Crítica: “O Jogo da Imitação” e a visceral decodificação do seu ser

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O Jogo da Imitação é um filme de criptografias. Em seu âmbito político, discursivo e, amplamente, humano. Talvez, em sua superfície até deixe sobressair um simples tradicionalismo narrativo. Uma percepção não infundada, vale dizer. Mas para além do que denota, o longa britânico, dirigido por Morten Tyldun, possui uma espessura dramática muito interessante, onde a complexidade da genialidade de seu protagonista, o matemático Alan Turing (numa interpretação extraordinária do inglês Benedict Cumberbatch) traz a dimensão necessária e vital de todo o filme. Na urgência da Segunda Guerra, os alemães vinham ganhando supremacia através de máquina criptográfica chamada Enigma. Turing liderava um equipe que tentava desvendar esse intrincado código nazista. E a trama se debruça em sua perspectiva: um gênio cheio de conflitos internos, inadequação social e lidando com sua homossexualidade num tempo em que essa orientação sexual era considerada crime.

A linha narrativa do filme transcorre entre três tempos dramáticos: o período conturbado da guerra da criptografia, o que veio depois disso (onde o fato confunde-se com sua vida sexual questionada institucionalmente) e a infância de auto descoberta. Essa opção faz com que o roteiro justifique seu indivíduo por seus maneirismos. A visão de mundo um tanto cartesiana de Turing o confronta nas relações pessoais – o que o diretor aborda sensivelmente com seu envolvimento com a jovem Joan Clarke (Keira Knightley, ótima), numa das mais expressivas cenas do filme. Nesse sentido, O Jogo da Imitação consegue ser maior que sua sina de “filme para Oscar“. Quando a história passa a decriptar Turingm, automaticamente, revelando o mundo cruel que o envolve (muito mais pernicioso que seu ego e excentricidade), o discurso sai do esquematismo formal e vai para o cruel sentido do “baseado em fatos reais” que abre o filme. Bem lá no fim do filme, quando sabemos qual foi o verdadeiro fim dessa história, todos os códigos possíveis são revelados. E aí, nem a arte seria capaz de tamanha artimanha para imitar a vida…

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