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“A Torre Negra” transforma obra de Stephen King em aventura que não empolga

A mente mais que criativa de Stephen King foi a responsável por livros e contos realmente antológicos, que acabaram parando no cinema e resultaram tanto em filmes marcantes quanto também em trabalhos facilmente esquecíveis. Do primeiro grupo, podemos facilmente citar “Carrie – A Estranha” (a primeira versão, dirigida por Brian De Palma), “O Iluminado”, “Conta Comigo”, “Um Sonho de Liberdade”, “À Espera de um Milagre”, entre outros. No outro, entram a segunda versão de “Carrie”, “O Apanhador de Sonhos”, “Colheita Maldita”, “A Janela Secreta”, e mais alguns. Infelizmente, o grupo dos piores ganha mais um integrante com a versão de “A Torre Negra” (“The Dark Tower”, 2017), inspirada na série de livros (oito no total), que descreve um complexo confronto entre as forças do Bem e do Mal, mas que resultou num filme absolutamente genérico, cheio de inconsistências e, principalmente, sem alma, por consequência, muito decepcionante.

A trama é focada no jovem Jake (Tom Taylor), que vive em Nova York com sua mãe Laurie (Katheryn Winnick) e o padrasto Lon (Nicholas Pauling). A partir de sonhos estranhos que não entende, o garoto faz desenhos detalhados das imagens de outro mundo e alguns de seus habitantes como o Pistoleiro (Idris Elba), o Homem de Preto (Matthew McConaughey), além de uma grande Torre Negra. Transportado para esse universo, conhecido como Mundo Médio, Jake descobre que seus sonhos são reais e que o Pistoleiro, cujo verdadeiro nome é Roland Deschain, é o último de um grupo de guerreiros cuja missão é proteger a Torre Negra.

O motivo é que essa construção fica no centro do universo e impede que seres malignos, liderados por Walter O’Dim, o Homem de Preto, possam invadir e destruir nosso planeta e outros mundos. Jake se une a Roland para impedir que Walter consiga derrubar a Torre, mas precisa também evitar cair nas mãos de seu inimigo, que tem planos terríveis para ele.

O que torna “A Torre Negra” um filme abaixo do esperado é que o diretor Nicolaj Arcel não mostra um pingo de criatividade com o material que teve nas mãos. Quase todas as cenas de ação são exatamente como vistas em diversas produções anteriores, mas sem pique e energia suficientes para empolgar. A frieza do cineasta destrói toda e qualquer possibilidade de o espectador se absorver pelo que é mostrado na tela e não o faz nem se importar com os personagens, o que é um erro crasso para esse tipo de filme. O roteiro (co-escrito por Arcel, mais Akiva Goldsman, Jeff Pinkner e Anders Thomas Jensen) insiste na premissa básica e já batida de que um jovem aparentemente normal é O Escolhido para salvar o mundo (ou outros mundos) recheada de tantos clichês que até mesmo quem não se liga em muitos detalhes vai perceber a semelhança com séries consagradas como “Star Wars” ou “Harry Potter”.

Se o texto fosse mais centrado no confronto entre o Pistoleiro e o Homem de Preto (que é o ponto central dos livros) e detalhasse mais as questões do Mundo Médio, com certeza ele seria bem mais interessante. Além disso, quando a trama passa a acontecer em Nova York ela cativa ainda menos e dá a entender que faltou dinheiro para mostrar maiores detalhes do universo fantástico que se pretendia apresentar. Este é, aliás, um recurso que lembrou muito o que foi feito em “Mestres do Universo” (aquele filme do He-Man com Dolph Lundgren, lembra?) em que, sem orçamento para que a história toda acontecesse em Eternia, os realizadores optaram em trazer os personagens para o nosso planeta.

Na parte técnica, os efeitos especiais pecam um pouco por usar computação gráfica de forma visível e em alguns momentos que ficariam melhor se fossem usados efeitos práticos. Um exemplo disso é no momento em que um personagem é baleado e voa, batendo numa parede. Fica claro que, na hora do impacto, o ator foi substituído por um “dublê digital”. A fotografia, assinada por Rasmus Videbaek, é um pouco escura demais sem necessidade, talvez para esconder alguma falha da produção. A edição feita por Alan Edward Bell e Dan Zimmerman é picotada demais, sem fluidez, não deixando o público se envolver adequadamente com a trama. Isso, aliás, evidencia os problemas da produção, já que a Sony Pictures ordenou uma série de refilmagens por não estar satisfeita com a primeira versão do filme, o que se refletiu no trabalho dos editores, que fizeram o que podiam para remendar o que estava comprometido. No entanto, vale destacar os efeitos de maquiagem e o design das criaturas, especialmente as demoníacas, que estão bem interessantes.

Escolhido para interpretar o Pistoleiro Roland, no lugar de Javier Barden (que foi escalado para o papel quando Ron Howard, um dos produtores, estava à frente da direção), Idris Elba faz o que pode para tornar seu personagem convincente, já que ele carrega um fardo de ser o último de seu grupo a fazer frente ao vilão e seus planos de conquistar o universo e que, neste confronto, perdeu muitas pessoas que amava. O ator não se sai mal e é um dos pontos positivos do filme, com certeza.

Matthew McConaughey, infelizmente, tem aqui uma de suas piores atuações nos últimos anos. Suas expressões faciais ficaram prejudicadas por tratamentos estéticos e o astro vencedor do Oscar por “Clube de Compras Dallas” se limita a exagerar nas caras e bocas para parecer mal, mas só consegue ser muito caricato. O jovem Tom Taylor, pelo menos, entrega uma performance competente e convence como Jake. Já o resto do elenco, que conta com nomes como Jackie Earle Haley (como o bandido Sayre) e Claudia Kim (a vidente Arra), pouco tem a fazer.

“A Torre Negra” falha em praticamente todos os seus planos de criar uma nova franquia de filmes, pois dificilmente alguém vai querer assistir a continuação das histórias do Pistoleiro contra o Homem de Preto. Ao acender das luzes do cinema, o público vai se esquecer rapidamente daquilo a que assistiu por simplesmente não ver nenhuma novidade em relação ao que é mostrado nos últimos anos. O que é uma pena, pois os livros escritos por Stephen King (que também originaram histórias em quadrinhos) possuem muitos fãs e tinham tudo para conquistar novos admiradores a partir desta produção. Ficou para uma próxima vez.

Filme: A Torre Negra (The Dark Tower)
Direção: Nikolaj Arcel
Elenco: Idris Elba, Matthew McConaughey, Tom Taylor
Gênero: Ação e Aventura
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Sony Pictures
Duração: 1h 35min
Classificação: 12 anos

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