Em 2020, Jhoao Junnior, ator e diretor teatral, convidou a Zózima Trupe para um projeto de diálogo de seu espetáculo Portar(ia) Silêncio com o espetáculo A Cobradora, do próprio coletivo em parceria com a atriz Maria Rosa. A ideia de apresentar as duas montagens em sequência na mesma sessão foi se desdobrando e culminou com o espetáculo ENTRE(VISTAS), O MASCULINO MIGRANTE E O FEMININO ERRANTE – Uma sobremontagem dos espetáculos Portar(ia) Silêncio e A Cobradora, que estreia dia 13 de setembro, sexta-feira, às 20h, na SP Escola de Teatro da Praça Roosevelt.
A nova montagem chega aos palcos em um conceito, criado pelos dois artistas – que assinam a direção ao lado de Anderson Maurício –, de “sobremontagem”, que abre um diálogo cênico entre as obras, visto que elas partem dos mesmos referenciais de pesquisa no que diz respeito ao teatro documental e a pesquisa dramatúrgica a partir de relatos orais de histórias de vida.
Em ENTRE(VISTAS), O MASCULINO MIGRANTE E O FEMININO ERRANTE – Uma sobremontagem dos espetáculos Portar(ia) Silêncio e A Cobradora Jhoao Junnior e Maria Rosa buscaram as ressonâncias e discrepâncias no que diz respeito aos conteúdos levantados pelas dramaturgias de seus espetáculos propondo um diálogo entre encenações por meio de cenas, narrativas e movimentos de uma montagem dentro do outra. Assim, A Cobradora abre espaço para que imagens de Portar(ia) Silêncio criem novas camadas de cena em sua encenação e vice-versa, já que as duas obras revelam nuances profundas e históricas de um país subalterno que se revela através dos homens e mulheres que trabalham nas portarias dos edifícios e nas catracas dos ônibus.
Para o novo espetáculo foi criado um prólogo autoficcional no qual acontece um tipo de entrevista entre os artistas e personagens. Para Jhoao Junnior o prólogo para além de ser uma entrevista é um ato de estar entre as vistas. “No palco, eu estou entre as vistas das pessoas, entre os olhares, e também entre as vistas com a Maria. Então a gente se provoca nesse lugar, como dois artistas migrantes que moram em São Paulo”, conta ele.
Já a atriz Maria Rosa pontua que tanto ela quanto Jhoao agora estão habitando as duas obras. “Não é só uma obra seguida da outra, mas também uma obra que permeia a outra em uma relação com dois corpos em cena.”
Portar(ia) Silêncio é um espetáculo criado a partir de narrativas de vida de homens migrantes nordestinos à cidade de São Paulo que trabalham como porteiros de edifícios da capital paulista. A obra lança olhos sobre os efeitos da migração na vida do indivíduo partindo de uma abordagem crítica sobre a palavra falada, o sotaque e os efeitos do colonialismo tendo a profissão de porteiro como metáfora para problematizar o servilismo dos dias atuais e a relação entre pobreza invisibilidade e migração.
A Cobradora põe no palco as histórias de mulheres, migrantes em sua maioria, que trabalham como cobradoras do transporte público da cidade de São Paulo. Em cena, a mulher cobradora, a trabalhadora das catracas, mas também a insubmissa, que cobra seu direito pela dignidade, igualdade e justiça. Os relatos, de histórias orais, biografias colhidas nos ônibus da cidade, estão sempre permeados pela violência, amor, solidão e sonhos que lhe foram fecundados e roubados, evidenciando mulheres únicas e ao mesmo tempo universais.
Serviço:
ENTRE(VISTAS), O MASCULINO MIGRANTE E O FEMININO ERRANTE – Uma sobremontagem dos espetáculos Portar(ia) Silêncio e A Cobradora
De 13 a 22 de setembro, sextas-feiras e sábados às 20h e domingo às 18h.
SP Escola de Teatro – Praça Franklin Roosevelt, 210 – Bela Vista, São Paulo.
120 minutos | 14 anos | Gratuito (ingressos disponíveis na plataforma Sympla).