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A Tropa, em cartaz no CCBB-RJ, traz atuações vibrantes, tiradas hilárias e temática atual

A Tropa, com direção de César Augusto, parte de uma premissa ótima e não poderia ser mais atual. Um pai internado e à espera dos resultados dos exames para receber alta, sua ideologia conservadora e militarista que se refere ao golpe militar como revolução, e os quatro filhos, que se reúnem nessa conjuntura para visitá-lo, acompanhá-lo e, fatalmente, cobrar a fatura de dores antigas.

Gerações e interesses diferentes estão no palco. Os filhos têm suas idiossincrasias e particularidades, um dentista à sombra do pai, um engenheiro que tem negócios escusos, um jornalista que quer fazer um filme e o caçula e sua trajetória de uso de drogas e internações em clínicas de reabilitação. Todos parecem trazer mágoas antigas e revelações que salpicam o embate que os quatro promovem ao redor do pai. Nada mais atual que o conflito de idéias políticas que também se dá ali, condensado nos cinco personagens e nos debates que se dão entre eles.

a tropa outra menorO espetáculo, do autor Gustavo Pinheiro e vencedor da etapa carioca da 7ª edição do concurso de dramaturgia Seleção Brasil em Cena, é interessante do início ao fim. Trata-se de uma história que começa muito engraçada, não perde seu clima humorado, mas termina com uma dramaticidade de tirar o chapéu. Apenas alguns momentos de lembranças que os filhos compartilham, às gargalhadas, não soam tão engraçados (e talvez só o fossem para quem os tivesse vivido, ficando o espectador um pouco de fora desses momentos, tal como um amigo novo junto com os amigos antigos que relembram feitos nostálgicos do qual aquele não participou), mas felizmente são poucos e rápidos e logo redundam em tiradas, essas sim, hilárias.

Otávio Augusto, no papel de coronel patriarca da família, está excepcional em sua veia cômica e irônica, e apesar de aos poucos irmos vendo o quão odioso ele pode ser, seu carisma faz com que o público ria de sua intolerância com os filhos e de seus comentários sarcásticos sobre eles e sobre o país até o final.

1_Otßvio Augusto_crÚdito Elisa MendesDono de uma energia ímpar (necessária à força do personagem que, apesar de adoecido, reluta contra os limites do corpo e da idade), o ator se supera. Faz um personagem ranzinza que praticamente não se levanta da cama, sempre ávido pelas notícias de jornal e sempre pronto a uma observação ácida sobre cada um de seus filhos. Estes, interpretados por Alexandre Menezes, Daniel Marano, Eduardo Fernandes e Rafael Morpanini, estão todos muito bem em seus respectivos papéis, com destaque para Daniel Marano, o caçula que passa por clínicas de reabilitação e é o que menos se encaixa nas brincadeiras que os irmãos fazem entre si quando se lembram de anedotas antigas da família. É deslocado de toda essa algazarra forçada, talvez por ter sido o último a nascer e não ter vivido todas as histórias, mas talvez por carregar consigo as revelações mais aterradoras. Os diálogos mais tensos que acontecem entre pai e filho se dão com o seu personagem, e é aí que vemos a entrega de Daniel e sua capacidade de contracenar à altura de um veterano como Otávio Augusto.

18_Daniel Marano_Rafael Morpanini_Edu Fernandes_Alexandre Menezes_CrÚdito Elisa MendesA cenografia de Bia Junqueira merece também um destaque positivo, na medida em que o cenário, armado entre as duas plateias, consegue reproduzir a atmosfera um tanto quanto fria de um quarto de hospital, assim como a interessante iluminação, de Adriana Ortiz, que ajuda na interpolação de momentos dramáticos trazidos do passado pelos respectivos personagens em meio ao reencontro da tropa na visita ao pai.

A Tropa é, em resumo,  um espetáculo pleno de atualidade, com bom texto, excelentes diálogos, tiradas hilárias, personagens sólidos e atuações vibrantes. Fica em cartaz no Teatro III do CCBB-RJ  até o dia 1 de maio.

 

FICHA TÉCNICA – A TROPA

Texto: Gustavo Pinheiro
Direção: Cesar Augusto
Assistente de direção: Raquel André
Elenco: Otávio Augusto (Pai), Alexandre Menezes (Humberto), Daniel Marano (João Batista), Edu Fernandes (Artur) e Rafael Morpanini (Ernesto)
Produção local: João Eizô
Preparação corporal: Raquel André
Preparação vocal: Breno Motta
Cenografia: Bia Junqueira
Iluminação: Adriana Ortiz
Vídeo-registro: Diogo Fujimura
Figurinos: Ticiana Passos
Trilha Sonora: Cesar Augusto e Rodrigo Marçal
Fotos: Elisa Mendes
Escolas de Teatro Participantes: CAL-Casa das Artes de Laranjeiras, UNIRIO, Nós do Morro, Universidade Candido Mendes, Escola de Teatro Martins Penna

FICHA TÉCNICA – PROJETO SELEÇÃO BRASIL EM CENA

Patrocínio: Banco do Brasil
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil
Produção: Associação Cena Brasil Internacional
Diretor de produção: Sergio Saboya
Coordenação Nacional: Carlos Chapéu
Comissão de seleção de textos: Beatriz Radunsky, Felipe Vidal, João Coelho, Luciana Eastwood Romagnolli, Sérgio Coelho Pinheiro, Sergio Fonta, Shala Felippi, Sergio         Maggio e Soraya Belusi
Website: José Dantas e Thiago Souza
Textos finalistas: A tropa (Gustavo Pinheiro), Algum lugar onde nunca estive(Bernardo Florim), Com as mãos vazias (Edih Longo), Elas (João Rodrigo Ostrower),Maioridade (Flávio Goldman), Mandíbula (Roberval Tamanho), Na real (Rogério Corrêa), Obra do acaso (Flavio Freitas), Princípios transgredíveis para amores precários(Thales Paradela), Projeto Stockton (Carol Rainatto), Sobre cordeiros, navalhas e dentes-de-leão (André Luis Silva) e Um caminho para Sara (Thales Paradela)
Equipe de produção: Alex Nunes, Maria Albergaria e Nathália Mascitelli.

SERVIÇO

Espetáculo: A tropa 
Estreia para convidados: 9 de março
Temporada: 10 de março a 1º de maio de 2016
Dias e horários: Quarta a domingo, às 19h30
Local: CCBB Rio – Teatro 3 (Rua Primeiro de Março 66 – Centro)
Capacidade: 70 lugares
Classificação indicativa: 14 anos
Gênero: Comédia dramática
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$

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