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"Embalando a própria dor em frente às madrugadas de amor": Magra de Ruim, o primeiro livro de Sirlanney

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A vida é difícil e a quadrinista Sirlanney sabe disso. Aliás, não só sabe como se joga nela feito um pula-pula, se diverte e se cansa. Aí pula de novo, se diverte, se sente livre, as vezes se machuca, as vezes sai ilesa e restaurada. O livro Magra de Ruim reúne quadrinhos e ilustrações de energia romântica porno-dramática e neuroses acerca de uma realidade inconstante e fudida.

Não sabia como começar essa resenha por medo de parecer superficial demais. O trabalho da Sirlanney me toca nos meus clichês, no meu óbvio: minhas paixões, meus medos, minhas paranoias, meu tesão. Ou seja, o que eu sou, o que eu aspiro, o que me inspira e da onde não há fuga: o universo que habita meu interior.
Magra de Ruim, sua primeira antologia, é como um espelho d’água: reflete a realidade à sua volta. E você sabe que pode mergulhar nesse espelho, se assim escolher. Pode ser o seu reflexo nesse espelho. Transbordamento psicológico. Investigação existencial. Florescimento feminino. É água, é emoção.

Suas tirinhas, insistindo no assunto de espelhos, apresentam bi-polaridades. Ao mesmo tempo que traz narrativas de frustração amorosa, representa também a transcendência através do amor sexual. A falta de dinheiro caminha de mãos dadas com a busca de reconhecimento/fama. A escassez de ideias se orgulha de ser irmã do talento natural para quadrinhos.
Não estamos falando só de quadrinhos ou de quadrinhos autobiográficos. Quem vê somente isso no seu trabalho ou está cego ou não aprendeu a ver. Seus quadrinhos, tal como Laerte, lovelove6, Moebius, Dahmer e muitos outros, conseguem realizar (in)conscientemente uma biografia coletiva. Você pode não se identificar com a temática deles, mas você será influenciado por algum elemento ali presente; seja o vício no facebook, o feminismo libertário, os SMS safados, a procrastinação, a traição…
“Dizem que o tempo ameniza
Isto é faltar com a verdade
Dor real se fortalece
Como os músculos, com a idade
É um teste no sofrimento
Mas não o debelaria
Se o tempo fosse remédio
Nenhum mal existiria”
Sirlanneyano esse poema de Emily Dickinson. Também há vestígios sirlanneyanos no trecho de Poesia, de Sophia de Mello Breyner Andersen, que escolhi para título dessa resenha. Claro que é uma brincadeira essa caracterização, mas poderia não ser porque de fato a mina conseguiu inaugurar, com seu talento e sua doidera, um gênero autêntico e inadiável nos quadrinhos brasileiros.
Outra grande coisa nos seus quadrinhos é o fato de servirem de inspiração principalmente para mulheres, o que têm motivado muitas a começar a desenhar, escrever e produzir. Considerando que fomos esquecidas, mal representadas e oprimidas por muito tempo por esse mercado, o grito dela está perturbando uns e dando espaço para o grito de outras.

Por fim, acho importantíssimo pontuar o carinho que a Sirlanney tem com suas leitoras e leitores. A mina não só responde os comentários na sua página Magra de Ruim no facebook, mas também faz à mão e com o maior cuidado as embalagens e recompensas para as apoiadoras do seu projeto no catarse (incluindo o nome de todas no livro do qual vos falo).
Dia 22 de outubro, no Rio de Janeiro, ocorre o Lançamento do livro Magra de Ruim junto com o Lançamento de Pigmaleão, do quadrinista Diego Sanchez. O evento vai rolar na Comuna.
Você pode adquirir o livro lá ou na venda online através do Circuito Ambrosia, nesse link.

Para Sirlanney,
Coração, nós o esqueceremos!”, de Emily Dickinson
“Coração, nós o esqueceremos!
Eu e ti, hoje à noite.
Deves te esquecer do acalento que ele nos deu,
Que eu me esquecerei do lume.
Quando o houveres feito, diga-me te suplico,
Que aos meus pensamentos toldarei;
Apressa-te! Que enquanto te tardas,
Dele ainda me lembrarei!”

Fotos: Salvador Camino
(obrigada pelo registro, ficaram muito boas)

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