Duas mulheres ensaiam um texto de uma peça de teatro em construção. O texto que elas repassam mobiliza emoções, suscita dúvidas a respeito da veracidade da história, é interrompido por questionamentos entre elas. No palco, Rosana Stavis e Helena de Jorge Portela dão vida a essas mulheres em uma sala de ensaio, onde algumas questões se entrelaçam: aquelas que dizem respeito ao próprio ofício do teatro, de construção de personagem, do que é possível fazer em cena, do que é autobiográfico e do que é fictício, da mistura de aspectos de si com elementos dos personagens, e também as questões que dizem respeito ao conteúdo do texto que está sendo passado, uma discussão feroz entre um padrasto e sua enteada em torno de um abuso sexual na infância.
Nebulosa de Baco, novo espetáculo da Cia. Stavis-Damaceno, entrou em cartaz em 12 de outubro, junto com a reabertura do Teatro I do CCBB, tendo direção e dramaturgia de Marco Damaceno. A peça nos apresenta um texto que vai revelando aos poucos seu teor e o cenário em que é evocado, propondo-nos uma dinâmica interessante: somos deslocados ora para as imagens que se produzem na fala da mulher-personagem-do-texto e nas acusações que se multiplicam, ora para a conversa entre as duas atrizes a respeito do riso e do choro, da relação entre o que sentem e o que a personagem sente, das pontes possíveis entre memórias evocadas interiormente a partir do texto de uma peça de teatro.
Esse deslocamento metalinguístico confere momentos de suavização de um texto que, pelo assunto que traz à tona, não só possui um peso intrínseco, como também não deixa de sinalizar que narrativas divergentes podem estar presentes em muitas situações complexas, demandando de todos nós cautela nos julgamentos e atenção nos posicionamentos apressados. A abordagem desse confronto de narrativas carregado de emoções não é simples e surge uma outra pergunta, satélite: o que interessa mais ao público, a fantasia da criação ou a possível menção às vivências de autores e atores?
Para além de uma temática e de um formato que fisgam a atenção e que trazem momentos de surpresa, talvez a peça pudesse ter enxugado um pouco seu texto, especialmente nas partes em que proliferam as acusações de uma personagem e as defesas de outro, mais ao fim.. Fato é que, após certo tempo, há uma repetição que talvez fosse desnecessária – pois já entendemos a motivação para o confronto – e um prolongamento trouxe certo desgaste ao espetáculo.
Ficha técnica
Texto e direção: Marcos Damaceno
Elenco: Rosana Stavis e Helena de Jorge Portela
Iluminação: Beto Bruel
Figurino: Karen Brusttolin
Visagismo: Claudinei Hidalgo
Cenário: Marcos Damaceno
Produção Executiva: Bia Reiner
Produção de Cenários: Carla Berri
Assistente Administrativo/Financeiro: Edilaine Maciel
Produção Local (RJ): Bárbara Montes Claros
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Criação e Produção: Cia.Stavis-Damaceno
Serviço
“Nebulosa de Baco”
Dramaturgia e direção: Marcos Damaceno
Com Rosana Stavis e Helena de Jorge Portela
Temporada: 12 de outubro até 24 de novembro de 2024
Dias e horários: Quarta à sábado às 19h e domingo às 18h
Duração: 80 minutos
Classificação: 18 anos
Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro I
Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro
Informações: 21 3808-2020 | ccbbrio@bb.com.br
Valor do ingresso: R$ 30 (inteira) e R$15 (meia-entrada)
Estudantes, maiores de 65 anos e Clientes Ourocard pagam meia entrada.
Ingressos adquiridos na bilheteria do CCBB ou antecipadamente pelo site.
Funcionamento do CCBB Rio: de quarta a domingo, das 9h às 20h (fecha às terças).
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