A genialidade tem um preço: o rótulo da própria genialidade que aprisiona sua justificativa como tal. Pedro Almodovar não precisa provar mais nada pra ninguém e sabe disso. Seu criticado novo filme “Os Amantes Passageiros” alegoriza essa quebra de paradigma. Refletindo a catastrófica situação sócio-política espanhola, o filme é uma comédia exagerada, escalafobética e nas raias do absurdo. Mas curiosamente seu humor não é rasteiro como professam.
Existe ali um desespero muito particular usado como metáfora, digamos, nacionalista. E claro que não deixa de ser um filme “Almodovariano”, ou seja, muito gay, muita cor e o dobro de libido.
A bordo de um avião que se dirige para a Cidade do México, um grupo de passageiros vai conhecer o pânico quando perceberem que uma falha técnica ameaça pôr em risco as suas vidas. Os pilotos, assim como o resto da tripulação, treinados para todas as situações de crise, estão absolutamente decididos em tornar aquela viagem no mais agradável possível, independentemente das condições adversas a que estão submetidos. E é assim que, a viver uma situação limite, passageiros e tripulação acabam por se ligar de uma maneira inesperada, em que cada um se torna capaz das mais íntimas confissões das suas vidas.
A façanha de divertir com a boa e velha habilidade do cineasta em estabelecer o absurdo como ponto cômico de uma organicidade que seus personagens exalam, ainda persiste como em seu período mais escrachado nos anos 80. O filme peca em alguns aspectos como cenas isoladas que nada acrescentam ao todo e uma certa banalidade na concepção geral, que se confunde (de verdade) com o que teria de substancial em sua despretensão.
Mas é cabal que o carnaval armado por Almodôvar aparenta corriqueiro, mas camufla dentro de si uma imponência autoral que legitima o quanto o diretor pode fazer o que quiser que vai sempre deixar a sensação de que a mediocridade não conhece a (sua) língua espanhola… Super recomendo, mas relaxe e (em todos os sentidos) goze!!!
[xrr rating=3/5]