Uma das decisões mais acertadas de “Super Mario Bros – O Filme” foi adaptar o mascote da Nintendo para o cinema como uma animação. O formato permite sem grandes sobressaltos reproduzir todo aquele mundo colorido e até meio lisérgico dos games, como o conhecemos desde 1985. Sem as limitações do mundo real daquela malfadada adaptação live-action de 1993 (dizem por aí que virou cult) e do filme do rival “Sonic: O Filme”, sobrou espaço mais do que suficiente para explorar os recursos de um jogo de videogame sem o menor constrangimento.
Em “Super Mario Bros.”, Mario e Luigi são dois irmãos encanadores do Brooklyn, de família italiana, que acidentalmente viajam para outra dimensão. Luigi vai parar nos domínios do koopa gigante e cuspidor de fogo Bowser, enquanto Mario cai no Reino do Cogumelo. Lá ele conta com a ajuda de Peach, a princesa daquele mundo, e de um cogumelo antropomórfico chamado Toad para encontrar Luigi e livrar o mundo do implacável monstro.
A direção ficou a cargo da dupla Aaron Horvath e Michael Jelenic e se mostrou uma escolha bastante pertinente. Cabeças da série animada “Jovens Titãs em Ação!” e sua ida para o cinema, provaram que também entendem como levar com leveza e bom humor a dinâmica dos videogames para a tela. Além dos easter eggs distribuídos ao longo dos relativamente curtos (porém redondinhos) 92 minutos de duração, que fazem, e muito, a alegria dos jogadores de primeira hora, eles conseguem inserir na trama de forma sagaz verdadeiras reproduções de fases do jogo, e sua dificuldade. Há uma sequência que é um claro aceno àqueles que falharam miseravelmente tentando passar da primeira fase de Super Mario.
O roteiro de Matthew Fogel (“Minions 2: A Origem de Gru”, “Uma Aventura Lego 2”) é fundamental para o sucesso de Horvath e Jelenic nessa empreitada. É nítido o respeito e o carinho pelo game e sua mitologia. Algo muito semelhante ao que Dave Filoni faz com os produtos de Star Wars e ao que Duncan Jones demonstrou no subestimado “Warcraft: O Primeiro Encontro Entre Dois Mundos”.
A mudança no script, que tira Peach da posição de donzela em perigo para torná-la uma espécie de Princesa Leia com um quê de mestre de RPG foi bem-vinda e não descaracterizou a personagem, por mais que alguns conservadores possam vir a reclamar de que o roteiro recorreu à “lacração”. As etapas da jornada do herói são respeitadas, com o adequado crescimento do protagonista, e os personagens do universo da Nintendo são inseridos de maneira orgânica e divertida.
Em inglês Mario ganhou a voz de Chris Pratt e Peach a de Anya Taylor-Joy. Bowser foi dublado por Jack Black. A versão exibida para a imprensa foi a dublada, mas as vozes em português estão impecáveis. Não cometeram o equívoco de alguns títulos de convocar famosos no lugar de dubladores experientes para emprestar as vozes, algo que funciona no original, dado que a animação é produzida em cima das vozes gravadas. A direção de dublagem acertadíssima e o bom desempenho do elenco evitaram que qualquer partícula de graça fosse perdida ali.
A Illumination, casa dos Minions e do Malvado Favorito, que produz o longa animado, não é nenhuma Pixar. Portanto não se deve esperar de “Super Mario” uma trama inovadora, piadas inteligentíssimas ou desenvolvimento profundo dos personagens. É bom ter em mente que o alvo são os pequenos, divertindo também os pais, e não o contrário. A qualidade da animação em 3D é bastante satisfatória, seguindo o molde do game, só que com texturas mais arrojadas.
Por fim, “Super Mario Bros. – O Filme” é um belo tributo à longeva franquia dos jogos eletrônicos e mostra que filmes baseados em games podem funcionar muito bem como feel-good movies. Quando começou a ser desenvolvido, tinha como objetivo estabelecer os games como o filão em Hollywood sucessor dos filmes de super-herói. De fato isso periga acontecer, pelo que se viu nos desempenhos de Homem-Formiga e Shazam! nas bilheterias. E se o plano da Nintendo é criar seu MCU, o pontapé inicial foi dado com sucesso. Sonic e Mario levam a batalha Sega vs Nintendo dos anos 1990 para o cinema, com vantagem da segunda, por enquanto.
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