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Festival de Cinema Italiano – “Morrison Café” e o espelhamento da ascensão e queda

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Em “Morrison Café”, o jovem aspirante ao sucesso Lodo (Lorenzo Zurzolo), que toca em uma banda de rock residente no bar romano do título, cruza o caminho de Libero Ferri (Giovanni Calcagno), um ex-astro do rock com uma carreira estagnada, que tenta retornar ao sucesso, mas acaba se fechando cada vez mais em si mesmo. O encontro dos dois serve como um estímulo mútuo para seguir em frente, mas às vezes também uma comparação difícil entre gerações e comportamentos muito diferentes.

E esse é o cruel espelhamento. As mesmas angústias da queda são vivenciadas pela ascensão. Lodo tem problemas financeiros, comuns à idade, sobretudo na Europa Mediterrânea. Nesse departamento ele conta com o pai (Andrea Renzi), um médico mais interessado em flertar com mulheres do que com as questões do filho, que ele acredita que se resolvem apenas com o abrir da carteira.

No caminho do jovem há também a provocadora e ambígua aspirante a atriz Giulia (Carlotta Antonelli), sua colega de apartamento com quem se envolve.

Lodo lida com a insegurança em relação à real viabilidade do sucesso, enquanto Libero, apesar de se deitar sobre os louros do sucesso, enfrenta crises criativa e amorosa. A insegurança é em relação à possibilidade de voltar a ser o que fora outrora. A escalada ao sucesso é tão cruel quanto sua manutenção, é o que o filme quer mostrar.

O jovem Lorenzo Zurzolo com uma interpretação econômica transparece as hesitações de um jovem encontrando seu lugar no mundo. Já Giovanni Calcagno carrega um pouco na tinta melancólica de seu personagem, mas ainda assim extrai êxito na composição.

O diretor Frederico Zampaglione (de Shadow – Na Escuridão) narra a história como uma cinebio. Baseado no romance “Dove tutto è a metà”, que Zampaglione escreveu ao lado de Giacomo Gensini (os dois também escreveram o roteiro do filme juntos), o filme não deixa de ter um quê autobiográfico. O cineasta é egresso do meio musical, ele liderou a banda de pop italiano Tiromancino. Inclusive as canções que aparecem no filme são de sua autoria.

No entanto, essa intimidade com a seara sobre a qual versa acaba também revelando a fragilidade da narrativa. Zampaglione parece muito mais interessado em captar a atmosfera, e se ater a detalhes do meio musical do que propriamente se aprofundar no drama dos personagens, que em vários momentos desliza no clichê, mesmo com uma competente direção de atores.

Ainda assim, “Morrison Café” não deixa de ser uma válida reflexão sobre os tortuosos caminhos da fama, seja na música ou em qualquer meio artístico, com os pés fincados na realidade, apoiado em interpretações e narrativa naturalistas.

Nota: Bom – 3 de 5 estrelas

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