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“Elle” e a contundência de Paul Verhoeven

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“Elle” (idem, França/Alemanha/Bélgica, 2016), novo filme do diretor Paul Verhoeven, estreou em circuito nacional na última quinta-feira à surdina. Não houve sequer exibição para a imprensa no Rio de Janeiro. E ainda foi abafado pelo spin off de Harry Potter “Animais Fantásticos e Onde Habitam” que estreou no mesmo fim de semana. Um estreia sem muito alarde de um diretor de grande calibre é de se estranhar. Verhoeven nos deu grandes sucessos no final dos anos 80 e início dos 90 como “RoboCop”, “O Vingador do Futuro” e “Instinto Selvagem”. Porém, desde “O Homem Sem Sombra”, de 2000, não tem dado as caras em Hollywood. Segundo o próprio, a escassez de bons roteiros o tirou da grande indústria do cinema (leia aqui).

Para continuar dando vazão à virulência habitual de seu cinema, sem ter que fazer concessões a roteiros retilíneos, o cineasta se voltou para seu continente natal. Os filmes do diretor invariavelmente versam sobre situações limite que expõem toda a irracionalidade humana. E de quebra, ele aproveita para fazer suas contumazes críticas à sociedade viciada num todo, sobretudo às corporações. “Elle” não é diferente.

Na trama, o pivô é a dama de ferro Michèle LeBlanc (Isabelle Huppert). Chefe de uma bem-sucedida empresa de videogame, ela traz a mesma objetividade dos negócios para sua vida amorosa. Ao ser atacada em sua casa por um desconhecido invasor, ela passa a desenvolver obsessivamente um jogo de gato e rato que trará reviravoltas.

O roteiro de David Birke é uma adaptação do romance de Pjilippe Dijan (de Betty Blue). Nota-se que Verhoeven está completamente à vontade comandando uma produção menor. É amparado por uma fotografia que ao mesmo tempo que sugere aconchego, também desperta claustrofobia. O drama e o suspense ganham a medida certa nos planos e cortes muitas vezes abruptos.

Na essência é o Verhoeven visceral e irônico com que estamos habituados desde os tempos das produções holandesas dos anos 70. Com seu então ator fetiche Rutger Hauer, realizou pérolas como “Louca Paixão” e “Soldado de Laranja”. “Elle” (representante da França para concorrer a uma vaga entre os finalistas do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2017) pode não se comparar a seus trabalhos mais brilhantes, mas suas marcas registradas são facilmente identificáveis ali.

A empresa de games dirigida por Michèle, por exemplo, é uma charge de uma grande corporação como a OCP (de “RoboCop”), assim como a empáfia da personagem é comparável à das “Tropas Estelares”. Segundo o próprio diretor, as imagens de games são usadas como elementos narrativos e metáforas para a selvageria da personagem de Isabelle.

Com quase oitenta anos, Verhoeven parece estar começando a desenhar o epílogo de sua carreira. Não esperemos uma continuação de nenhum de seus sucessos, pois, ao contrário de Ridley Scott, ele não é afeito a sequels. Mas quem sabe não veremos em breve uma reunião com Hauer? Se em Hollywood não há espaço para o diretor, é a indústria americana que sai perdendo.

Filme: Elle (Idem)
Direção: Paul Verhoven
Elenco: Isabelle Huppert, Laurent Lafitte, Anne Consigny
Gênero: Suspense
País: França, Alemanha, Bélgica
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Sony Pictures
Duração: 2h 10 min

Classificação: 14 anos

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