Renato Lima fala sobre quadrinhos, internet, feminismo e claro, sobre a Pocket Comics

Renato Lima possui uma longa carreira no cenário independente de quadrinhos e rock no Rio de Janeiro, mas foi com a Pocket Comics, sua empreitada digital, que seu trabalho ganhou uma visibilidade que coloca os quadrinhos de Renato entre os mais lidos do Brasil.

Aproveitando presença na Quinzena de Quadrinhos da Travessa como representante masculino na mesa “Meninas também entendem de quadrinhos! Criadoras e criaturas: a representação das mulheres nas HQs e o papel feminino dentro e fora das páginas”, conversei com Renato sobre esta transição na sua vida profissional.

pocket comics por renato lima

Talvez você esteja cansado da história, mas como surgiu a Pocketcomics?

As Pockets surgiram no final de 2012 por conta de alguns desafios pessoais:
1) voltar ao mundo das HQs (o qual eu tinha me afastado após as experiências com a Mosh! e a Jukebox);
2) tentar me aperfeiçoar como roteirista de quadrinhos (depois de algumas experiências com storyboards para Cinema e Seriados);
3) e lançar os desenhos da Isabella Amaral (minha ex-aluna e que desenhou as “histórias de bolso” da 01 até a 66, por cerca de 8 meses);
em janeiro de 2013 começamos a postar no Facebook, tentando manter uma regularidade.

pocket comics renato lima isabella amaral 23

Depois de um bom tempo de experiência de impressos, como foi sua transição para as mídias digitais e o grande sucesso da Pocketcomics no Facebook?

A transição me pareceu natural, a alternativa a ser adotada para um recomeço.

A experiência com a Jukebox tinha me falido financeiramente (apesar do Troféu HQ MIX e de toda visibilidade, o custo era muito alto e não tinha tantos patrocínios).

A mídia digital exige um outro tipo de esforço para divulgação mas o alcance é incomparável: se a Jukebox esgotava 3 mil exemplares de tiragem (por edição), podemos supor que ela alcançasse 6 a 9 mil leitores.
Cada post da Pockets atinge, em média, 30 a 40 mil visualizações, sem contar as outras páginas que as compartilham. Muitas vezes mais do que isso, um número de leitores que nunca tive antes!!

Poderia dizer que as redes sociais funcionam tanto para os artistas já consagrados como são excelentes plataformas para novos autores. E, principalmente, para formar um novo público de quadrinhos, publicar HQs mais ousadas. Embora nada substitua o cheiro do papel, né?

renato lima pocket comics

Muitas vezes suas histórias de bolso retratam questões ligadas ao universo feminino. Como você lida com o alcance das mensagens da Pocketcomics entre as mulheres?

Novamente, foi algo que surgiu naturalmente, sem pensar muito. Acaba que funciono como um liquidificador (e acho que todos funcionamos em parte assim): escrevo as histórias em cima de experiências pessoais, depoimentos de amigas mais próximas e junto com os quadrinhos que sempre estou (re)lendo: Love & Rockets, Fun Home, Persépolis, I´m Age, Estranhos no Paraíso, Morango com Chocolate, Lost Girls, Tangências, O Edifício, American Splendor etc. Obras que, com toda certeza, influenciam as Pockets. O fato é que o universo feminino é MUITO mais rico e enigmático que o masculino (sem contar que a visão masculina já ocupa MUITO espaço na mídia).

As Pockets são só uma tentativa de retratar esses nuances, de uma forma sincera. Algo que anteriormente já havia tentado numa tirinha adolescente (chamada Teenangel). Quando optei por falar de Amor nos quadrinhos (ao invés de algo com um humor mais ácido ou uma piada mais fácil), também fazia parte daquele desafio como roteirista. Porque acaba sendo algo bem difícil para mim.

Por isso, acho engraçado quando as meninas ficam surpresas por “ser um homem escrevendo”. E eu também fico surpreso cada vez que as Pockets são compartilhadas (fazendo funcionar o formato de “meme”) e consigo essa sintonia, essa troca com o público. Essa é a melhor parte disso tudo.

renato lima isabella amaral pockets 34

Quando os comentários nas redes sociais mais parecem coisa de faroeste, como você lida com essa interação do público?

Acho bem complicado. Às vezes me desanimam, muitas vezes me dão ideias e a vontade de desenhar mais.
Por conta dessa leitura dinâmica de hoje em dia, várias Pockets geraram debates, algumas polêmicas, posts ofensivos.

No início, ainda respondia aos mais radicais mas era perda de tempo, porque não há diálogo. Já li que a internet estaria na sua adolescência, quando é 8 ou 80, cheia de discursos em caps lock e radicalismos. Acho que é bem por aí.

Ao mesmo tempo que tento fazer um quadrinho idealista (que funciona, em parte, como crônica), tem gente que altera esse mesmo quadrinho e coloca um discurso de ódio. Torço para que a internet amadureça logo (assim como a sociedade em que vivemos) e possamos compartilhar as nossas visões de mundo, respeitarmos uns aos outros. Se as Pockets puderem contribuir, de alguma forma, para um debate, já terá valido à pena.

pocketcomics resolucoes 2015 renato lima

E o que vêm a seguir para a Pocketcomics?

Tive várias ideias em 2014 mas que, por conta de vários trabalhos e da minha falta de disciplina, não foram adiante. Infelizmente, não consegui ainda um $$ para uma série animada das Pockets (mas é algo que já está nos meus planos junto com o diretor Bebeto Abrantes).

Muita gente tem pedido e, em 2015, devo lançar uma série de camisas e outros mimos. Mas com uma cara artesanal, para que cada peça seja única. Afinal, o tempo todo eu bato na tecla do indivíduo e por isso será bacana que cada leitora/leitor da Pockets tenha algo exclusivo, só dela/dele.

Além disso, o mini evento AGÁQUÊS continuará a acontecer no Sobrado Boemia e outros 2 projetos (uma Exposição e uma série de Shows) devem agitar mais um pouquinho a cena, no ano que vem.
A pedra continua rolando 😉

 

Para conhecer o trabalho de Renato e a Pocket Comics não deixe de acompanhar sua página no Facebook.

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