127 Horas se sustenta integralmente numa história verídica : em maio de 2003 o engenheiro civil e alpinista Aron Ralston, de 28 anos, sofre um acidente num remoto canyon do Utah, e se vê aprisionado no fundo de uma ravina, a mão direita esmagada por uma enorme rocha. Aron sobrevive cinco dias – as 127 horas do título – nessas condições, e a trama se concentra nessa via crucis dramaticamente claustrofóbica.
Dirigido com notável estilismo por Danny Boyle o filme busca o caminho lisérgico da situação de Aron para condensar bem o pouco material dramatúrgico da história em si. Boyle, com auxílio de Enrique Chediak e Dod Mantle, consegue dimensionar uma trama difícil e de pouco arrojamento narrativo em uma história interessante sobre a relação do homem no extremo de sua sobrevivência.
Claro que o desempenho de James Franco é de vital importância para o resultado. E a leveza com que ele constrói a curva dramática de seu papel realmente justificam as indicações que vem recebendo em vários prêmios importantes.
Muito mais contundente em suas pretensões que seu filme anterior (o bonitinho mas ordinário Quem quer ser Milionário?) Boyle carrega em sua levada POP na busca por uma uma estética high-fi condizente com o aspecto contemporâneo do desastre, uma vez que Aron filma todo o seu drama com uma câmera caseira. Tornar essa detalhe espacial não só representou uma escolha estética para a já conhecida esquizofrenia imagética do diretor(uma marca sempre muito interessante), como espantou qualquer ranço de sentimentalismo da trama, principalmente nas cenas mais humanamente absurdas.
A comentada automutilação (não se trata de spoiler já que a história real foi espetacularizada até no Fantástico da época) realmente choca pela situação em si, mas Boyle é genial em seus insides de “videoarte” e o efeito é distinto a dois tipos de sensibilidade: os sensíveis à cenas fortes pelo contexto extremamente gráfico e os sensíveis à estilismo cinematográfico, pelas soluções estéticas do diretor.
127 Horas, de forma geral, está sendo até subestimado, por ser muito melhor do que é dito. Seja como exercício de linguagem ou alegoria da sobrevivência humana (de acordo com os preceitos de Herzog), Boyle consegue extrair de sua história um libelo visual sobre o Homem e sua capacidade de impressionar.
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