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Egypt Station: A nova viagem do "maquinista" Paul McCartney

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Em Egypt Station, que será lançado neste sexta (7), ex-beatle lança disco de inéditas, faz homenagem ao Brasil e leva fãs para uma variada jornada musical

É sempre delicado falar de um novo disco de Paul McCartney. Aos 76 anos, o eterno beatle é, de longe, po maior e mais genial músico vivo. Ele poderia estar vivendo tranquilamente curtindo as glórias conquistadas, mas o homem não para.

Ainda relevante

Apesar de não ser mais o hitmaker de décadas atrás, McCartney ainda é capaz de oferecer faíscas generosas do talento que nos deu clássicos como Hey Jude, Yesterday, Band on the Run e Mull of Kintyre.
Mesmo assim, falar sobre o álbum de um artista que pode ter uma coletânea de quatro CD e ainda deixar coisas boas de fora, é uma senhora responsabilidade. Vamos lá!

Viagem conceitual

Egypt Station — o 17° disco solo de Paul (sem contar os álbuns lançados com o Wings e outros projetos) e primeiro disco de inéditas desde New (2013) — teve o título inspirado no nome de pintura de Paul e foi concebido como uma viagem de trem por várias estações e estilos escolhidos pelo maquinista McCartney.
Sendo assim, ouvi-lo na ordem determinada por Paul parece a melhor maneira de entender o novo disco.

Faixa a faixa

1. Opening Station — Uma vinheta de 42s com sons de estações de trem reais e um coral de vozes. Deveria servir como uma espécie de boas-vindas ou bilhete para a viagem musical. Não funciona, mas também não incomoda.
2. I Don’t Know – Uma das duas primeiras canções divulgadas por Paul, é uma balada que fala das inseguranças de uma pessoa comum, o que nem sempre é relacionado a uma personalidade mundial como McCartney.
O piano e o clima lembram um pouco This Never Happened to me Before (do álbum Chaos and Creation in the Backyard). Uma das melhores paradas do novo disco.
— Escrevi essa música depois de um período difícil, que todo mundo passa. Sou eu externando um problema e colocando tudo em uma canção —revelou Macca.
https://youtu.be/aef2eV7GmQw
3. Come On to Me — O outro lado do primeiro single de Egypt Station, é um pop/rock com melodia quase chiclete e uma das letras safadinhas que Paul incluiu nesse novo trabalho. Não é brilhante, mas é bem agradável e rendeu a Paul seu primeiro top 10 na Billboard em 20 anos.
4. Happy with You — É Paul sendo bastante pessoal. A canção fala de como ele está feliz (com a atual esposa, Nancy) e como deixou para trás os dias de excessos de drogas e álcool. A melodia é bem característica de McCartney, com um riff de violão que remete vagamente a Blackbird, mas com uma produção que lembra canções do álbum New (2013). Outra boa parada na viagem.

I sat round all day
I used to get stoned
I liked to get wasted
But these days I don‘t
‘Cause I’m happy with you
I got lots of good things to do, ooh yeah

5. Who Cares — Outro pop/rock bastante agradável. Parece uma daquelas músicas que Paul faz com um pé nas costas. Serve para mostrar que ele ainda pode fazer bons vocais com a sua voz de rock.
6. Fuh You — A música mais indecente do disco. Indecente pelo conteúdo da letra, deixo claro. A única composição em parceria (com Ryan Tedder, do OneRepublic) é a mais moderninha do disco. Não é a primeira investida de McCartney no tema (lembram de Hi Hi Hi?), mas é curioso vê-lo querendo apenas sexo, aos 76. Essa é daquelas que vai conquistar fãs e haters na mesma proporção. Velhinho safado!


