Cinemateca: “Annie” (1982) e nossa aversão pelo passado

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A onda dos remakes continua firme e forte. A mais recente “vítima” desse processo foi o musical “Annie”, que chega agora aos cinemas em uma versão modernizada, miscigenada e politicamente correta. À primeira vista, todo remake parece desnecessário, mas aqui temos uma novidade: a história foi modernizada… mas precisava disso?

No geral, a sinopse se manteve: Annie (Aileen Quinn em 1982, Quvenzhané Wallis em 2015) é uma adorável órfã de 10 anos de idade. Ela mora no orfanato da senhora Hannigan (Carol Burnett / Cameron Diaz), que serve mais como alívio cômico que como vilã. Como parte de uma jogada política, o milionário Oliver Warbucks, interpretado por Albert Finney (o personagem de Jamie Foxx na nova versão foi rebatizado como Will Stacks), decide adotar uma órfã e acaba escolhendo Annie, que derrete os corações de todos que conhece.

“Annie”, de 1982, é um filme de época, e não apenas porque estreou há mais de 30 anos. É um filme feito nos anos 80, mas cuja história se passa no começo da década de 1930. Essa localização no espaço-tempo permite que a velha Annie use e abuse de um figurino retrô muito bonito e inclusive cante uma canção sobre as estrelas de cinema da época… isso logo antes de ir assistir à “A Dama das Camélias”, estrelando Greta Garbo. E aqui já temos o segredo desvendado: a personagem Annie foi moldada à imagem e semelhança de Shirley Temple (ou será que foi o contrário?).

E a primeira Annie teve ares de superprodução. Foram necessários dois anos entre escolha do elenco, ensaio e gravações. Entre as meninas rejeitadas para o papel de Annie estão as hoje famosas Drew Barrymore e Kristin Chenoweth. O custo final da película foi de mais de 35 milhões de dólares, gastos em especial em cenários, figurino e um clímax complicado de gravar.

Antes de ir para os cinemas, Annie era uma personagem de tirinhas publicadas no jornal Chicago Tribune entre 1924 e 2010: isso mesmo, 86 anos de publicação ininterrupta! O criador da personagem, Harold Gray, faleceu em 1968, mas seu trabalho foi continuado por diversos cartunistas, e assim Annie participou de algum modo dos mais importantes acontecimentos do século XX nos Estados Unidos. Esta é a razão, por exemplo, para Annie cantar para o presidente Roosevelt, o que dá outro sentido para a canção “Tomorrow”.

O sucesso da personagem era tamanho que agora o palco era o limite. Em 1977 foi criado o musical “Annie”, baseado nas tirinhas clássicas e que serviu de base para o filme de 1982, inclusive com o uso das canções.

Talvez a grande birra da nova versão é a “necessidade” de modernizar Annie para tornar sua história mais atraente para o público. A trama em si é atemporal, mas a mudança é desnecessária. E com a modernização do enredo veio a modernização da trilha sonora. Novas composições foram feitas. Uma das canções mais famosas de Annie, “You’re never fully dressed without a smile”, ganhou um remix como rap… e na voz da excêntrica cantora Sia.

A nova versão se sustenta no carisma dos protagonistas. A velha versão fez e faz sucesso com seu toque saudosista e autêntico. Julgue por si mesmo. Veja ambos os filmes, você não irá se arrepender.

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