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Últimos dias de Ana Holck no Paço Imperial

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Termina neste domingo, dia 24 de março de 2024, a exposição “Entroncados, Enroscados e Estirados”, com obras inéditas da artista carioca Ana Holck, que marcam uma nova fase na sua reconhecida e destacada trajetória de 22 anos nas artes. Com curadoria de Felipe Scovino, são apresentados oito trabalhos, pertencentes às três séries que dão nome à mostra. As obras, que foram produzidas este ano, em porcelana e aço inox – materiais até então nunca utilizados pela artista –, transitam entre a ideia de pintura e escultura.

“Os objetos criam uma situação transicional, variam entre serem bidimensionais e tridimensionais, colocando-se de maneira duplamente vetorizada, ou seja, tem uma proximidade com a pintura – não só pelo fato de estarem presos à parede, mas especialmente pela grafia destes trabalhos – e, ao mesmo tempo, não deixa de ser uma escultura”, afirma o curador Felipe Scovino.

Os novos trabalhos se aproximam muito dos temas sobre os quais a artista já vem se debruçando desde o início de sua trajetória: a cidade, o urbano, a arquitetura e a construção civil. No entanto, se nas obras anteriores Ana Holck utilizava materiais pré-fabricados, industrializados, como blocos de concreto, tijolos e vinis adesivos, nesta nova fase a artista resolveu experimentar, pela primeira vez, materiais mais maleáveis. “Não sou ceramista, a porcelana para mim é um meio a mais para fazer escultura e por isso mesmo sempre quis junta-la com outros materiais”, conta a artista, que usa uma fita de aço inox maleável, com mola, para essa combinação com a porcelana. Formada em Arquitetura e Urbanismo, a artista utiliza em suas obras muitas questões ligadas a sua formação, mas de forma diferente. “Minha percepção do espaço com base na temporalidade da experiência vem da arquitetura, mas procuro desconstruir o que aprendi, aceitando o improviso, o acaso, o acidente”, diz.

Apesar do encanto pelo novo material, Ana Holck encontrou na cerâmica um desafio às suas obras monumentais, que marcam sua trajetória. A solução para aumentar a escala veio a partir de peças que se encaixam, com módulos e repetições. O aço inox entrou como um elemento de ligação. “Este metal que utilizo tem uma mola, que dá estrutura, o que me atraiu bastante. Os “arranjos” dos tubos de porcelana geram um núcleo a partir do qual o metal se expande no espaço, gerando um desenho que não é muito controlado, no qual há um dado de surpresa”, conta a artista que, apesar de utilizar um material bruto e maleável, ela o subverte, transformando a porcelana em tubos de bitolas regulares, pré-estabelecidas, através de uma prensa chamada extrusora. “A passagem pelo equipamento apaga as digitais deixadas pela manipulação do barro, tornando-o impessoal, indo contra sua natureza moldável e imprimível”, ressalta. Além disso, os materiais são afastados de sua funcionalidade original: a cerâmica, que em seu uso cotidiano costuma conter algo, em potes, vasos e louças, aqui torna-se passagem para o metal, que cria desenhos no espaço.

Esses desenhos, por sua vez, criam um jogo de luz e sombra. “A incidência da luz sobre os trabalhos projeta uma sombra que, por sua vez, reforça a ideia de dinâmica e de velocidade das três séries e causa também uma sensação de prolongamento desta grafia no ambiente, criando desenhos no espaço”, afirma o curador Felipe Scovino, que destaca, ainda, que, apesar de não serem trabalhos cinéticos, a ideia de dinamismo e velocidade explora esse aspecto. Além disso, ele ressalta que há, nestes trabalhos, uma referência ao construtivismo russo e ao minimalismo norte-americano.  

SÉRIES EM EXPOSIÇÃO
Na mostra são apresentadas as séries: “Entroncados”, “Enroscados” e “Estirados”.

“Entroncados”, série composta por esculturas feitas a partir da junção aleatória de partes de tubos de porcelana, que são previamente produzidos pela artista. Em seguida, são passadas, por dentro deles, uma única fita de aço inox, gerando um inesperado desenho no espaço. “Antes frágil, a porcelana é agora testada pela força da mola da fita de inox, que percorre e tensiona o tubo de cerâmica, a parede, o ar. A passagem de uma única fita de metal que percorre os tubos gera um segundo desenho, não premeditado”, conta a artista, que vê neste título a questão urbana, sugerindo vias que se entroncam.

