Esta semana o entrevistado é o Fernando Duarte, responsável pela tirinha da Mariana e Claudinha, Banger Broders, PSI, entre outras.
Nascido em: Limeira/SP, mas hoje sou Uberlandino – Moro em Uberlândia há 15 anos. Nasci em 1972.
HQD: Porque quadrinhos?
FD: Sempre li e gostei muito de quadrinhos. Desde criança tive acesso a muitos gibis – Pato Donald, Tio Patinhas ,Turma da Mônica, etc, e um dos meus principais passatempos era pegar um caderno, canetinhas hidrocor e desenhar. Então acho que desenhar quadrinhos foi mais uma continuação natural de uma coisa que sempre gostei de fazer do que uma opção profissional pensada.
HQD: Você já publicou no jornal Correio e atualmente publica no site www.paginacultural.com. A princípio seu trabalho com quadrinhos independentes na web veio mais tarde. Correto?
FD: Sim, com certeza. Comecei a desenhar quadrinhos há muito tempo, em fanzines, bem antes de publicar no jornal. Daí, depois de bater em muita porta de jornal com uma pasta de desenhos em baixo do braço, conseguiu uma oportunidade no Jornal Correio, em 1994, através do Maurício Ricardo – que na época era editor chefe do Jornal e o charges.com.br nem sequer sonhava-se em existir. Publiquei tiras diárias e ilustrações lá por 4 anos.
Publicar quadrinhos na web aconteceu apenas ano passado, quando senti vontade de retomar os quadrinhos – depois de ter me dedicado tanto tempo unicamente à animação.
HQD: No momento seu maior sucesso são as animações no www.charges.com.br. Quando começou a desenhar, seu sonho já era trabalhar com animação e quadrinhos, ou havia um segmento preferido?
FD: Bom, o sucesso das animações do charges é 100% do Maurício, e a gente (a equipe) só fica lá atrapalhando…rs.
Mas eu também sempre gostei muito de desenho animado, só que nem chegava a cogitar trabalhar com isso por que fazer animação era uma coisa muito distante, por que requeria uma estrutura complexa e cara, que eu nunca tinha sequer visto a não ser em documentários sobre. A coisa mudou quando o Maurício me apresentou ao Flash… e hoje posso dizer que as duas coisas caminham lado a lado nos meus planos; tanto que no meu blog eu trabalho alguns personagens com quadrinho (Mariana&Claudinha e PSI) e outros em animação ( The BangerBroders).
HQD: No seu site, você diz que com as tirinhas da Mariana & Claudinha, voltou a produzir quadrinhos. Trata-se de uma criação totalmente independente? Como surgiram as personagens?
FD: A Mariana surgiu nas páginas do Jornal Correio, e é uma criação totalmente independente – quero dizer, eu tinha liberdade total de criação nas tiras.
Ela surgiu como uma adolescente meio maluquete, hetero, que só queria saber de curtição e baladas… Um dia, ela conheceu a Claudinha e “ficou”com ela, sem maiores pretensões… Mas aconteceu que as tiras com as duas foram ficando legais, o assunto foi rendendo e logo a Claudinha virou oficial, e a tira da Mariana virou a tira da Mariana&Claudinha.
HQD: Qual o seu ritmo de criação?
FD: Bom, não tenho um ritmo muito constante agora (como em relação à época do jornal) por que preciso conciliar as tiras com outros projetos – o charges e minha empresa de animação.. Mas procuro manter pelo menos duas tiras semanais (Mariana e PSI) e uma animação quinzenal… É claro que ainda furo muito com essa minha programação, mas estou me esforçando para mantê-la.
HQD: Como costuma trabalhar? Escreve algo antes ou sai desenhando e criando os textos a partir das imagens e vice-versa?
FD: Um pouco dos dois. Começo com uma ideia não totalmente definida da tira (sei mais ou menos por onde ela vai e como acaba) e vou desenhando… Conforme desenho, vou me envolvendo e vão surgindo novas falas, novas situações ou detalhes. Já aconteceu de eu começar uma tira e ela virar duas, ou três – por que a idéia cresceu tanto que não cabia em uma só.
