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“Mad Max: Estrada da Fúria” e o cinema velho modernizando o cinema atual

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Quando o universo Mad Max surgiu de mansinho há mais de 30 anos, ele se impôs na indústria hollywoodiana como um corpo estranho. Sua apropriação do gênero era tão feérica que não é exagero dizer que acabou por redefinir a potencialidade dos filmes de ação, nos anos 80.

Agora, o cineasta George Miller, mais uma vez, investe na sua caótica visão alegórica do mundo, com Mad Max: Estrada da Fúria, onde também podemos traçar paralelos com passado, uma vez que o filme não deixa de ainda ser um corpo estranho num mundo tão despersonalizado como o que vivemos.

Mad Max, versão século XXI é nitroglicerina pura. George tem tanto domínio sobre sua franquia, que o envernizou com as artimanhas do passado (o filme tem poucos efeitos), mas com um detalhamento do presente (a edição de som e imagem são primordiais). Mas o que mais ele entrega é exatamente a perfeita conjunção entre o entretenimento e a consistência dramática, sem sacrificar um ou outro. Se na superfície parece que a história se resume a uma grande perseguição, o roteiro vai injetando humanidade na adrenalina com que seus personagens vão se desenvolvendo e retraindo da aridez histérica de tudo aquilo (por isso até que não dá para concordar com algumas críticas generalizadas que se têm feito ao trabalho de Tom Hardy, numa outra vertente ao consolidado com Mel Gibson).

Basta prestar atenção na personagem icônica de uma excelente Charlize Theron. Mas o êxito todo é de George, que demonstra muito arrojamento técnico na condução da atualização de sua obra. Repare na beleza (das cenas de batalha e ação, em meio a um deserto vivido e árido, e em como isso fortalece a história como um todo.

Mad Max: Estrada da Fúria absorve elementos do western onde é mais nocivo: na necessidade da bravura frente ao desespero de se manter vivo. Essa referência se faz presente o tempo inteiro na trama. Por isso que, ao final, damos o braço a torcer: George Miller faz o seu cinema antigo da forma mais moderna e competente. Seu mundo não é idealizado, mas sim encarado de frente. E o fôlego perdido durante toda a insana produção, ganha vida ao nos deparamos que sempre haverá um Miller para provar que o estranhamento (e a força) são ótimos pontos de partida de um bom corpo estranho. Como o filme o é.

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