Lançado em 2011, “Planeta dos Macacos: A Origem” conquistou um enorme sucesso nas bilheterias mundiais graças basicamente a três elementos: um bom roteiro, que criou personagens carismáticos (tanto humanos quanto símios), notáveis efeitos especiais (que chegaram a ser indicados para o Oscar) criados pela mesma Weta Digital que se destacou na trilogia “O Senhor dos Anéis” e, principalmente, pela fantástica atuação de Andy Serkis, especialista em interpretar seres através de captura de movimentos, que já tinha realizado ótimos trabalhos como o Gollum na saga de Frodo, Aragorn e companhia, além de ter sido o “King Kong” de Peter Jackson. Mas ao interpretar o macaco Caesar, Serkis conseguiu se superar e deu o carisma necessário para torná-lo “real”, graças ao seu trabalho corporal e suas expressões faciais. Sem ele, o filme poderia facilmente cair no ridículo, o que felizmente não aconteceu. Como se tratava de uma espécie de recomeço da franquia que já contava com seis filmes no cinema (incluindo a versão mal sucedida de 2001, dirigida por Tim Burton), era de se esperar que uma sequência viesse logo em seguida, até porque a produção tinha um irresistível final em aberto para não ser utilizado. Assim, três anos depois, chega aos cinemas à continuação “Planeta dos Macacos: O Confronto” (“Dawn of The Planet of The Apes”), que amplia as possibilidades da primeira parte com resultados mais que satisfatórios.
A história começa exatamente onde parou o primeiro filme. Uma epidemia de uma misteriosa doença, causada por um vírus criado pelo mesmo laboratório Gen-Sys da primeira parte, e que foi batizada de Gripe Símia, matando boa parte da população mundial. A trama dá um pulo para dez anos depois e mostra que Caesar se fortaleceu ainda mais como líder dos macacos que foram alterados geneticamente. Além disso, o grupo continua a crescer, com novos integrantes, inclusive com os filhos que ele tem com a primata Cornelia (“vivida” por Judy Green). Mas os problemas começam quando humanos que sobreviveram à praga tentam negociar uma parceria para usar a usina que está bem no lugar onde mora a comunidade dos macacos e pode dar energia ao povoado que surgiu dos restos de San Francisco. Apesar de Caesar conseguir se entender com Malcolm (Jason Clarke), que atua como mediador entre as duas espécies, a paz é ameaçada pelo ódio que Dreyfus (Gary Oldman), o chefe da cidade humana, sente em relação aos símios (que os culpa pela morte de sua família), assim como Koba (Toby Kebbell), que ainda se ressente dos maus tratos aplicados em testes de laboratório no passado e pensa em se vingar de todos. Nem que para isso tenha que passar por cima de quem confia nele. Dessa forma, o conflito acaba se tornando inevitável.
A primeira coisa que chama a atenção em “Planeta dos Macacos: O Confronto” é o cuidado que o roteiro escrito por Mark Bomback, junto com os responsáveis pelo texto de “Origem”, Rick Jaffa e Amanda Silver, possui ao elaborar bem os personagens, tanto os símios quanto os humanos. Caesar continua sendo a mola mestra da trama e suas decisões serão essenciais para as atitudes tomadas por todos ao seu redor. Também é interessante mostrar que, apesar de benevolente, Caesar não se intimida diante de possíveis ameaças e quando não pode usar sua inteligência para sobrepujá-las, não teme em aplicar a força para deixar bem claro quem está no comando. Mas, mesmo assim, se incomoda com este recurso. Basta reparar na sequência em que é confrontado por Koba dentro da usina ou quando descobre que uma de suas exigências para o convívio entre as duas espécies não é obedecida. Ao retratar Dreyfus, o roteiro ganha pontos em humanizá-lo, não o transformando num vilão maniqueísta e clichê, numa única sequência que explica porque ele tem aversão aos macacos e os culpa por sua tragédia pessoal, quando observa fotografias num tablet. Assim como em “Origem”, os roteiristas se inspiraram nos filmes anteriores da franquia (em especial “A Batalha do Planeta dos Macacos”, de 1973), o que deixa a história ainda mais saborosa e quem conhece os outros episódios, vai conseguir “pescar” alguns elementos no decorrer da produção.
Outro destaque do filme está na ótima direção de Matt Reeves, que já havia mostrado trabalho em “Cloverfield – Monstro” e “Deixe-me Entrar”. Ele conduz a história com uma tensão constante, especialmente na questão do estranhamento que humanos e macacos têm entre si, que podem a qualquer momento causar uma tragédia. Reeves também mostra desenvoltura nas cenas de ação (que não serão descritas neste texto para não entregar possíveis spoilers), assim como na utilização dos notáveis efeitos especiais, deixando tudo bem empolgante para o espectador. Ademais, o diretor tem seu elenco nas mãos e consegue interpretações que tornam crível a atmosfera apocalíptica apresentada em “Planeta dos Macacos: O Confronto”. Entre os humanos, Jason Clarke dá uma nobreza a Malcolm, que nos faz acreditar que ele realmente tem boas intenções ao promover a cooperação entre homens e macacos, sem contar na preocupação em salvar seus familiares. Gary Oldman tem pouco tempo de tela, mas com sua habitual competência consegue dar uma tridimensionalidade a Dreyfus e escapa das armadilhas que poderiam comprometer a atuação. Já a bela Keri Russell não tem muito a fazer com sua personagem, a não ser ajudar o marido Malcolm a conseguir seus objetivos e também se mostrar cooperativa para os dois grupos. Uma curiosidade está na participação de Kodi Smit-McPhee, que interpreta o filho de Malcolm. O ator já trabalhou com Reeves em “Deixe-me Entrar” e aparece bem mais crescido, mas o jeito de olhar dele continua o mesmo.
Porém, assim como o antecessor, “Planeta dos Macacos: O Confronto” não funcionaria se não fosse o fenomenal desempenho de Andy Serkis como Caesar. Todo o seu trabalho corporal faz o público acreditar que ele é de verdade, não uma criação de CGI. Poucos atores conseguiriam essa proeza e Serkis certamente é um deles. Tanto que, por justiça, seu nome é o que encabeça o elenco, pois ele é o verdadeiro protagonista, o verdadeiro herói da trama. Assistir no cinema sua atuação é algo que salta aos olhos e é uma pena que algumas pessoas não vejam ali o mérito do ator para tornar o personagem realmente relevante, onde a captura de movimentos é um acessório para a representação e não o contrário. Se o mundo fosse justo, Serkis seria lembrado para indicações a prêmios como o Globo de Ouro e o Oscar. Mas ainda há muita discriminação para essa nova possibilidade. Quem sabe um dia… Do elenco ‘símio’, outro que chama a atenção é Toby Kebbell, que transmite muito bem a fúria que Koba carrega em seu ser, como se fosse um raivoso pirata somali, como aqueles mostrados no ótimo “Capitão Phillips”, com Tom Hanks. O personagem se mostra uma interessante contraparte a Caesar, ao agir impulsivamente. Porém, quando repreendido, se comporta como se ainda fosse um animal confinado num laboratório.
Empolgante do começo ao fim, “Planeta dos Macacos: O Confronto”expande o universo dos primatas inteligentes com talento e consegue a rara proeza de ser uma sequência tão boa (ou melhor) que o filme original. Além disso, dá vontade de ver a produção mais de uma vez (ainda mais num 3D bem realizado) e, com certeza, fará o público torcer para que venham novas histórias sobre esse futuro onde os macacos dominam a Terra. Vida longa a Caesar!!!
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