Nos últimos anos, temos observado um aumento significativo de séries e filmes que se apoiam fortemente na nostalgia, muitas vezes somente para atrair o público. É nesse contexto que X-Men 97 foi inesperadamente lançada, dando a impressão de ser mais uma tentativa de reviver uma das séries de animação mais icônicas da Marvel, mesmo sem uma demanda explícita por parte dos fãs.
A Marvel há muito tempo enfrenta dificuldades em encontrar a fórmula ideal para os mutantes no cinema. Atualmente, os X-Men estão em um limbo, aguardando o momento certo para serem integrados ao Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). No entanto, para os fãs que estão sentindo falta dos mutantes, não é necessário esperar que eles cheguem ao MCU, pois a série X-Men ’97 é um presente, uma das grandes surpresas do ano.
Temidos e odiados, e com os dramas de sempre
X-Men 97 começa um ano após o final da animação original dos X-Men (1992-1997), tornando-se um ícone querido da infância de muitos fãs. A série original deixou um final agridoce, com o desaparecimento do Professor Xavier, e assim chegamos a nova série. Uma animação traz o grupo de mutantes que, de repente, se veem um pouco órfãos e incertos sobre qual caminho seguir.
A série possui dez episódios disponíveis no Disney+, e sem revelar spoilers, é possível dizer que a série conseguiu se adaptar muito bem aos novos tempos, mantendo-se fiel tanto à sua antecessora quanto aos quadrinhos originais.
Seu maior trunfo é que se baseia justamente em algumas das tramas mais icônicas da época de Chris Claremont, embora faça uma espécie de remix com algumas para encaixá-las na nova cronologia.
Para os fãs de clássicos, X-Men 97 é um presente cheio de referências, o que mostra também que a Marvel está “acordada” há algumas décadas e que se não percebemos é porque não queríamos. Porque, mais uma vez, usam o medo para com os mutantes para fazer denúncias sociais numa apologia muito bem conduzida em favor dos direitos das minorias.
Se já conhecemos a história dos X-Men, X-Men ’97 é uma maravilha, mas mesmo que não estejamos muito familiarizados com os mutantes, ainda assim é possível aproveitar bastante. Os primeiros episódios nos situam rapidamente e nos introduzem às dinâmicas do grupo, incluindo alguns flashbacks para contextualizar.
No entanto, o grande problema da série é que ela avança a um ritmo acelerado e resolve algumas tramas rápido demais. Assim, para quem está chegando agora, pode ser um pouco confuso, e mesmo para os fãs antigos, alguns episódios podem parecer insuficientes.
Visualmente, eu estava um pouco receoso em relação a ‘X-Men ’97’ quando surgiram as primeiras imagens. No entanto, a verdade é que o Studio Mir (o estúdio por trás de ‘Avatar: A Lenda de Korra’ e ‘Lookism’) e a Marvel Animation Studios surpreendem. Embora mantenham o estilo da série original de ‘X-Men’, com aquele toque de desenho animado de sábado de manhã, eles souberam modernizá-lo na medida certa para adaptá-lo a um tipo de animação mais contemporânea.
Às vezes, os personagens podem parecer estáticos e inexpressivos, mas a animação brilha quando precisa, especialmente nas cenas de ação dos últimos capítulos, que nos presentearam com sequências espetaculares.
Jubileu wins
X-Men ’97 parece ter sido concebida para marcar uma clara ruptura com as adaptações da Fox. Uma crítica bem comum foi a ênfase excessiva em Wolverine, que apareceu em seis dos principais filmes dos X-Men e dominou quatro deles, além de ter três filmes solo. Logan continua sendo um dos mutantes mais populares, e é ótimo ver Hugh Jackman reprisando o papel em Deadpool e Wolverine. No entanto, é revigorante ver X-Men ’97 entender que, quando se trata de Wolverine, menos pode ser mais. Na série, ele é um coadjuvante: o melhor no que faz, oferecendo comentários sarcásticos nas reuniões de equipe e aparecendo ocasionalmente para destruir Sentinelas. E faz com grande efeito, sem roubar os holofotes, permitindo espaço para a rica diversidade de mutantes do universo X.
Na série temos muita ação: a sala do Perigo, combates contra Sentinelas, duelos mentais… o que vier. No entanto, o que a série realmente sabe aproveitar é o drama que se desenrola entre os membros dos X-Men. Não há um episódio sem drama, especialmente para Scott Summers, que frequentemente acaba sendo o alvo das adversidades do grupo e ganhando enfim, o destaque que merecia.
A Marvel já há mais de uma década enfrenta dificuldades para acertar com os mutantes no cinema. Porém, a verdade é que isso nem é necessário. Eles já têm a adaptação perfeita com X-Men ’97, que aborda todos os aspectos que melhor representam esse grupo de super-heróis, mostrando como são temidos e odiados, refletindo o ódio e o medo direcionados a grupos minoritários no mundo real, com o Professor X e Magneto representando abordagens polarizadas para abordá-lo. Além disso, quanto mais adversidades enfrentam, melhor eles funcionam. E após esse final, já estamos aguardando a próxima temporada…
Muito bem colocada suas palavras.