"Rua Cloverfield, 10" consegue feito raro nos filmes atuais: surpreender – Ambrosia

“Rua Cloverfield, 10” consegue feito raro nos filmes atuais: surpreender

Uma das coisas intrigantes de “Rua Cloverfield,10” (10 Cloverfield Lane, EUA/2016) é que há  uma relação com o filme de 2008, mas ela não é direta. Daí, não fica claro se é uma continuação, um prequel ou um spin off. Temos que adivinhar pelas pistas que vão sendo deixadas ao longo da exibição, e que os fãs do primeiro filme irão identificar facilmente. Contudo, não é necessário assistí-lo para compreender este aqui. A característica comum entre as duas produções é o minimalismo. Se no filme anterior praticamente toda a trama era vista sob o ponto de vista de uma câmera amadora, neste temos apenas três atores no interior de uma casa, ou melhor, um abrigo.

Somos introduzidos na trama em meio a uma discussão entre Michelle (Mary Elizabeth Winstead, de “Scott Pilgrim”) e seu noivo Ben por telefone, quando esta está deixando New Orleans, conduzindo seu carro através da Louisiana rural. Tarde da noite, sintonizando o dial do rádio do veículo, ouve notícias sobre apagões contínuos nas grandes cidades. Distraído por uma chamada de Ben, Michelle sofre um acidente e fica inconsciente.

Ela acorda em um quarto acorrentada a uma parede, e descobre que está em um abrigo anti-nuclear criado por Howard (John Goodman), que insiste estar protegendo-a de um ataque alienígena, ou estrangeiro, com armas químicas. Também no abrigo está Emmett (John Gallagher Jr.), que não soluciona totalmente as dúvidas de Michelle em relação a Howard, mas é a única pessoa com quem ela, em tese, pode contar.

‘Rua Cloverfield’ segue a mesma linha narrativa das outras produções da Bad Robot, de J.J. Abrams: fazer o espectador se questionar sobre os passos seguintes da trama e, no final, se deparar com um desfecho que nem sempre está de acordo com o que se pensou desde o início do filme. Nisso o filme acerta em cheio. O trailer pouco revelador ajuda bastante, pois, ao contrário dos filmes de super heróis que revelam praticamente tudo nas prévias, aqui nos deparamos com algo bastante distinto do que vimos no trailer, ou melhor, achamos que vimos –outra característica peculiar de Abrams e seu time, que trabalharam silenciosamente neste filme enquanto os olhos do mundo estavam voltados para “Star Wars: O Despertar da Força”.

Os roteiristas estreantes em longa metragem Josh Campbell e Matthew Stuecken se unem a Damien Chazelle, autor e diretor de ‘Whiplash” e constroem uma bem azeitada história de suspense, com um roteiro engenhoso, que faz o que pouquíssimos filmes atuais conseguem: surpreender.

A direção de Dan Trachtenberg, também estreante em longas e pupilo de Abrams, é determinante na engrenagem, não só na criação do clima, auxiliado pela competentíssima edição, mas também no trabalho com os atores. John Goodman está em momento soberbo, sua atuação dá a máxima credibilidade à função catalisadora de conflito do personagem. Sua oscilação entre a ameaça e a proteção é a peça fundamental na construção do clima claustrofóbico, que acena para “Alien: O Oitavo Passageiro” (Michelle até tem um quê de Ripley), e também da dúvida que perdura até o desfecho: o perigo está realmente do lado de fora, do lado de dentro ou em ambos os lugares?

E todo o contexto reflete de forma assertiva a paranóia perene na terra do Tio Sam, desde o século XIX, quando se construiam barreiras para manter os índios à distância, passando pelos porões das casas transformados em bunkers para se proteger de um iminente ataque nuclear soviético no auge da guerra fria, até chegar ao muro idealizado pelo pré-candidato republicano Donald Trump, visando barrar imigrantes mexicanos e coibir o terrorismo islâmico.

É impossível não enxergar naquelas três pessoas dentro de um bunker, se protegendo de algo que não sabem ao certo, um paralelismo com a América acuada, temendo a invasão do desconhecido, sejam os imigrantes adentrando em massa o seu território em busca de uma fatia do sonho americano, sejam lunáticos visando, literalmente, explodir pelos ares o modelo de sociedade que eles tanto prezam.

Por fim, “Rua Cloverfield, 10” vem se integrar à boa safra de filmes supreendentes desse início de 2016, na qual se incluem “O Regresso”, “Boa Noite Mamãe” e “A Bruxa”. Mais um ponto para a turma da Bad Robot, que nos presenteou com essa pérola no intervalo entre um Star Wars e um Star trek.

Filme: Rua Cloverfield, 10 (10 Cloverfield Lane)
Direção: Dan Trachtenberg
Elenco: Mary Elizabeth Winstead, John Goodman, John Gallagher Jr.
Gênero: Ficção científica, Suspense
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Paramount Pictures

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