Demorou longos 5 anos para ficar pronto, mas valeu muito a pena esperar por Solange Knowles. É bem essa a sensação que nos acomete quando ouvimos seu mais novo álbum A Seat At The Table, um trabalho que dialoga bastante com o ótimo disco da irmã famosa, Beyoncé, Lemonade.
Trata-se de um disco empoderado, na maneira mais dimensional dentro do R&B possível, mas com a contundência da sonoridade indie/cool já reconhecida da cantora. Solange faz do seu canto, um discurso. E pela poética e musicalidade, ela discorre sobre identidade, posicionamento social e feminismo, em canções entremeadas por interlúdios sucessivos (inclusive com a participação de Tina, mãe das cantoras).
Esqueça os hits radiofônicos, mas tenha o coração aberto para a beleza de músicas como ‘Weary’ e ‘Scales’, sempre na conjugação entre melodia perene e forte discurso. Mas os grandes destaques ficam exatamente nas que ganharam clipes belíssimos: ‘Cranes in the Sky’ e, principalmente na excelente e deliciosa ‘Don’t Touch My Hair’ (Não toque no meu cabelo … Eles não entendem / O que isso significa para mim), em que Solange consegue chegar a primazia do que pretende em seu trabalho. Sério, os clipes estão deslumbrantes.
Uma característica interessante de se notar é que a cantora procurou (assim como Beyoncé fez em Lemonade) criar um universo gravitacional sobre esse disco, numa escala discursiva e estética (repare nos detalhes estéticos e críticos dos clipes) que fazem com que A Seat At The Table expanda sua pretensão para uma espécie de experiência reflexiva, uma tendência forte entre os artistas negros americanos que fazem sucesso hoje, como Kendrick Lamar e Frank Ocean.
Para além disso tudo – e até da necessidade de impor sua contundência diante de uma América ainda tão equivocada (leia-se, que elege Donald Trump!) – está a voz aveludada e firme de Solange, uma característica artística que sempre lhe concedeu muita personalidade.
Se depender de A Seat At The Table, esse bom paradigma da cantora ainda vai marcá-la na História da música americana que impacta a linha tênue entre arte e sociedade.