Cintilância, poesia e música no belo "A Marca da Água" – Ambrosia

Cintilância, poesia e música no belo "A Marca da Água"

Cintilância, poesia e música no belo "A Marca da Água" – Ambrosia
Cintilância, poesia e música no belo "A Marca da Água" – Ambrosia

Água, azul, cintilâncias e música: essas talvez possam ser as chaves que conduzem o espetáculo onírico A Marca da Água, de Paulo de Moraes, que, ao lado de Maurício Arruda Mendonça, assina também a dramaturgia. A poesia de imagens e movimentos que se faz com esses materiais, para dar vida a lembranças e alucinações, realçando o mundo subjetivo da protagonista, depende de uma coreografia de elementos muito bem montada que agrega reflexos de luz, imagens projetadas e sensação de umidade.
O espetáculo se inicia a partir de uma ruptura que pode levar a caminhos díspares no quotidiano da personagem Laura: um peixe enorme e improvável aparece caído, ainda dando sinais de vida, no jardim de sua casa. Aparentemente, ela e o marido têm de se haver com essa situação inesperada.
Somada à imagem, uma melodia em volume crescente, que a plateia pode experimentar através da música executada ao vivo pelo diretor musical Ricco Viana, leva a personagem a um caminho sem volta, cuja escolha é solitária: ela pode recorrer ao saber médico para estancar o processo clínico que começa a se instalar novamente e enfrentar os resquícios de uma condição neurológica que tem história inicial na infância ou, ao contrário, nada interromper e aproveitar para enfim dar vazão a imagens, lembranças e afetos guardados que tudo isso traz à tona.
E, olhando de fora, essa não parecer ser uma escolha fácil, dado que o que está em jogo são o risco de morte, a saúde do cérebro (órgão privilegiado nessa era do ‘sujeito cerebral’, para usar a expressão de Alain Ehrenberg), o casamento e os laços familiares antigos.

É de grande beleza a costura de cenas, falas, diálogos e movimentação que o elenco, formado por Patrícia Selonk, Ricardo Martins, Marcos Martins, Marcelo Guerra e Lisa Eiras sustenta no palco: eles intercalam as cenas fora da água com agitação dentro da água, em um tanque de 3 mil litros que faz as vezes de piscina, mar, sonho e memória. A cenografia também é assinada por Paulo de Moraes, que permite a expansão do azul, e a bela iluminação de Maneco Quinderé valoriza a sensação de que tudo está imerso em um mundo aquoso, impregnado da fluidez que também habita as imagens oníricas e a linguagem poética, conferindo tons azuis ou mais alaranjados às cenas.
E sim, a linguagem do inconsciente (nada neurológico, nadíssima cerebral) se expressa de modo semelhante às características e ao movimento da água: sem as barreiras lógicas da razão e da censura, liquefazendo a solidez dos caminhos prévios, unindo figuras inesperadas, condensando ou turvando imagens e personagens e, finalmente, trazendo de bem longe aquilo em que nunca mais se pensou, como um objeto náufrago que correntes marítimas levam à costa e as ondas depositam na areia molhada.

Uma das cenas de maior beleza da peça é aquela em que todos estão no palco, atores e diretor musical, cada ator com seu acordeão, conduzindo uma melodia que confere suavidade à escolha de Laura. Aquilo que poderia ser o momento mais difícil da vida da personagem é o que ela transforma em segurança emocional e reencontro. Na dramaturgia de A Marca da Água não há conflito na protagonista, mas resgate, e a ênfase recai sobre a qualidade estética e poética de sua vivência e decisão, mais do que em qualquer embate psicológico que pudesse ali acontecer.
A suavidade e o lirismo da montagem tornam fluida como um líquido sem margens e limites um tema que poderia ser espinhoso e terrível, ou simplesmente melodramático. Não parece ser à toa que o espetáculo foi vencedor de prêmios como Shell-RJ 2012 de Melhor Autor e APTR 2012 de melhor Iluminação, e segue, desde 2012, em apresentações no Rio, São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, Montevidéu (Uruguai), Whuzhen (China) e Fortaleza.
Ficha técnica
Direção: Paulo de Moraes
Dramaturgia: Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes
Montagem da Armazém Companhia de Teatro
Elenco: Patrícia Selonk, Ricardo Martins, Marcos Martins, Marcelo Guerra e Lisa Eiras
Iluminação: Maneco Quinderé
Figurinos: Rita Murtinho
Direção Musical: Ricco Viana
Cenografia: Paulo de Moraes
Vídeografismo: Rico Vilarouca e Renato Vilarouca
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Projeto Gráfico: Jopa Moraes
Fotografias: Mauro Kury
Produção Executiva: Flávia Menezes
Produção: Armazém Companhia de Teatro
Site Oficial: www.armazemciadeteatro.com.br
Serviço
Nome do espetáculo: “A Marca da Água”
Direção: Paulo de Moraes
Dramaturgia: Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes
Elenco: Patrícia Selonk, Ricardo Martins, Marcos Martins, Marcelo Guerra e Lisa Eiras
Local: CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Teatro da CAIXA Nelson Rodrigues
Endereço: Av. República do Chile, 230, Centro, Rio de Janeiro / Entrada pela Av. República do Paraguai (próximo ao Metrô e VLT Estação Carioca)
Informações: (21) 3509-9600 / 3980-3815
Temporada: 27 de abril a 20 de maio, sexta a domingo às 19h
Ingressos: R$ 20 (plateia) e R$ 10 (balcão)
Além dos casos previstos em lei, clientes CAIXA pagam meia.
Lotação: 400 lugares (mais 08 para cadeirantes) Acesso para pessoas com deficiência
Bilheteria de terça-feira a domingo, das 13h às 20h
Classificação: 14 anos
Duração: 70 min

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