Quando pensei em entrar para o Ambrosia, fui convidado para ajudar nas áreas de RPG, Anime, Mangá e o que mais fosse de cultura japonesa em geral. Foi bastante curioso que não apenas nestas áreas, mas em quase todas as outras, nós autores, sempre nos revezamos, empolgadamente acabamos nos arriscando uma vez ou duas nas outras áreas de interesse do site. Mas sempre havia uma pulga atrás da orelha que me coçava o pensamento constantemente: “Onde diabos eu vou conseguir falar sobre a cultura, historia e sociedade do Japão em si?” Hoje, ao acordar dei-me conta que a pergunta estava errada, o correto seria perguntar-me ” Quando diabos eu vou conseguir falar sobre a cultura, historia e sociedade do Japão?”.
Eis que ao acompanhar o alvorecer das colunas do Felipe (Olhares & Observações), do JR (Movie Tunes) e do Lam (O Que Eu Acho?) deparei-me com o ninho apropriado para repousar minha tentativa ousada de abordar os temas propostos. Inauguro agora, então, o Olhos Puxados.
Minha proposta, ou tentativa, é a de esclarecer ao nosso público as minúcias que existem na cultura japonesa como um todo. Falar sobre animês, mangás e música japonesa com um olhar mais profundo é uma das expectativas de abordagem. Mostrar em algum ponto as mudanças históricas e as diferenças culturais são outras possibilidades, mas no fim poderemos concretizar o maior propósito de todos: informar, aprender e questionar.
Para iniciar essa conversa simples, meu tema de abertura escolhido é a diferença na linguagem corporal entre os japoneses e os brasileiros. Acredite em mim é um tema bastante expansivo, então atei-me a inicialmente conversar sobre o riso e os movimentos com as mãos. Cada “grupo” destes gestos japoneses possui semelhanças com o seu correspondente na cultura brasileira, mas nem sempre com o mesmo significado.
Vale frisar aqui que nós, brasileiros, somos um povo com linguagem gestual intensa e em certos modos, espalhafatosa, por assim dizer. Usamos as mãos para movimentar, apontar, indicar, negar, afirmar com tanta freqüência quanto a própria fala, que muito naturalmente não nos apercebemos disso. Do lado nipônico, temos um contexto muito contrário ao nosso, é como dizem alguns, como se os japoneses vivessem dentro de um “caixão” e seus movimentos não pudessem ultrapassar tais limites.
As razões dos japoneses serem assim tão comedidos oriundam-se de princípios muito internos a cerca de respeito ao espaço individual de cada um. O cuidado para com o que outro pensa e o como ele vai se sentir com devidas palavras ou atitudes são intrinsecamente ligados ao gestual. Desse princípio, por exemplo, podemos imaginar que visando o bem maior do indivíduo com quem se fala, é mais provável que um japonês sorria, do que simplesmente seja-lhe direto e critique-o ou ofenda-o. Desse tópico mais ligado à má interpretação dos sentimentos e atitudes eu comentarei em um outro artigo, com mais detalhismo.
Vamos nos ater aos gestos manuais e o sorriso dos japoneses com exemplos comparativos :
Gestos Manuais
Quando se está irritado, é natural para os japoneses um gesto com significado totalmente diferente para nós. Colocam-se as duas mãos em cima da cabeça e faz-se um par de chifres, com a simbologia de um demônio agindo nos pensamentos da pessoa em questão, mas já no Brasil, coitado daquele a quem se refere esses chifres né ?
Um dos gestos usados no Brasil como ” bacana”, muito utilizado por surfistas com o polegar e o dedo mínimo destacados, no Japão significa um sinal de namoro entre duas pessoas.
A nossa ” banana”, gesto dos braços em forma de cruz, onde um deles mostra o punho elevado é sinal de força e proeza física para os japoneses.
E um especial, o meu preferido, que nós usamos, a figa, é para eles o mesmo que levantar o dedo médio e apontar pra alguém com ar ofensivo!
O Sorriso
Há vários tipos de situações antagônicas onde o sorriso aparece na sociedade japonesa, se compararmos com nosso modo ocidental de pensar. Em um texto que li na faculdade, não me recordo agora infelizmente o nome, lembro-me de ter sido ressaltado pela professora um parágrafo onde uma mulher cujo filho havia morrido na guerra sorria muito fortemente para contar à namorada do mesmo sobre o ocorrido. Em verdade, segundo o comentário de minha professora, aquilo não era uma atitude de deboche pois pela cultura japonesa, há um certo contexto onde não se pensa em exteriorizar os sentimentos tristes.
É como se pensássemos assim: “já que não posso fazer nada para mudar essa dor, pelo menos não a mostrarei a outros para que não sofram junto comigo”.
Outro caso por exemplo diz-se de um ex-samurai que fora empregado de um estrangeiro. Sem compreender muito bem a língua japonesa o mesmo não conseguia explicar com eficiência as ordens que requeria para o seu empregado, o que causava situações péssimas em seu desempenho. Certa vez após reclamar com o mesmo por algum erro cometido, o empregador estrangeiro sentiu-se ofendido com o sorriso esboçado pelo mesmo, e continuou a gritar com o mesmo incessantemente, até cansar-se e mandá-lo embora. No dia seguinte o corpo do ex-samurai foi encontrado com uma faca no pescoço, pois o mesmo não conseguia suportar a humilhação de não cumprir bem suas tarefas.
Em resumo, as diferenças culturais existem e estão muito além de palavras, pois o corpo fala. Este assunto não acaba aqui, muito pelo contrário, estou apenas começando, até a próxima !