quilômetros da Praça da Apoteose onde “causaram” naquele janeiro de 93 (rolou até nudez, no palco e na plateia), mostraram muita disposição para, se não superar, pelo menos emparelhar com aquela apresentação.
Essa também é a primeira visita ao Brasil posterior ao retorno em 2014, após 15 anos de hiato. E com a formação original (Jennifer deixara o grupo em 1997). Para compensar esse um quarto de século de ausência, entregaram um show maiúsculo e barulhento como nos velhos tempos.
Com uns probleminhas técnicos aqui e ali (que um roadie constantemente no palco vinha solucionar) e até alguns erros ao iniciar músicas – em determinado momento Donita disse “somos humanas, não somos máquinas” – só contribuiu para adensar o clima de garagem. As moças adentraram o palco ao som de ‘Pussy Control’ de Prince. “Como estão vocês depois desses 25 anos?” perguntou Donita, abrindo os trabalhos com a pesadona ‘Deathwish’, do álbum “Smell the Magic” de 1991.

L7 esbanja Girl Power em apresentação maiúscula no Circo Voador – Ambrosia
Foto: Cesar Monteiro
Quem já conferiu o L7 ao vivo sabe que o quarteto coloca um peso adicional na execução das faixas. Prato cheio para as várias rodas de pogo que se abriam na empolgada pista do Circo. A maioria dos presentes ou não era nascido ou estava na primeira infância na época do auge da banda. Em um momento Jennifer perguntou se alguém ali estava no show de 93. Poucos levantaram a mão. E depois reformulou a pergunta: “os pais de algum de vocês estavam lá?”. As meninas brincaram dizendo que muitos bebês nasceram em decorrência daquela noite. Mas a plateia majoritariamente jovem sabia as letras de cor e bradava a plenos pulmões refrões de clássicos como ‘Andres’, ‘Monster’ e ‘Shitlist’.
As duas músicas recentes, que saíram como single, ‘I Came Back to Bitch’ e ‘Dispatch From Mar-a-Lago’ (feita em crítica ao presidente dos Estados Unidos Donald Trump) tiveram boa recepção. No bis, veio o cover de Eddie & the Subtitles, ‘American Society’ e o ponto alto da noite, ‘Pretend We’re Dead’, carro chefe de “Bricks are Heavy” e maior sucesso da carreira do conjunto, que fez o Circo vir abaixo. A energética ‘Fast and Frightening’ fechou a apresentação concluindo a quebradeira.
A impressão é de que não se passaram 25 anos, e nem que houve tanto tempo de interrupção, visto que a química e o punch permanecem intactos.Talvez o despojamento da cena alternativa, sem um grande esquema de indústria por trás, facilite as coisas. O carinho pelo público brasileiro também não mudou. A bandeira do Brasil com o logo da banda no lugar do ordem e progresso foi erguida na plateia e logo virou decoração em uma das caixas de som. Donita chegou a brincar com a fama da Cidade Maravilhosa não ser muito roqueira, que contrastava com a euforia diante dela – “disseram que o Rio não gosta de rock”.
No palco, se não chega a haver aquela anarquia dos áureos tempos (hoje já são cinquentonas) as quatro parecem mesmo estar se divertindo, principalmente a irrequieta Jennifer, roubando a cena. O termo “Girl Power” popularizado pelas Spice Girls já era disseminado, e com uma atitude bem mais genuína, alguns anos antes pelas garotas do L7. E continua inabalável.
Foto de capa: Rodrigo Rebechi/Eu Rio! (Reprodução)

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