Também não gosto muito de rascunhar..já vou desenhando direto. Acho que isso garante um desenho menos rígido, mais expressivo.
HQD: Qual o material de trabalho predileto? O que prefere usar para desenhar?
FD: Ainda gosto de desenhar no papel, embora no charges a gente use apenas a tablet. A tablet facilita muito o trabalho de animação, mas ainda é um tanto limitada em alguns aspectos, como no controle da expessura da linha.
Mas posso dizer que mesclo os dois… Tanto na Mariana quanto nos BangerBroders, faço eles na caneta e os fundos, sem traço, na tablet.
HQD: Quais os quadrinhos que mais curte na web, e no formato impresso?
FD: Hum… tem muita coisa. Comecei lendo muito Chiclete com Banana (do Angeli), Circo (que me apresentou muitos quadrinistas ótimos como Laerte, Luis Gê, Glauco, etc…) e Níquel Náusea( Fernando Gonçalez é, com certeza, uma grande influência no meu traço). Depois fui diversificando até chegar hoje ao Peanuts, do Charles Schultz. Gosto muito do traço simples dele.
Na web acho que preciso conhecer mais gente… mas tem o Dr. Pepper, com um senso de humor muito legal e, em animação, o inglês LowMorale, que é demais.
HQD: Fora criar tirinhas e ilustrações, o que curte fazer nas horas vagas?
FD: Brinco dizendo que meu trabalho é desenhar, e nas horas vagas eu desenho.. mas é mais ou menos por aí mesmo… Mas curto muito andar de bicicleta e nadar… o que é ótimo para quem passa a maior parte do tempo sentado na frente de um computador.
HQD: Possui outro site ou link, seu ou não, que nos recomendaria?
FD: Tem o “blog oficial”da Mariana&Claudinha ( www.blogdamariana.com) … O Low Morale: (www.lowmorale.co.uk) .. O Dr. Pepper (www.drpepper.com.br) e o Brazil Cartoon, com muitas notícias sobre cartum e Salões de Humor pelo Brasil e mundo (www.brazilcartoon.com) .
HQD: Possui ou possuía alguma meta para seus quadrinhos? Ainda tem planos para novas criações, seja em HQs, ou em outras mídias?
FD: Bom, como disse, essa volta aos quadrinhos aconteceu mais por satisfazer uma vontade minha que estava deixada de lado do que uma pretensão comercial, mas gostaria de voltar a publicar as tiras na mídia impressa( jornais e revistas), e ampliar o alcance das tiras.
Tenho também outros personagens na gaveta, tanto para quadrinhos como animação… e quem sabe surja a oportunidade de soltar todos eles…
HQD: Você se vê trabalhando no estrangeiro, desenhando ou escrevendo outros títulos?
FD: Gostaria de publicar em outros países, com certeza, mas gostaria de continuar desenhando meus personagens… Acho que tanto os quadrinhos como a animação ainda são bem mais valorizados “lá fora” que no Brasil, embora isso tenha mudado bastante de uns anos pra cá.
HQD: Alguns criadores querem apenas entreter, outros pretendem deixar alguma mensagem, ou abrir a mente das pessoas para outros pontos de vista. Como você se vê?
FD: Em princípio minha intenção é apenas entretenimento também, mas às vezes acontece de abordarmos um assunto que não dá para passarmos incólume. A questão da homossexualidade da Mariana, por exemplo, não foi proposital – criar um personagem homossexual para expor e debater o assunto; mas, na medida em que estou abordando um assunto destes, procuro ter o cuidado de passar uma imagem bem humorada e positiva e, se as histórias servirem para abrir a mente das pessoas para a naturalidade do assunto e ajudar a melhor compreensão e aceitação, ficarei muito orgulhoso e feliz.
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