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"300: A Ascensão do Império" empolga, mas não é tão memorável quanto o original

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Autor de clássicos nos quadrinhos, como “Batman – O Cavaleiro das Trevas“, “Demolidor: A Queda de Murdock e “Ronin“, Frank Miller tem flertado bastante com o cinema há mais de 20 anos. Ele foi o roteirista das duas (e mal sucedidas) continuações de “RoboCop e sua visão do herói cego da Marvel também influenciou a produção de “Demolidor – O Homem Sem Medo” em 2003. Mas Miller só foi mesmo compreendido quando Robert Rodriguez decidiu fazer uma adaptação praticamente literal de suas histórias em “Sin City: A Cidade do Pecado” em 2005, e ainda contou com sua ajuda na direção. O resultado foi tão surpreendente que animou os executivos da Warner Bros. a produzirem, em 2006, uma versão também bastante fiel de “300“, publicada pela Dark Horse, e que contava a sua visão (bem particular) da batalha envolvendo os 300 de Esparta contra o exército persa, em 480 a.C.

O diretor Zack Snyder foi contratado após se dar bem com “Madrugada dos Mortos e obteve um grande sucesso, que agradou aos fãs da graphic novel de Miller graças ao seu apuro visual e ao respeito estético das imagens, que reproduziam (em alguns momentos) literalmente o que era visto nos quadrinhos. Além disso, o filme tornou o ator Gerard Buttler finalmente popular, após várias tentativas, como o Rei Leônidas, que tornou marcantes várias frases ditas pelo personagem no filme, como “This is Sparta!“. Para a surpresa de muitos, a sequência demorou mais tempo para acontecer do que o normal em Hollywood. Isso se deve, em parte, pela demora de Miller em terminar, nos quadrinhos, a continuação batizada de “Xerxes“, que ainda não foi finalizada e apenas algumas páginas foram divulgadas. Mesmo assim, os produtores decidiram realizar a continuação “300: A Ascensão do Império“, cujo resultado final é até eficiente, em especial nas cenas de ação, mas perde em comparação ao original.

Ao contrário da maioria das sequências, uma parte da história desta se passa não antes ou depois da trama original, mas sim durante a batalha de Leônidas contra Xerxes (Rodrigo Santoro). Enquanto os exércitos dos espartanos e os persas duelam em terra, acontece no mar um confronto entre os homens de Temístocles (Sullivan Stapleton), que quer impedir que os gregos sejam dominados, e a frota liderada por Artemísia (Eva Green), que foi responsável por influenciar Xerxes a se transformar no imponente Deus-Rei após passar por um ritual mágico no passado. Temístocles procura o apoio da rainha Gorgo (Lena Headey), viúva de Leônidas, para impedir o avanço da esquadra de Artemísia e, assim, manter os princípios da democracia que tanto defende, além de evitar que o reinado de Xerxes fique ainda maior.

Para contar essa história (roteirizada por Snyder, que deixou a direção para se dedicar a “O Homem de Aço“, e Kurt Johnstad), o diretor Noam Murro manteve a estética consagrada do filme anterior, com muitas cenas de ação em câmera lenta e uma fotografia que dá o tom de quadrinhos para o filme. Mas, aproveitando os recursos em 3D, o cineasta utiliza mais sangue nas lutas, que parecem jorrar dos guerreiros em direção ao espectador, como se o colocasse banhado pela sanguinolência. Quem curte este tipo de iniciativa, com certeza irá vibrar na cadeira do cinema. Além disso, é interessante notar o embate entre os comandantes dos dois exércitos, que chega a culminar numa cena de sexo entre Artemísia e Temístocles, que mais parece uma relação de dominação e poder, embora a personagem de Eva Green notadamente admire o seu adversário, tanto como estrategista quanto como homem. Outro destaque de “300: A Ascensão do Império” está nas formas encontradas tanto por Artemísia quanto por Temístocles para conseguir os seus objetivos, já que, no mar, o cérebro é muito mais eficiente do que os músculos para vencer uma batalha.

É uma pena que, mesmo com essas qualidades, “300: A Ascensão do Império” seja menos memorável do que o seu filme de origem. Uma das falhas está na escolha de Sullivan Stapleton, ator pouco conhecido do  grande público, para ser o protagonista da trama. Ele não possui, nem de perto, o carisma que Gerard Butler mostrou ao interpretar Leônidas e fica difícil acreditar que um grande número de pessoas o sigam para lutar e morrer em seu nome. Outra decepção está em alguns pontos da trama, que não ficam exatamente claros, especialmente na parte final do filme e que acaba ficando menos empolgante do que poderia ser.

Já a bela Eva Green parece estar se especializando em fazer mulheres fortes, mas que tem traços de desequilíbrio mental. Basta ver a bruxa que ela interpretou em “Sombras da Noite“, de Tim Burton, para ver algumas semelhanças entre ela e Artemísia. Mas, assim como na produção estrelada por Johnny Depp, ela é o grande destaque de “300: A Ascensão do Império“. Lena Headey tem pouco a fazer como a rainha Gorgo, embora seja de vital importância para o desfecho do filme. Porém, o grande desperdício mesmo é Rodrigo Santoro, que é prejudicado pelo roteiro, que não lhe dá o destaque que deveria receber e acaba aparecendo pouco, o que enfraquece a importância de seu personagem. Mas o ator, coberto por uma intensa maquiagem e com a voz distorcida com efeitos sonoros, continua impressionando em cena.

Enfim, “300: A Ascensão do Império” acaba se tornando apenas mais um bom passatempo para quem só quer curtir uma sessão de cinema durante uma tarde descompromissada. Porém, como muitos filmes exibidos nos multiplexes da vida, ele é facilmente descartado ao acender das luzes. Pode até render uma terceira parte, mas vai ser necessário realizar um verdadeiro trabalho de Hércules para ser obtido um melhor resultado do que apresentado nesta continuação.

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