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Terceira temporada de “My Brilliant Friend” dá continuidade à saga com maestria

Chegou a hora de o terceiro livro da Tetralogia Napolitana de Elena Ferrante – “História de quem foge e de quem fica” – invadir as telas da televisão na Itália e no mundo. Não é o maior livro dos quatro, mas a terceira temporada da série parece ser a mais recheada de temas até aqui. Com os rostos de velhas conhecidas e novos nomes por trás das câmeras, a terceira temporada de My Brilliant Friend é mais uma maravilha audiovisual.

Reencontramos Elena, ou melhor, nossa velha amiga Lenù, logo após a publicação de seu primeiro livro, que agrada a muitos e deixa escandalizado o hipócrita Dino Sarratore. Vivendo novamente com sua família no bairro de sua infância em Nápoles, ela fica lá até a data do seu casamento com o professor universitário Pietro Airota, e testemunha a volta de Lila para o bairro.

Vemos Lila pela primeira vez nesta temporada quando ela está ardendo em febre, e pede para conversar com Lenù. Para a amiga, confidencia os muitos problemas pelos quais vem passando. Lila está trabalhando muito e comendo pouco e, além da estafa, tem de enfrentar seus próprios fantasmas ao perceber que não pode fugir das pessoas de seu passado.

Lila e Enzo continuam mostrando seu valor quando, em meados da temporada, arranjam empregos na IBM, trabalhando com um tipo rudimentar de computador para processamento de dados. O empreendimento atrai a atenção da família Solara, agora chamada abertamente por todos do bairro de mafiosa, e de Michele Solara em particular, que nunca escondeu que é apaixonado por Lila – mas não correspondido.

Um dos temas tratados na nova temporada é o privilégio. Ele é bastante explorado no segundo episódio, em que Lila participa de um encontro de comunistas e depois vê as palavras que ela disse impressas em um folheto. A crítica vai para aqueles ativistas que não arriscam nada quando se posicionam, mas que não pensam que podem estar colocando outros em risco.

Outro tema, este já explorado nas temporadas anteriores, é a condição feminina. Às voltas com romances, casamentos e sexo, Lenù e Lila – e também outras personagens, como Gigliola – veem as desvantagens de ser mulher, que vão desde o desdém dos homens, que se casam para obter uma empregada grátis, até as questões sociais maiores, como a proibição dos anticoncepcionais. Enquanto Lila experimenta romance e liberdade, Lenù experimenta o pesadíssimo fardo da maternidade, cuja carga mental não é sentida pela maioria dos homens, incluindo aí o marido de Lenù.

Esporadicamente, Lenù entra em contato com questões feministas através da influência da cunhada. Nesses momentos, de passeatas e discussões em grupos de mulheres, ela percebe que a mudança para a igualdade é muito difícil e, apesar de àquela altura já ter começado, está longe de ser completa. Os homens ao seu redor são como os antepassados, como os homens rudes do bairro de Nápoles, apesar da educação adquirida e do verniz mais civilizado.

Mais outro tema da temporada são os movimentos sociais sindicalistas, e aqui ganha destaque o personagem Pasquale que, sem nenhuma surpresa, passa a ser considerado terrorista por reivindicar melhores condições de trabalho. Se Pasquale volta à vida de Lenù, voltam também Nadia Galiani, velha amiga e atual companheira de Pasquale, e Franco, o namorado de Lenù da época da universidade. E, claro, volta ele, a assombração das assombrações na vida das duas amigas geniais: Nino Sarratore.

Novamente, a série explora o lado menos carinhoso da amizade, presente na rivalidade nem sempre saudável entre Lenù e Lila. Por vezes precisando de um ombro amigo, elas – Lenù em particular – encontram críticas do outro lado de uma ligação telefônica muito aguardada. Nem sempre estão prontas para trocar confidências, e elas – agora Lila principalmente – não estão dispostas a contar tudo o que acontece em suas vidas uma para a outra.

De tão complexa que é, por vezes a amizade entre Lila e Lenù é lida pelo público como sendo uma amizade tóxica. Nestes momentos, devemos nos lembrar de que a história toda é narrada por Lenù, uma narradora não totalmente confiável, e é apenas a sua visão dos fatos que conhecemos.

Lenù tem plena noção de que vive a vida que Lila poderia ter tido. Por sua vez, Lila chega a dizer que sempre imaginou que a amiga poderia viver uma vida maravilhosa por ela. Talvez por esse mútuo conhecimento, Lenù se compara a Lila o tempo todo, até na vida sexual. A comparação do público é, assim, inevitável, e todos já escolheram sua preferida entre as duas – e todos nós, claro, temos algo de Lila e Lenù dentro de nós.

A série amadurece nesta terceira temporada, e também os personagens e nós espectadores amadurecemos com eles.

Todos os atores foram mantidos, ao contrário do que era esperado, e para que as jovens atrizes, intérpretes de Lila e Lenù desde a adolescência, parecessem mulheres adultas e com filhos, a caracterização foi fundamental, com roupas e penteados mais sérios. A caracterização, entretanto, não tira os méritos de atuação de todo o elenco, e em especial das intérpretes de Lenù e Lila – respectivamente Margherita Mazzucco e Gaia Girace – que começaram a viver as personagens tão novinhas e enfrentaram vários desafios cênicos e técnicos com maestria nas três temporadas. Especialmente se considerarmos que elas são jovens atrizes recém-saídas da adolescência, a proeza das performances de ambas fica ainda mais pronunciada.

Na parte técnica, foi mantida a brilhante equipe de roteiristas, e foi adicionado como diretor Daniele Luchetti, que foi responsável por dirigir todos os episódios da terceira temporada. Também novato na equipe da série foi o diretor de fotografia Ivan Casalgrandi, que ficou responsável pelo visual dos oito episódios, menos exuberantes com poucas cenas na praia se comparados às temporadas anteriores – vale lembrar que na temporada passada tivemos como diretora de fotografia de dois episódios a sensacional Hélène Louvart, que recentemente trabalhou nos filmes A Vida Invisível e A Filha Perdida.

A terceira temporada de My Brilliant Friend passa rápido, assim como a vida adulta. Focada mais em Lenù, mas sem perder Lila de vista, a série acerta em todos os episódios, até nos mais lentos. Se alternamos entre as amigas para adivinhar quem na história foge e quem fica, a revelação do último episódio é um baque já esperado, e nos prepara para o capítulo final da trajetória das amigas geniais.

Nota: Épico – 5 de 5 estrelas

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