Homenagem à verve de Paulo Autran, Sérgio Mamberti volta aos palcos, o berço de sua história.
Dirigido por Cássio Scapin, quem atuou na última montagem brasileira há 15 anos contracenando com Paulo Autran, assume as rédeas deste novo espetáculo e descola a própria experiência permitindo a voz pessoal dos atores, Sérgio Mamberti e Ricardo Gelli, o primeiro quem trabalhou no Castelo Rá-tim-bum.
O contexto de Visitando Sr. Green, muito bem amarrado textualmente por Jeff Baron é permitido por meio de um acidente de trânsito o encontro dos personagens Sr. Green (Sérgio Mamberti) e Ross Gardner (Ricardo Gelli).
Ross Garner, é culpado pelo acidente e imputado a realizar visitas ao Sr. Green, judeu, solitário e viúvo, pelo período de seis meses.
O quadro deste encontro, se dá na relutância ao novo e resistência ao contemporâneo.
Seria estranho, não fosse familiar, pelo prisma dos valores conservadores.
Portanto, os atores desta montagem vestem muito bem o encontro, as diferenças decorrentes ao atributo dos personagens e o desenvolvimento à contra gosto dos valores de cada um.
A aproximação do empresário tem a cautela de uma fidelização do cliente, o jovem Ross, previamente conhece o perfil de Sr. Green pela assistente social que o supervisiona e sensivelmente como quem aplaca um público-alvo segmentado, traz alimento kosher para Sr. Green..
Por tempos de miséria histórica e alimentação afetiva da saudosa esposa falecida, Ieta, a refeição é porta de entrada para a relação dos personagens, afinal diz Sr. Green, “Desperdiçar comida boa, não, não.”
O costume e hábito de Sr. Green se mostra obsoleto nas renovações materiais do apartamento: a torneira da cozinha rangendo a décadas anos, o telefone desligado para não pagar pelas ligações por engano, esquecendo-se de porventura sua necessidade, listas telefônicas acumuladas, correspondências não verificadas, papéis e sacos plásticos pela casa e poeira nos móveis.
Ross Garder, vem para sacudir os valores de Sr. Green que cultua a voz de Deus, mas incrédulo a natureza sexual e escolha afetiva de Ross.
A intolerância de Sr. Green é tamanha que associa a natureza que não concorda, à regra de seu Deus, compara, como etnia condenada ao holocausto agora, às diferenças de gay e casamento de judeu com gói como réplicas de ditador, que castra a vida.
Sérgio Mamberti, vive Sr. Green, na inquietação do desagrado, conveniência no que agrada, severidade ao defender as crenças e cômico não fosse trágico a resolução contra a luta das liberdades individuais. O tom do ator é comedido mas intenso, simpático e romântico e confortável no personagem dando importância as importâncias.
Ricardo Gelli, traz o tino adaptado, vive a prudência da verdade, a justificativa do juízo e a conformidade que confronta.
Cenário assinado por Chris Aizner é bem composto, traz a ambiência real do interior de um apartamento com, cozinha e sala com vista em Nova York, adequado desleixo do personagem solitário e viúvo.
Figurino de Fábio Namatame veste Sergio Mamberti como Sr. Green no conforto e despretensão de uma vida caseira. Enquanto que Ross Gardner traz vestimentas no âmbito profissional, informal e esportivo de alta classe trajado elegantemente por Ricardo Gelli.
Wagner Freire desenha a luz bem como o coração do personagem cai em pesar no tocante das emoções. As cores de fundo explicitam a natureza do visitante. Mesmo numa linha óbvia a concepção trabalha a favor dos atores.
Trilha sonora deliciosa de Daniel Maia, é o grande espírito festivo de Sergio Mamberti.
Serviço:
Local: Teatro Jaraguá
Rua Martins Fontes, 71 – Centro,São Paulo/SP
Terça a quinta: 16:00 às 19:00h
Sexta: 16:00 às 21:30h
Sábado: 16:00 às 21:00h
Domingo: 15:00 às 19:00h
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