Já “Enroscados” são caracterizados pela repetição de módulos curvos, onde a fita de metal completa os desenhos circulares sugeridos pelos tubos em porcelana. “Nesta série temos um movimento repetitivo e obsessivo do metal percorrendo os tubos como calhas, que cumpre este papel de errar, desviar, sair do eixo. Me interessa a repetição dos elementos e sua organização no espaço”, afirma Ana Holck.

A última série, “Estirados”, se relaciona com a primeira, mas é composta por elementos lineares, criando uma tensão maior entre a rigidez da cerâmica e a maleabilidade do metal.

SOBRE A ARTISTA
Ana Holck (Rio de Janeiro, 1977) é formada em Arquitetura e Urbanismo pela FAU/UFRJ (2000), com Mestrado em História pela PUC-Rio (2003) e Doutorado em Linguagens Visuais pela EBA-UFRJ (2011). Inicia sua trajetória nos anos 2000, com instalações de grande formato, entre as quais, Elevados, no Paço Imperial (2005), Bastidor, no CCBB RJ (2010) e Splash, no SESC Pinheiros (2010). Entre suas principais mostras individuais estão Perimetrais, MdM Gallery, Paris (2013); Perimetrais, Zipper Galeria, São Paulo (2012); Ensaios Não Destrutivos, Anita Schwartz Galeria, Rio de Janeiro (2012); Os Amigos da Gravura. Museu da Chácara do Céu (2010). Entre as coletivas estão: Coleção Edson Queiroz, Fortaleza (2016), Edital Arte e Patrimônio, Paço Imperial (2014), Mulheres nas coleções João Sattamini e MAC Niterói (2012) Lost in Lace, noBirmingham Museum and Art Gallery, Inglaterra (2011); 1911-2011 Arte Brasileira e depois na Coleção Itaú Cultural. Paço Imperial (2011); AGORA simultâneo, instantâneo. Santander Cultural, Porto Alegre (2011); Trilhas do Desejo, Rumos Artes Visuais 2008/2009. Itaú Cultural (2009); Borderless Generation: Contemporary Art in Latin America. Korea Foundation, Coréia do Sul (2009); e NOVA ARTE NOVA. CCCBB RJ e SP (2008/2009). Possui obras nos acervos do Itaú Cultural, Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM Rio, MAM São Paulo, MAC Niterói, entre outros. A artista está no recém-lançado livro “Remains – Tomorrow: Themes in Contemporary Latin American Abstraction”, organizado por Cecília Fajardo-Hill.

SOBRE O CURADOR
Felipe Scovino é professor Associado do Departamento de História e Teoria da Arte e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRJ. Foi curador de exposições como Lygia Clark: uma retrospectiva (cocuradoria com Paulo Sérgio Duarte, Itaú Cultural, São Paulo, 2012), Cao Guimarães: estética da gambiarra (Cavalariças, Parque Lage, Rio de Janeiro, 2012), Emmanuel Nassar: estes nortes (Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, 2012), Barrão: Fora daqui (Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, 2015), Narrativas em processo: Livros de artista na coleção Itaú Cultural (Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2019), Franz Weissmann: o vazio como forma (Itaú Cultural, São Paulo, 2019) e Abraham Palatnik: a reinvenção da pintura (co-curadoria com Pieter Tjabbes, CCBB, Brasília, 2013; CCBB, Rio de Janeiro, 2017), que recebeu o prêmio de melhor exposição pela APCA em 2014. É organizador de diversos livros e ensaios sobre arte brasileira para catálogos e periódicos nacionais e internacionais. Foi professor visitante no Departamento de Artes da Universidad de Chile, em 2014, e da University of the Arts, Londres, em 2021. Escreve regularmente para Artforum desde 2017 e escreveu para a Folha de S. Paulo entre 2015 e 2016. Entre 2017 e 2020 foi curador do Clube de Gravura do MAM-SP.

Serviço: Exposição “Entroncados, Enroscados e Estirados”, de Ana Holck, no Paço Imperial
Exposição: até 24 de março de 2024
Paço Imperial
Praça XV de Novembro, 48 – Centro – Rio de Janeiro – RJ
Terça a domingo, das 12h às 18h.
Entrada gratuita

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