Duas séries, sucessos estabelecidas em seus nichos – uma da TV aberta, a outra, do cabo – mas ambas dentro do competitivo universo das séries televisivas americanas, demonstraram em suas respectivas temporadas, um panorama interessante sobre a durabilidade oscilante de uma dramaturgia sólida nessas duas conjunturas.
The Good Wife foi excelente em todas as sua temporadas anteriores. Até mesmo (e de certa forma) na primeira metade dessa sexta temporada que acabou de terminar. Já confirmada para sétima temporada, a série de Michelle e Robert King, que sempre foi um “corpo estranho” no cardápio da televisão aberta norte -americana por manter a qualidade de sua trama mesmo com mais de 5 anos (e 22 episódios cada!!!), sem borrar a força de seu plot (a “boa esposa” que passa por transformação radical após descoberta pública da infidelidade de seu marido político, e voltando ao seu ofício de advogada), e ainda manter sólida sua veia procedimental.
Mas como tudo que se dilui, torna-se ralo, essa sexta temporada foi bem complicada, com personagens perdidos, histórias mal desenvolvidas (o promissor personagem de Matthew Goode foi tão desperdiçado que teve um fim apressado e superficial) e a protagonista Alicia (Julianna Margulies) enfrentando os mesmos conflitos pessoais e profissionais já vistos em outras temporadas. A saída de seu trunfo narrativo, Kalinda (a ótima Archie Panjabi) já deu um sinal do quanto a série já deveria terminar ainda no seu (duradouro) auge. Será preciso uma operação minimamente surpreendente para que sua nova temporada (que estreia em setembro) não definha na mediocridade que tanto a produção conseguiu evitar.
Por outro lado, The Americans é o oposto. Evidente que sua prerrogativa de ser um produto da TV fechada o livra da obrigação de ter mais de 13 episódios por temporada, mas sua terceira temporada promoveu, com propriedade, o desenvolvimento narrativo interligado às questões da trama iniciadas na segunda temporada, evoluindo assim, sua história para além de uma derivação de seu ponto de partida inicial: dois agentes soviéticos da KGB que fingem ser um casal americano, vivendo nos subúrbios de Washington D.C., tendo os filhos (americanos) e um vizinho da CIA sem saberem da real identidade do casal.
O que a série vem conseguindo, de forma inteligente e bem equilibrada, é relativizar o dever cívico com o ético, e ainda engendrar a complexidade que existe entre um casal (os ótimos Keri Russell e Matthew Rhys) que funciona por uma estratégia política, e tem de lidar com os imponderáveis do sentimento que nasce dessa circunstância. O roteiro brinca com esses matizes, e a (tensa) virada que a trama deu no fim desse terceiro ano diz muito sobre como o não esgarçamento de uma temporada pode ser importante para uma história bem azeitada.
Ainda não existe série com mais de três temporadas e 20 episódios, que tenha conseguido manter sua dignidade e frescor do início. Nem aquelas que – de uma forma ou de outra – fazem parte da chamada “Era de Ouro da TV americana” (especificamente, na TV aberta) como Lost, Community e, principalmente, a deturpada Desperate Housewives.
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