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Andriu Freitas fala do desafio de montar o monólogo “Absolvição”

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Andriu Freitas em Absolvição
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Com “Absolvição”, o ator Andriu Freitas faz um importante e ousado movimento em sua carreira. Não somente por montar o primeiro monólogo de sua trajetória, mas também por tratar de um tema delicado, porém importante de ser abordado: a pedofilia na igreja católica. Para isso, Andriu reuniu um time de profissionais de referência nas artes cênicas, sob a direção do veterano e premiado diretor Daniel Herz.

O ator encara o desafio de dar vida a um personagem complexo e moralmente ambíguo. A peça traz as confissões de um homem movido por um propósito obsessivo: caçar padres pedófilos e fazer justiça com as próprias mãos. Com um enredo instigante, reviravoltas e revelações, o monólogo levanta questões profundas sobre ética e justiça, provocando o público a refletir: ele é um anjo vingador em uma missão divina ou simplesmente um assassino? A peça estreia no dia 7 de março no Espaço Abu, em Copacabana, com sessões de sexta a domingo no mês de março.

Sendo visto recentemente em novelas em canais abertos (Mania de Você, Volta Por Cima, Elas por Elas), Andriu tem uma carreira que transita entre teatro, TV e cinema. Agora, no teatro, ele mergulha em um solo que exige total entrega, transitando entre momentos de tensão psicológica e passagens de uma crueza quase documental. Vivendo uma rotina intensa de ensaios, Andriu conversou com o jornalista Rodolfo Abreu, revelando um pouco desse momento e os bastidores da montagem de “Absolvição”. O ator se prepara para entregar uma performance intensa e visceral, em um espetáculo que promete não deixar ninguém indiferente.

Confira a entrevista.

Rodolfo Abreu: Como o texto de “Absolvição” chegou até você e porque o escolheu para o seu primeiro monólogo?

Andriu Freitas: Eu estava começando a pesquisar alguma coisa para produzir e eu cheguei até o Diego Teza, falei com ele que eu queria mais ou menos, uma peça com dois, três atores, ele me apresentou algumas coisas na temática que eu queria. Eu super curti, inclusive são até possíveis projetos para o futuro. Mas aí, um belo dia ele me ligou e falou: “cara tem um monólogo aqui que eu lembrei de você, dá uma olhada”. Peguei e, quando eu acabei de ler, eu já liguei para ele de volta e falei: “cara, eu quero esse monólogo”. Eu acho um super desafio, não estava pensando mesmo em monólogo, mas eu gostei do tema, achei muito provocativo e bem forte! Acho que tem tudo para dar certo e cá estamos.

Rodolfo Abreu: Com relação a montagem no Brasil, a peça terá alguma modificação ou adaptação em relação ao texto original?

Andriu Freitas: A gente está fazendo uma pequena adaptação de acordo com a nossa leitura com a peça, o Daniel (Herz, diretor) trouxe desde o começo uma provocação que eu não posso falar muito para não dar spoiler, mas uma pequena adaptação, muito pouco, trazendo até um pouco para o nosso contexto, para o nosso entendimento. Então a gente fez uma pequena adaptação sem mexer em nada do curso da história, sem mexer em nenhuma informação, só realocou algumas coisas.

Rodolfo Abreu: A peça fala de um assunto muito importante, que é a pedofilia na igreja católica.  Como você acha que essa montagem contribuirá para esse debate aqui no Brasil?

Andriu Freitas: Pois é, o tema é muito forte. Quando li pela primeira vez o monólogo, eu já fui capturado, porque é um assunto muito importante e eu acho pouco falado, tanto no teatro quanto no audiovisual. Eu sou muito conectado com a minha família, tenho quatro sobrinhos que eu amo de paixão. Esse é um assunto que me toca em muitos lugares. Crianças… eu já relaciono com os meus sobrinhos. Então já me dá um arrepio só de pensar sobre esse tema, sabe? Então acho que é importantíssimo falar sobre isso, falar para não se repetir. Para ser discutido, para ser elaborado e nunca deixar para lá, porque é uma coisa que é recorrente e acontece muito, infelizmente.

Rodolfo Abreu: O seu personagem se comporta como um “anjo vingador”, fazendo justiça com as próprias mãos. Como o monólogo pretende apresentar esse dilema que envolve ética e justiça?

