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“Blue Jasmine” agrega valor à filmografia de Woody Allen

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Aos 78 anos, Woody Allen poderia ficar quieto no seu canto. Afinal de contas, ele não teria mais nada a provar como diretor e roteirista, com todos os prêmios que já conquistou em sua carreira, além do respeito da crítica mundial e de sua legião de fãs. Mas ele continua a trabalhar naquilo que sabe fazer melhor e ainda por cima, consegue manter a sua marca de lançar um filme novo por ano. É claro que nem sempre ele acerta, como em produções recentes como “Para Roma, Com Amor” ou “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos”. Mas o saldo dele ainda é positivo, graças a filmes como “Meia-Noite em Paris” e “Vicky Cristina Barcelona”. E é o caso de seu mais projeto, “Blue Jasmine” (idem, 2013).

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A trama é centrada em Jasmine (Cate Blanchett), uma ex-socialite de Nova York, que perdeu tudo após a prisão do marido Hal (Alec Baldwin), um investidor da Bolsa de Valores, que armou um esquema para roubar o dinheiro de seus clientes, mas acabou se dando mal. Ela resolve então ir para São Francisco e passar um tempo com a meia-irmã Ginger (Sally Hawkins), com quem nunca foi muito chegada e é o seu oposto: brega, conformada com seu trabalho num supermercado e sempre envolvida com homens rudes e meio cafajestes, como seu atual namorado, Chilli (Bobby Canavale).

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Apesar de ainda se sentir inconformada por estar sem nenhum tostão (a ponto de, em alguns momentos, falar consigo mesma como se estivesse conversando com o seu ex-marido), Jasmine tenta se reerguer com um novo emprego e aulas de informática para se tornar uma decoradora (embora odeie computadores). O problema é que ela não consegue esquecer o passado e seu temperamento arrogante acaba por deixá-la em maus lençóis em alguns momentos, especialmente com a Ginger, os filhos dela e Chilli. Mas após conhecer Dwight (Peter Sarsgaard), que tem planos de fazer uma carreira na política, Jasmine acredita que encontrou o seu novo príncipe encantado, que pode levá-la de volta à sua vida de luxo, que ela sente muita saudade.

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Allen conta a sua história de forma não linear, indo e voltando no tempo para dar o contraste da vida que Jasmine tinha antes, cheia de luxo, riqueza e uma família (aparentemente) feliz, com a atual, onde procura um novo caminho, mas fadada a falhar pelo simples fato que não foi preparada para lidar com coisas como o trabalho. Além disso, o recurso desperta a atenção do espectador, que fica intrigado em saber como ela chegou àquela situação em que se encontra, já que o cineasta, de uma maneira bastante inteligente, coloca algumas pistas numa cena para, mais tarde, voltar a elas para esclarecer o que aconteceu. Um exemplo disso é a questão do filho de Jasmine, que surge inicialmente como um rapaz orgulhoso do pai e, tempos depois, aparece como um jovem revoltado com os golpes financeiros.

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Além das muitas qualidades da direção e do roteiro, Allen foi muito feliz na escalação de seu elenco. Cate Blanchett brilha com sua protagonista problemática que, não é uma mocinha tradicional e até tem atitudes que a deixam um pouco antipática, com sua mania de se mostrar superior a todos, só porque já foi uma pessoa com muito dinheiro. Sally Hawkins se mostra a contraparte ideal para Jasmine, já que sua Ginger é uma pessoa satisfeita com a sua vida simples, apesar de seus problemas com seus namorados. Aliás, tanto Bobby Canavale, Louis C.K. e o sumido Andrew Dice Clay estão ótimos como os homens que passam pela vida da personagem de Hawkins. Já Alec Baldwin está se especializando em fazer canalhas no mundo dos negócios e seu Hal (levemente inspirado em Bernie Madoff, figurão de Wall Street que roubou US$ 50 bilhões de seus clientes em 2008) é mais um bom tipo que o ator faz em sua carreira, com sua postura falsa de marido apaixonado, mas que, na verdade, está mais interessado em seus casos extraconjugais do que na esposa.

Com um desfecho melancólico, que contrasta com alguns momentos realmente divertidos e seus diálogos inspirados, “Blue Jasmine” é a prova de que Woody Allen não está esgotado e ainda tem o poder de surpreender com os seus filmes. Ainda bem, pois num ano em que há poucas coisas realmente interessantes no cinema mundial, é sempre bom poder contar com um cineasta que está há muitos anos no batente e tem um domínio cinematográfico, para alternar comédia e drama nas doses certas, como poucos nos dias de hoje.

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