Kou Ichinomiya é um jovem empresário que tem apenas um lema na vida, nunca dever nada a ninguém. Nada mesmo. Somente em último caso ele aceita ajuda e, se isso acontecer, ele logo oferece uma bela recompensa por isso, à qualquer custo. Esse é o lema do clã Ichinomiya, uma família conhecida por ser bastante persuasiva e bem sucedida nos negócios. O enredo de Arakawa Under The Bridge se inicia justamente quando, após uma série de eventos bobos numa ponte – é quase impossível fugir disso em animes – Kou tem a sua vida salva por uma garota chamada Nino.
Relutante por receber ajuda e ansioso por recompensá-la e sumir dali, ele chega a lhe oferecer uma casa, já que ela mora ali mesmo, debaixo da ponte, num barraco improvisado. Nino não se interessa por nenhuma de suas propostas de recompensa, até por que ela se diz feliz morando ali e não precisa mais de nada, apenas uma chance de voltar para o que ela afirma ser seu planeta natal, Vênus. O único desejo que passa por sua cabeça é pedir a Kou que seja o seu amante e que ambos vivam debaixo da mesma ponte. Mas ela lhe pede isso como quem pede um guaraná por falta de um refrigerante de cola, sem qualquer romantismo ou tensão sexual.
Ele percebe que Nino não é uma pessoa normal e tem sérias dúvidas quanto à sua saúde mental, mas ele tem que seguir o seu lema e recompensá-la. Kou arruma sua própria moradia em outra área abaixo da ponte e, aos poucos, começa a conhecer os outros moradores das margens do rio Arakawa, chegando a uma conclusão: não são um bando de indigentes vivendo na miséria, mas sim uma comunidade de lunáticos comandados por um homem fantasiado que afirma ser um kappa – criatura mítica de lendas japonêsas. O Chefe, como ele é conhecido, batiza cada novo morador com um novo e bizarro nome e Kou passa a se chamar Recruta, por nenhum motivo aparente.
Baseado no mangá homônimo de Hikaru Nakamura, Arakawa Under The Bridge é uma comédia que mistura um universo inspirado em Alice no País das Maravilhas – embora sem nenhuma referência direta, ainda bem – com o humor absurdista e levemente sci-fi de Kurt Vonnegut. A série acaba discutindo veladamente algumas questões sociais como os otakus (fanáticos por anime/mangás), os hikikomoris (pessoas que passam anos sem sair de casa), as questões de orgulho e honra do povo japonês e, mais obviamente, preconceito e escapismo em tempos modernos. Mas não se trata de maneira alguma de uma série para se levar à sério, até por que em nenhum momento a série se leva à sério e isso fica bastante claro desde o primeiro minuto dos 13 episódios.
Me agrada muito o fato de que Kou e Nino passam longe de ser um casal normal, mas também não tem um relacionamento tão bizarro, ou mesmo meloso. O melodrama e o romantismo praticamente inexistem na série. E mesmo com dois protagonistas interessantes, o forte da série são mesmo os coadjuvantes como Sister, um ex-soldado que se veste de freira e anda sempre fortemente armado, e Hoshi, um (péssimo) compositor que se diz uma estrela do mar (é o formato de sua cabeça) e morre de ciúmes de qualquer pessoa que chegue perto de Nino. Vale frisar, também, que os minutos finais de cada episódio – após os créditos – são imperdíveis, sempre trazendo algum gag de um personagem diferente e alguns segundos em live action com atores interpretando os personagens. Sempre morro de rir ao ver o homem (de carne e osso) vestido de kappa.
Faz tempo que não me dedico tanto aos animes quanto costumava fazer a uns 6-7 anos atrás, até me recuso a assistir séries com mais de 26 episódios, para não ser tomado de raiva pelos inúmeros episódios fillers, mas de vez em quando me aparecem algo como essa Arakawa Under The Bridge, que não são sensacionais, mas dão um belo e despretensioso entretenimento. A série foi transmitida pela TV Tokyo e teve seu último episódio transmitido no Japão em 28 de junho, mas já anunciou a produção de uma segunda temporada.