Andriu Freitas: Pois é… é bem complexo defender o personagem. Sempre é uma jornada difícil, porque a gente tem que realmente defender o personagem… E aí, como você defende um cara que faz justiça com as próprias mãos? Ele tenta reparar um erro cometendo um outro erro. Eu acho que no texto a gente vai deixar claro quem ele é, porque que ele faz isso, e o mais importante: não existe uma defesa para nenhuma brutalidade. O que a gente está colocando na peça é justamente o dilema do que é certo, do que é errado.  Pensamos nas dores, o que que as pessoas conseguem fazer com as suas dores ao longo da vida, qual é o rumo que essas pessoas tomam de acordo com seus traumas passados. Não queremos exaltar nenhum tipo de violência, mas ele está contando uma história, e a história dessa personagem vai para esse lugar aqui… é trágico. Acho que é uma peça para todo mundo sair de lá refletindo… sobre o dilema da justiça divina e da justiça humana. A gente pensar sobre as instituições da nossa sociedade, para pensarmos sobre a empatia em relação ao olhar pro próximo e a dor do outro.

Rodolfo Abreu: Em termos de atuação, o que é mais desafiador para você em um monólogo?

Andriu Freitas: O maior desafio para mim do monólogo é essa coisa inédita de eu não ter ninguém comigo no palco para trocar. O teatro para mim sempre foi isso, você está trocando ali com um ator ou com alguns atores. Então você vai se alimentando pelo outro ator, você vai dando esse ritmo… e o monólogo não tem ninguém. Teremos a plateia, obviamente, tenho os objetos em cena, tenho o cenário… mas o meu maior desafio está sendo esse. Na minha preparação estou me alimentando de muitas coisas para me dar base, para me ajudar a entrar e acessar cada sentimento que eu preciso acessar. Esse está sendo o meu maior desafio. Eu achei que ia ser o texto, de decorar, mas não foi. Realmente conforme a gente vai preparando o texto ele realmente vem, tanto em cena com um, dois, três atores ou mesmo sozinho.

Rodolfo Abreu: Como tem sido o trabalho de direção do Daniel Herz e de direção assistente da Carol Santaroni durante o processo dessa peça?

Andriu Freitas: 
Nossa, o processo todo está sendo muito fantástico! O Dani eu já conhecia de outros trabalhos, mas é a primeira vez, de fato, que a gente trabalha juntos assim em um projeto: eu e ele. E ele tem uma direção muito cuidadosa, muito objetiva. Sabe o que quer e isso ajuda muito os atores que gostam de ser dirigidos. Sou ator porque adoro ser dirigido. Então está sendo incrível, ele é muito generoso. Já falei isso outras vezes, mas ele de fato pega na mão e vai junto. Esse time não podia ser diferente. A Carol, que é a nossa diretora assistente, é fantástica também. Ela tem uma visão que às vezes ela tá parada olhando e solta uma coisa muito inédita, em um caminho às vezes diferente ou o oposto que a gente estava pensando. Ela tem agregado muito ao projeto, que tem a cara dela também. Ela e o Dani tem uma parcela de anos, mas cada um com suas pontuações e suas marcas. Então, enfim, está sendo incrível o processo com os dois.

Rodolfo Abreu: Você também é o idealizador dessa montagem de “Absolvição” e investiu em um time de talentos para esse trabalho. O que fez você escolher esses profissionais?

Andriu Freitas: Nossa, a equipe… eu estou com uma equipe dos sonhos, isso é fato! E está fazendo total diferença no meu processo. Tem uma entrevista da Fernanda Torres já muitos anos atrás, que alguém pergunta pra ela sobre o que ela prefere: trabalhar em teatro, cinema ou TV. E ela responde que tanto faz, que o importante é ter uma equipe legal, uma equipe boa. E eu estou vivendo isso na pele. Essa é a minha equipe toda é muito maravilhosa. O Dani já conhecia, então quando eu apresentei o texto para ele, ele já curtiu. Me ligou na hora e a gente já começou a trocar coisas sobre o texto. Antes de acertar qualquer coisa, ele já veio com várias ideias. E a Carol já veio junto, porque ela também já trabalha com o Dani há muito tempo. E aí o resto todo do time vem de indicações de amigos próximos. E hoje em dia é muito difícil você indicar qualquer profissional. Então eu acho que eu fui já escolhendo uns que eu conhecia e que eu já gostava do trabalho e todo mundo foi se agregando. Foi o que formou o time dos sonhos mesmo.

Rodolfo Abreu: Recentemente você fez participações em telenovelas: “Elas por Elas”, “Volta por Cima”, “Mania de Você” e também na série “Reis”. Como você se enxerga nessa linguagem e é um caminho que você pretende continuar trilhando?

