Moonrise Kingdom é arte e sensibilidade pura

Certos filmes são difíceis de se assistir sem ficar um pouco incomodado com o estilo de filmagem ou a própria narrativa. Wes Anderson se tornou um especialista em impor sua arte na qualidade de suas obras e na beleza com que ele grava seus filmes. Em verdade, os filmes de Wes Anderson são de baixíssimo orçamento (perto do seu blockbuster comum) e normalmente se pagam com extrema facilidade em razão do diretor já ter seu público fiel e saber aonde e quando lançar os mesmos.

Moonrise-Kingdom

Para localizar o leitor, Moonrise Kingdom trata da aventura de duas crianças que fogem de suas casas e resolvem viver suas vidas independentemente de adultos que não conseguem os entender, seja pela falta da presença de uma figura paterna, seja a ausência total de pais que apenas existem fisicamente, mas perdem qualquer contato com os sentimentos da filha. É um daqueles romances adolescentes que víamos na Sessão da Tarde, mas com um pouco de Nouvelle vague e Truffaut na fórmula.

Wes Anderson talvez seja um dos poucos diretores comerciais que consegue fazer arte em seus filmes, reclamando inspirações do cinema francês da década de 60 e até um pouco do impressionismo de Akira Kurosawa, especialmente se levarmos em conta “Sonhos“, de 1990. Ainda, a paleta de cores e locações do filme denotam um cuidado extremo com a estética, marca registrada do diretor, que confessou uma vez que todo projeto cinematográfico é em verdade uma exploração de uma idéia que sempre acaba se desenvolvendo de uma forma que ele nunca sabe onde vai dar, seja na busca por locações ou na escolha da trilha sonora.

moonrise kingdom still 2

Moonrise Kingdom é mais um destes exemplos de união perfeita entre história cativante, técnica de filmagem impecável e atuações inspiradas de um grupo de atores que mistura veteranos como Bill Murray, Bruce Willis e Frances McDormand com atores da geração seguinte como Edward Norton, Jason Schwartzman e Tilda Swinton, e os novatos Kara Hayward e Jard Gilman – que fazem a dupla principal, ao redor do qual os demais atores orbitam dando a devida profundidade a atuação das duas crianças.

Este filme em especial, de todos os filmes do diretor, tem a inocência de “Meu Primeiro Amor” misturado com as situações desconcertantes que somente surgem em seus filmes. Ao mesmo tempo que temos duas crianças se conhecendo, vivendo a experiência do primeiro amor e a fuga dos adultos, vemos os adultos consternados pela fuga e tentando ser adultos enquanto diversos outros problemas secundários surgem. Ainda assim, não se deixem levar pela descrição, os filmes do diretor são de um gênero próprio que mesmo aqueles que os odeiam, acabam adorando depois de assistir mais uma ou outra vez.

As analogias e questões filosóficas lançadas pelo filme também são deliciosas de pegar. O fato de Suzy usar os binóculos porque quer ver as coisas mais de perto e a necessidade de óculos que Sam tem, para poder enxergar o mundo já são o bastante para encher uma tese de mestrado.

moonrise closeup

Não nego que o estilo de filmagem, com close ups no rosto dos atores e cortes de cena rápidos, intercalados com tomadas longas, atormenta um pouco em certos momentos. Mas esta é sua estética e Wes Anderson não é de mudar seu estilo, especialmente porque já virou sua marca registrada. Ainda assim, é um prazer poder chamar um filme desses como sétima arte, especialmente se verificarmos que 90% do restante dos filmes não passa de apelação, seja em termos do histórias fáceis, seja em termos de visual fácil, com efeitos especiais excessivos e grandes explosões.

Para aqueles que querem algo mais do cinema, Moonrise Kingdom é altamente recomendado e mesmo aqueles que em algum momento dormiram em filmes de Wes Anderson, deem uma chance a este belo exemplo de cinema. Para quem for procurar por alguma sala de cinema, um aviso, o filme já passou no Brasil no ano passado, mas ainda se encontra em alguns circuitos alternativos do Rio e São Paulo. Recomendo esperar o DVD/Blu-ray, pois não se perde muito na transição da mídia.

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