Grandes dramaturgias são feitas de grandes personagens. Isso já é até lugar comum quando se avalia qualquer narrativa contada. Em Girls esse clichê é permitido, principalmente, pelo fato de que desde a primeira e inesquecível temporada, esse velho paradigma evoluiu de maneira clara diante dos olhos de quem a acompanha.
Lena Dunham cria de forma confessional e iconoclasta (no tocante a própria geração que enaltece e relativiza) todo um universo que foi, ao longo dessas 5 temporadas, ganhando espessura e vida própria. Assim, compreende-se muito a justificativa dramática de Shoshanna (Zosia Mamet), num arco que começa no desabrochar no Japão (em cenas hilárias e muitíssimo bem fotografada) e termina de maneira bem mais madura que o usual em se tratando de Shoshanna.
Marnie (Allisson Williams), o papel mais complicado da série – como roteiro e como personagem – teve seu complicador usado a seu favor na trama, com uma história (pela primeira vez!) bem coerente de ponta a ponta nesse quinto ano. Inclusive com uma inesperada digressão do passado. A geralmente subestimada Jessa (Jemima Kirke), simplesmente e literalmente roubou a cena deixando claro que sua vulnerabilidade é bem mais interessante que arquétipo cool que gravita sobre sua personagem.
E Hannah (Dunham) ganhou dessa temporada o reflexo de sua própria série: uma áurea idiossincrática muito particular sobre os seus atos. A louca identidade e visão de mundo dela (personagem/autora) ditou de maneira bem divertida e interessante os rumos da história até aqui. Mesmo que sob aspectos mais primitivos de se observar, como o desgaste de uma relação e o amor que se achava não existir mais.
Girls pega cada ponto acima e faz um caldo dos mais esquisitamente saborosos. Ano que vem será o sexto e último ano. Não será tarefa fácil fechar o ciclo dessas meninas, em suas paranoias e fragilidades. Entretanto, pelo que vimos ascendentemente nesses cinco anos, o fim será relativizado para uma temporada imperdível. Aguardemos.
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