7. Confidante — Violão e climão folk na primeira parada menos inspirada de Paul. A letra é outra daquelas nas quais Paul abre o coração, dessa vez para falar sobre alguém (amigo ou amor) do passado. Vai ter gente gostando da canção, mas não me tocou.
8. People Want Peace — Vira e mexe Paul saca uma canção pacifista. Normalmente não funciona muito e dessa vez não é diferente. Dispensável.
9. Hand in Hand — Outra balada ao piano. Apesar de menos inspirada que I Don’t Know, não chega a comprometer. É o Egypt Station voltando aos trilhos.
10. Dominoes — Talvez a canção de Egypt Station que mais vai receber opiniões diferentes. Para uns será uma das melhores canções do disco, enquanto outros a considerarão pobre. Fico entre os primeiros. Dominoes é daquelas que me imagino ouvindo daqui a muitos anos.
— Uma das coisas interessantes sobre canções é que muitas vezes elas vêm depois de uma discussão com alguém e ela aparece como uma reação a isso. Essa é a história de Dominoes. É uma canção sobre como as coisas estão bem, mesmo quando não parecem estar — explicou Paul.

11. Back in Brazil — Chegamos ao momento que deve(ria) nos encher de orgulho. Infelizmente a canção é um dos momentos mais fracos do disco. A historinha de uma brasileira que se apaixona por um gringo tem uma levada de piano elétrico que lembra Sérgio Mendes ou a canção Keep Coming Back to Love (lançada por Macca em 1993), mas não chega a lugar nenhum.
Não é bossa nova, samba e nem tem clima de Olodum. Vai ganhar clipe com imagens gravadas na Bahia, vai ser tocada nos próximos shows no Brasil, mas vai ser rapidamente esquecida.
Uma pena.


12. Do It Now — Outro momento que poderia ser evitado. A música não é terrível, mas fica a impressão de que Paul tem coisa melhor no seu arquivo de composições não lançadas. Não emociona.
13. Caesar Rock — Paul roqueiro de novo. Anima e dá novo fôlego para continuar a viagem. Não chega a ser um clássico, mas agrada. Bom vocal.
14. Despite Repeated Warnings — Tem cara de épico. Com seus quase sete minutos, a canção meio que repete uma estrutura já usada em outros momentos (Band on the Run e Uncle Albert/Admiral Halsey, para citar dois ótimos exemplos).
Suas várias mudanças de clima e ritmos — num estilo ópera-rock — e a sua crítica (velada) ao atual presidente dos Estados Unidos, fazem da canção uma forte candidata a ser lembrada por muitos como um dos momentos memoráveis de Paul McCartney.
Não chego a ser tão otimista, mas reconheço o valor da faixa.
15. Station II — A vinheta que deveria encerrar a viagem é, assim como Opening Station, uma colagem de sons de uma estação de trem. No fim, um riff de guitarra nos leva para…
16. Hunt You Down / Naked / C-Link — Outro medley onde Paul usa o seu talento para juntar diferentes melodias. O poderoso riff de guitarra nos leva para o melhor momento roqueiro de Paul.
Uma ótima maneira de terminar a viagem regular de Egypt Station (há duas outras canções que só estão na versão deluxe do disco).

Nem tão moderno

No fim das contas, a produção de Greg Kurstin — responsável pelo sucesso Hello, de Adele, entre muitos outros — nem deixa o som de Paul McCartney tão moderno (ainda bem). Na verdade, o tom mais moderno parece estar em Fuh You, única faixa onde ele não estava no controle.

Decadência das gravadoras

Enquanto Paul e seu time se esforçam para promover da melhor maneira possível novo trabalho, com aparições em programas de TV, rádio e shows secretos, é triste ver a decadência das grandes gravadoras, que obrigam jornalistas a procurar o material necessário para escrever uma resenha decente em locais alternativos.

Uma viagem que precisa de algumas audições

No fim das contas, Egypt Station é um disco razoável para os padrões de McCartney e bom para o atual cenário musical. Não chega ao nível de Ram (1971), Band on the Run (1973) ou Flaming Pie (1997), mas é bem melhor do que Wild Life (1972), Driving Rain (2001) ou McCartney II (1980). Fica ali, perto de Back to the Egg (1979) e Memory Almost Full (2007).
Aviso: não pare apenas na primeira audição. Egypt Station é daqueles álbuns que parecem pouco interessantes no primeiro momento, mas que vão crescendo mais a cada vez que ouvimos.

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