Cultura colaborativa! Participe, publique e ganhe pelo seu conteúdo!

“Suburbicon”: falta e excesso de identidade

Joel e Ethan Coen, mais conhecidos como os irmãos Coen, têm uma assinatura forte que ajudou a dar personalidade e consistência ao cinema americano recente. Diretores habilidosos e cheios de personalidade, também enveredam bastante pelo roteiro, tendo escrito filmes como Ponte dos Espiões, de Steven Spielberg, e Invencível, longa dirigido pela atriz Angelina Jolie.

George Clooney resolveu pegar um dos primeiros roteiros da dupla, de mais de trinta anos, e fez Suburbicon: Bem-Vindos ao Paraíso, seu mais novo filme. Eis uma alegoria arquetípica dos ilusórios subúrbios norte-americanos em fins dos anos 50. O verdadeiro American Way of Life. Inclusive o filme começa espertamente como num comercial da época, destacando o local como a terra das oportunidades e da vida feliz. Obviamente que essa fabulação esconde em si a verdadeira face de viver em sociedade, sobretudo em tempos tão obscuros como aqueles, em que o apartheid era normalizado e questionáveis e rígidas normas sociais eram estimuladas.

A trama paraleliza a chegada de uma família negra nesse subúrbio, gerando uma grande revolta entre a vizinhança (“minha casa vai desvalorizar com a presença de negros por perto“, “não acho que devam ser hostilizados, mas os negros não podem viver junto de nós“). Já na casa dos Meyers, um assalto esquisito provoca uma espiral trágica na família que… Bem, melhor não falar muito sobre essa família pois é nela que estão concentradas todas as viradas e surpresas da trama.

A forte identidade dos irmãos está tão presente na palavra que a imagem de Clooney acaba comprometida. Soa como o Clooney querendo ser Coen. O que nem é exatamente um problema. Mas o filme ressoa o tempo inteiro esse jogo de identidades, e nenhum dos lados ganha necessariamente com isso. Por outro lado, existe uma amoralidade (típica dos irmãos) que torna a escalada cômico-trágica um tanto estimulante de se acompanhar. Talvez falte mais espessura nos personagens, fronteiriços numa busca estilística, mesmo com a dignidade de interpretações de Matt Damon e (especialmente) de Julianne Moore. O personagem que mais esboça humanidade para além da excentricidade do todo, é o tio Mitch (Gary Basaraba).

Clooney é um diretor interessante. Do incensado Boa Noite, Boa Sorte até o ótimo Tudo pelo Poder, vemos que seu talento – sem grandes maneirismos – é objetivamente bem explorado em seus filmes (esqueça que ele “cometeu” o péssimo Caçadores de Obras-Primas). Quando explora sua própria propriedade artística, Suburbicon é ótimo, como no momento em que a vizinhança está fazendo manifestação na porta dos negros e nem se dá conta que na família vizinha – e branca! – está acontecendo um crime praticamente diante deles. Nessa oscilação de conceitos o filme mais perde que ganha. Mas ainda assim estamos falando de George Clooney e dos Irmãos Coen. Ou seja, apesar da irregularidade, essa perda é até bem saborosa…

Filme: Suburbicon: Bem-Vindos ao Paraíso
Direção: George Clooney
Elenco: Matt Damon, Julianne Moore, Noah Jupe
Gênero: Policial/Comédia
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Diamond Films
Duração: 1h 44 min 
Classificação: 16 anos

Compartilhar Publicação
Link para Compartilhar
Publicação Anterior

Mark Hamill não concordou com a abordagem de Luke em “Os Últimos Jedi”

Próxima publicação

The Legend of Zelda chega em mangá pela Panini

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia a seguir