Andriu Freitas: Ah, com certeza. São linguagens muito diferentes, mas eu gosto de lugares muito diferentes de cada linguagem, tanto do cinema, na TV e no teatro. Eu sou fascinado por teatro, acho que tem uma mágica que, pra mim, é exclusiva do teatro. Mas ao mesmo tempo eu amo fazer TV, amo fazer cinema. Realmente são lugares muito diferentes pra mim, tanto em termos de preparação, quanto do dia a dia mesmo. Mas pretendo fazer, continuar fazendo, que venham mais oportunidades para o audiovisual, tanto para TV, quanto para o cinema.

Rodolfo Abreu: Pudemos ver sua atuação no cinema, incluindo o filme “Aro”, também dirigido pelo Daniel Herz e com atuação conjunta com Carol Santaroni. A experiência de vocês três gravarem esse filme contribuiu para trabalharem juntos em “Absolvição”?

Andriu Freitas: Pois é, lá em 2022 a gente gravou um filme juntos, eu, Dani e Carol. Tinha mais gente na equipe e foi ótima a experiência. Foi muito legal, novamente muito diferente as linguagens,um outro lugar. Mas a gente já tinha essa sintonia que foi fácil ser restabelecida quando viemos para esse projeto. A gente já se conhecia, já se gostava, já se entendia. Então foi até mais fácil para a gente chegar em alguns lugares porque não precisávamos daquele primeiro passo para ir se conhecendo.

Rodolfo Abreu: Além de “Absolvição”, você está com outros projetos na carreira no momento ou programado para os próximos meses?

Andriu Freitas: Sim, eu estou com um projeto. A gente tem que estar sempre com um projeto na manga. Tenho esse projeto “Absolvição” que está estreando agora em março e já estou com outro projeto que eu começo a ensaiar agora em abril, no máximo. A gente vai estrear essa outra peça no finalzinho do primeiro semestre, lá pra junho, julho no máximo. Uma peça de comédia com drama… é um outro lugar… oposto dessa peça “Absolvição” o monólogo. Em breve vai ter mais coisas aí acontecendo também.

Rodolfo Abreu: Como acredita que será a reação e a receptividade do público com o monólogo “Absolvição” aqui no Brasil?

Andriu Freitas: Olha, esse é um dos meus maiores, não sei se medo ou dúvida, quanto a essa peça/monólogo. Como o público vai receber? Porque é um tema forte e provocativo. Eu gosto de teatro do entretenimento. Esse vai ter entretenimento, mas principalmente vai fazer todo mundo sair de lá se questionando sobre os temas. Porque não é uma coisa só que acontece na peça. Tem algumas coisas que vão fazer as pessoas saírem de lá pensando e refletindo. Então eu espero que as pessoas entendam a crítica, que reflitam, porque eu acho que esse é o grande lance de monólogo. Esse monólogo tem que vir com uma força para alguma coisa, em prol de alguma coisa. E esse texto eu acho que tem essa força. Essa é a minha aposta: que as pessoas vão entender e vão refletir.

Sobre “Absolvição”
O monólogo “Absolvição” traz as confissões de um homem, vivido por Andriu Freitas, movido por um propósito obsessivo: caçar homens pedófilos que têm algo em comum e fazer justiça com as próprias mãos. De autoria do irlandês Owen O’Neill e tradução de Diego Teza, tem direção do premiado Daniel Herz. A peça aborda ética e justiça, questionando se vale tudo para salvar vidas inocentes. Ele é um anjo vingador em uma missão divina ou simplesmente um assassino? Com um enredo impactante, Absolvição estreia em 7 de março, de sexta a domingo, no Espaço Abu, em Copacabana. Sucesso em sua estreia no Festival Fringe de Edimburgo, a peça rapidamente conquistou a aclamação da crítica. Em seguida foi apresentada nos palcos de Nova York e Londres, chegando pela primeira vez no Brasil.

Temporada: 7 a 30 de março | sextas e sábados às 20h; domingos às 19h
Local: Espaço Abu – Nossa Senhora de Copacabana, 249, loja E – Copacabana
Ingressos: https://linktr.ee/absolvicao.peca

Ficha Técnica:
Atuação e Idealização: Andriu Freitas
Texto: Owen O’Neill | Tradução: Diego Teza
Direção: Daniel Herz
Diretora Assistente: Carol Santaroni
Cenário e Figurino: Wanderley Gomes
Iluminação: Aurélio de Simoni
Trilha Sonora: Pedro Araujo
Design Gráfico: Luiz Stein
Fotografia: Victor Hugo Cecatto
Operador de luz: Marcelo de Simoni
Operador de som: Daniel Studart
Direção de Produção: Bárbara Montes Claros
Assessoria de Comunicação: Rodolfo Abreu / Interativa Doc
Apresentado por: Pirata Produções

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