“Rain Dogs”: pobreza de pano de fundo, pobreza de construção como série

Uma série que tenta ser diferente, mas acaba sendo enfadonha
“Rain Dogs”: pobreza de pano de fundo, pobreza de construção como série – Ambrosia

Esta crítica tem spoilers!


Amigos são a família que nós escolhermos, já diz o velho ditado. Amizade é algo tão inerente ao ser humano que são incontáveis as obras fictícias sobre o tema. É possível pensar em algumas dezenas de séries de televisão que são sobre isso: um grupo de amigos. Por isso, para se justificar a existência de mais uma série sobre amizade, o produto audiovisual precisa ser de extrema qualidade. E é isso que NÃO ocorre em Rain Dogs, nova série da HBO em parceria com a BBC que tenta – mas tenta muito – ser diferente e acaba sendo enfadonha.

Costello Jones (Daisy May Cooper) é uma aspirante a escritora que trabalha como faxineira durante o dia e à noite num peep show, dançando em roupas mínimas em cabines para quem quiser pagar para ver. Daisy tem uma filha chamada Iris (Fleur Tashjian), que deixa com frequência para a amiga Gloria (Ronke Adekoluejo), funcionária de uma funerária, cuidar. Completa o trio de amigos o ex-presidiário Florian Selby (Jack Farthing), com quem Costello e Iris vão morar, mudança esta que modifica a dinâmica do relacionamento e cria alguns conflitos. A amizade de Costello e Selby se mostra tóxica, ao mesmo tempo em que a saúde mental dele vai se deteriorando.

No abrigo onde vai morar após sua experiência com Selby, Costello se torna, junto de outra moradora do local, uma camgirl, contando histórias tristes sobre seu passado como mulher explorada para homens se masturbarem. Já fora do abrigo, morando numa espécie de conjunto habitacional, sua sorte parece mudar com um contrato para publicação de seu livro – mas o comportamento autodestrutivo de Costello mais uma vez bota tudo a perder.

“Rain Dogs”: pobreza de pano de fundo, pobreza de construção como série – Ambrosia
“Rain Dogs”

A sinopse na operadora de TV a cabo define Rain Dogs assim: “Costello Jones, uma devotada mãe solteira, forma, à margem da sociedade e junto de sua melhor amiga e de sua pseudo alma gêmea, uma família improvisada alimentada por caos, resistência e um complexo amor”. Esta sinopse abarca apenas um episódio da temporada, o mais interessante de todos. A sinopse do site IMDb é menos poética, mas também atiça a curiosidade: “uma história de amor pouco convencional entre uma mãe solteira da classe trabalhadora, sua filha pequena e um homem gay privilegiado”.

Pode ser dito que Rain Dogs é um exemplo perfeito de humor britânico, ácido e negro. A verdade é esta: uma série de poucas gargalhadas, regada a muito vinho e más decisões.
As coisas acontecem muito rápido em Rain Dogs, de um episódio para o outro, o que é bom para manter o dinamismo da série. Isso impede que fiquemos entediados, mas não impede que julguemos severamente os personagens por todas as suas ações. A cada episódio, vem um ou mais facepalms e a exclamação: “não acredito que ele / ela fez isso!”. Talvez esta dinâmica faça alguns de nós nos sentirmos melhores com relação às nossas próprias pisadas de bola, mas uma hora esta dinâmica cansa.

Rain Dogs foi criada por Cash Carraway, escritora e roteirista que havia alcançado sucesso com seu livro “Skint Estate”, uma obra já conectada ao mundo que exploraria na série, pois o livro trata de mães solteiras lutando para sobreviver. Em vez de adaptar seu best-seller para a HBO – como era de início o plano – Carraway escolheu escrever uma comédia que é sobre família, não sobre pobreza – a pobreza é apenas o pano de fundo. Mas um pano de fundo que ela quer mostrar, pela primeira vez, não pelos olhos da classe média da qual em geral fazem parte os roteiristas de TV. É pobreza sendo retratada por quem já viveu nela.

“Rain Dogs”: pobreza de pano de fundo, pobreza de construção como série – Ambrosia
“Rain Dogs”

Descrita como “uma lembrança dos nossos tempos turbulentos”, em que ficamos apáticos com a pobreza e a com a possibilidade de pessoas estarem vivendo dependente de amigos, Rain Dogs foi muito elogiada pela crítica, mas não é para todo mundo. Eu não consegui gostar da saga destes personagens trágicos e, apesar de tudo, tão reais que dói. E talvez esteja aí o motivo: porque dói.

Rain Dogs

Rain Dogs
5 10 0 1
Nota: 5/10 Regular
Nota: 5/10 Regular
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