"Noites Sem Fim" traz texto premiado da dramaturga Chloe Moss – Ambrosia

“Noites Sem Fim” traz texto premiado da dramaturga Chloe Moss

“Noites Sem Fim”, espetáculo com texto da dramaturga inglesa Chloe Moss e direção de Marco Antonio Pâmio, traz à cena uma história interessante: duas ex-detentas, que dividiram por alguns anos a cela e a reclusão, agora se reencontram em liberdade e estão reconstruindo sua vida e a relação que há entre elas.

A peça é fruto de um período em que Moss fez residência como escritora no Presídio Cookham Wood, Inglaterra, em 2006. Viver em reclusão, numa instituição total, para usar os termos de Erving Goffman, é difícil, mas o reencontro com o mundo fora das grades também impõe desafios, e algumas histórias já exploraram essa temática instigante, como, por exemplo, o ótimo filme Um sonho de liberdade (com Morgan Freeman e Tim Robbins, em que um dos personagens, um senhor preso há décadas, cuja função era cuidar da biblioteca do presídio, enfrenta o vazio e a solidão quando é libertado).

As personagens vividas por Angela Figueiredo e Fernanda Cunha mostram-se claramente descompassadas não apenas com a vida fora do presídio como também entre si, tendo que se acertar perante as novas exigências do mundo e do relacionamento que podem ou não reconstruir fora do ambiente exíguo e claustrofóbico de uma cela de prisão. O interessante da temática de Moss é justamente a evolução dessa relação e os tensionamentos pelos quais elas passam.

O cenário e os figurinos de Cássio Brasil sublinham esses aspectos e são bem interessantes ao reproduzir a sensação de claustrofobia e a atmosfera cinzenta que associamos rapidamente aos presídios. O quarto onde vive uma das personagens, e que compõe o cenário, parece só ter uma cor, um tom.

Os móveis usados, todos cinzentos e marrons, compõem, junto com as roupas que elas vestem, um ambiente escuro que dá continuidade à vida anterior. É como se as ex-prisioneiras ainda fossem obrigadas a usar uniformes de cor igual, sempre os mesmos, homogêneos e apagando sua individualidade. Não parece ser tarefa simples sair da condição de prisioneira.

Apesar de uma premissa interessante e de ótima ambientação, senti falta de veracidade em alguns momentos da atuação, que parecia exageradamente alegre em cenas melancólicas ou remetendo a um humor que não existia, como quando uma delas, por duas vezes, diz à outra o quanto ela é engraçada e a faz rir muito. Ainda que isso possa querer remeter a uma falta de espontaneidade das personagens entre si quando se reencontram em um ambiente deslocado daquele em que se conheceram, esses momentos não convencem.

Além disso, algumas palavras escolhidas pela tradução do texto em português denotaram certa falta de verossimilhança no que diz respeito à linguagem, que numa mesma personagem é, às vezes, mais sofisticada (quando, ainda que estranhando, refere-se à expressão ‘iluminação indireta’ ou ‘luz indireta’) e, em outras, mais rude (a mesma personagem refere-se ao próprio seio como ‘teta’, termo grosseiro, em contraste com o primeiro, e que não é usual por aqui, soando um tanto quanto artificial).  Alguns retoques nesses quesitos, salvo engano, podem ajudar a valorizar ainda mais a história, cujo texto ganhou o prêmio Susan Smith Blackburn Playwriting Prize, em 2009.

FICHA TÉCNICA

Texto: ChloeMoss
Tradução: Marco Aurélio Nunes
Direção: Marco Antônio Pâmio
Elenco: Angela Figueiredo e Fernanda Cunha
Assistente de Direção: Gonzaga Pedrosa
Trilha Sonora e Sonoplastia: Branco Mello e Ricardo Severo
Cenário e Figurinos: Cassio Brasil
Desenho de Luz: Fran Barros
Preparação Corporal: Marco Aurélio Nunes
Make-up Designer: Beto França
Vídeo de Divulgação: Nanda Cipola
Fotos: João Caldas
Projeto gráfico: Vicka Suarez
Assistentes de Produção e Contrarregras: Luciana Affonso e Nanda Cipola
Operador de Luz: Armando Júnior
Operador de Som: Dominique Arantes
Cenotécnico: Domingos Varela
Assistente de Cenotécnico: João Carvalho
Serralheiro: Luís Carlos Fernandes
Assistente de Serralheiro: Renato Fernandes
Costureira: Yrondi Moço Rillo
Apoio: Centro Cultural Banco do Brasil
Produção: Angela Figueiredo e Fernanda Cunha
Realização: Casa 5 e Cia. As Moças
Assessoria de imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

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