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Festival do Rio: Cuba, Uma Odisséia Africana

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Tome ar antes de afundar-se em “Cuba, uma Odisséia Africana”. O documentário despeja uma quantidade formidável de informações e não permite lacunas de atenção.

Diferentemente do que é feito em muitos documentários, que seguem um roteiro com introdução, clímax e desfecho, com um personagem a seguir a clássica “saga do herói”, fazendo uma certa adaptação das normas clássicas de roteiro ficcional para o documentário, tornando-o mais leve e mais próximo à linguagem e estética à qual o grande público está acostumado, “Cuba, uma Odisséia Africana” vai direto ao ponto sem rodeios ou floreios.

Uma voz em off enquanto assistimos a cenas de guerra ou gráficos de estratégia, além de entrevistas, compõe o essencial da película. Puxando a brasa para os cubanos, mas sem sentimentalismo ou exagero, o diretor Gilles Bovon nos ensina sobre o movimento de libertação das nações africanas, sobretudo do Congo, Guiné-Bissau e Angola, mostrando o xadrez geopolítico na região, parte do terceiro mundo, palavra que na concepção original se referia aos países não alinhados a quaisquer das duas superpotências da Guerra Fria. O terceiro mundo era, portanto, a fronteira para expansão dos mundos capitalista e comunista.

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Ao contrário do que se pode pensar, Cuba não interveio na África como representante da União Soviética. Ao contrário, foi sem aviso, por razões mais ideológicas do que políticas, irritando os russos. No Congo, por exemplo, a atuação se limitou a pouco mais do que uma dúzia de homens, atuando junto aos guerrilheiros locais, capacitando-os em táticas de guerrilha e com eles lutando. Entre os enviados, um homem de óculos e sem barba, operando sob pseudônimo, mas que em realidade se chamava Che Guevara. Sua presença na região deveria ser mantida em absoluto sigilo, sob pena dos guerrilheiros sofrerem forte ataque pelo governo local, patrocinado pelos norte-americanos.

A atuação dos cubanos em Guiné-Bissau é citada rapidamente, tendo se limitado a um apoio logístico, sem envio de homens.

Angola é o país sobre o qual o documentário faz uma análise mais detida, dedicando cerca de metade dos seus 118 minutos.

Tendo obtido independência negociada dos portugueses, ficou decidido que o grupo político que estivesse no poder em 11 de novembro de 1975 seria internacionalmente reconhecido como legítimo governante. Isso, evidentemente, jogou a nação em guerra civil. São três os grupos que disputavam o poder: UNITA, FNLA e MPLA, este de orientação marxista-leninistas.

A FNLA conseguiu apoio dos Estados Unidos, ao passo que a UNITA da África do Sul. Ambas as nações preocupadas em impedir o avanço do comunismo sobre o território africano. Cuba, evidentemente, abraçou a causa da MPLA e uma sangrenta guerra civil teve lugar.

É curioso notar que os membros de órgãos de espionagem ou dirigentes das nações estrangeiras envolvidas não se constrangem em afirmar seus interesses ao intervirem nos conflitos, demonstrando uma visão utilitarista de mundo. Entretanto, os cubanos, passadas décadas, pisam na tecla de buscarem o bem do povo angolano e africano em geral, porque não tinham interesse nos seus bens, mas na sua qualidade de vida. Enfim, dizem que a ideologia era o móvel de suas ações. Acreditar ou não fica a cargo do espectador. O fato é que os cubanos moveram mundos e fundos para dar a vitória ao seu grupo predileto, enviando dezenas de milhares de soldados ao território angolano. Houve, portanto, uma inversão da estratégia adotada no Congo, em que a presença era clandestina. Agora, ao contrário, os cubanos realizavam uma ação oficial e bastante visível.

Narrada a história, termina o filme como um livro didático. Sem frases de efeito.

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