O empoderamento individual deve estar atrelado ao coletivo, segundo a escritora e feminista negra Joice Berth. O projeto Mãos Empoderadas pode exemplificar isso. Em sua segunda edição, desta vez, na Zona Sul da cidade (a primeira ocorreu na Zona Leste), reuniu durante dois meses cerca de 60 mulheres artesãs para ressignificarem por meio da arte a forma como lidam com suas produções artesanais tornando-as ainda mais inovadoras e rentáveis com a finalidade de conquistar melhores condições de trabalho e de vida.
A variedade de produtos oferecidos ao público na feira das artesãs compõe a identidade da criação local das mulheres da Zona Sul. Apresentações artísticas de grupos ou companhias teatrais compostas só por mulheres integram a programação que também almeja ampliar o diálogo centro-periferia, os olhares e as referências estéticas e de expressão servindo de fontes de pesquisa para as criações de seus produtos artesanais.
A experiência proporcionada pelo projeto através de oficinas variadas e de acabamento, rodas de conversas (batizada de Roda das Sabidas), apresentações artísticas, sessões de arteterapia e troca de experiências e saberes foram instrumentos para que o aprendizado ou aperfeiçoamento de conceitos como planos de negócios; precificação de produtos; apresentação e identificação das peças; vendas on-line, e a importância da sustentabilidade na criação de produtos se tornassem mais palatáveis para as artesãs, tornando-as mais familiarizadas com a cadeia produtiva até chegar no consumidor final.
É na feira marcada para acontecer no dia 25 de maio, parte do Mãos Empoderadas, que as artesãs vão experimentar o contato com o público já com o aprendizado aplicado em seus produtos.
“Eu estou animada com tudo, conheci várias pessoas, estou focando no aprendizado que é muito importante, focada na feira e também animada para a divulgação da marca então para mim é o conjunto da obra, tudo está sendo muito proveitoso”.
Maria de Lourdes Môs, artesã participante do Mãos Empoderadas
O conceito base, entretanto, que permeia o Mãos Empoderadas, como diz o próprio nome é dar sentido a um termo bastante difundido atualmente: Empoderamento feminino. De acordo com os princípios da ONU sobre empoderamento, a liderança feminina promove igualdade de gênero, oportunidades iguais, garantia de saúde, segurança e liberdade em cenários de violência. Empoderar é retomar poder, é ter controle da própria vida, adquirir habilidades e agir, é estar em estado de ativismo para atuar de forma consciente contra as injustiças que afetam as mulheres. É poder compreender os modelos impostos, as condições hierárquicas, as opressões e ter consciência do lugar a ser ocupado na sociedade, se conscientizando politicamente, sem estar vinculado a um partido ou corrente política.
“Roberto Rosa, artista que concebeu o projeto, sintetiza: É apropriar-se de suas capacidades transformadoras, reconhecer que faz parte de algo, ter sentimento de pertencimento”.
O Mãos Empoderadas quer despertar ou reafirmar o sentimento de solidariedade entre as mulheres e valorizar a independência financeira a partir da profissionalização de seus ramos de atividade criando e fortalecendo liberdades pessoal e profissional.
“As mulheres, durante o período em que se reúnem semanalmente em torno de um mesmo propósito criam território em que laços profundos e sentimentos de empatia despertam para transformar a máxima histórica e culturalmente estabelecida da rivalidade inerente às mulheres, ideia que acaba sendo um instrumento de desunião utilizado e incentivado pelo patriarcado”, conclui Rosa.
Bordar Memória e Caminhos
Uma das oficinas ministradas pela artesã paulistana Adriana Nalim no projeto é a de resgate da técnica têxtil de origem chilena: As Arpilleras.
A palavra significa tecido áspero ou grosso como a juta que embalam batatas. No Chile, os bordados das mulheres feitos nesses tecidos passaram a ser fonte de renda e forma de expressão de denúncia contra os abusos cometidos durante a ditadura militar de Augusto Pinochet, entre 1973 e 1990.
O legado das arpilleristas chilenas, promove o diálogo e a partilha, em busca de caminhos individuais e para a coletividade”, explica Adriana Nalim.
Aprovado no PRO-MAC Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais; Realização: Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Patrocínio: META
Produção: ESTIMA CULTURAL.
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